Os responsáveis da segurança nacional norte-americana acreditam que os serviços de inteligência de países como a Rússia ou a China estavam cientes da presença de documentos sensíveis na casa de Trump.
A casa de Donald Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, onde há um mês o FBI fez uma busca para recuperar centenas de documentos confidenciais da Casa Branca que o ex-Presidente escondeu, era um alvo dos serviços de inteligência de vários países.
A 8 de Agosto, os agentes federais fizeram uma rusga à casa de Trump que foi autorizada por um juiz federal e pelo procurador-geral Merrick Garland. O objectivo era reaver parte dos mais de 300 documentos confidenciais que desapareceram e que o ex-chefe de Estado levou consigo indevidamente.
Entre os documentos desaparecidos estavam alguns referentes ao arsenal nuclear de outros países que são altamente confidenciais, estando a sua consulta reservada apenas aos membros do Governo e sendo precisa um autorização especial até para os conselheiros próximos da Casa Branca poderem ver o seu conteúdo.
Alguns dos documentos estavam assinalados com a sigla SAP (Special Access Programmes), que se referem a operações dos serviços de inteligência dos Estados Unidos e outros tinham a etiqueta HCS (Humint Control Systems), que abrange informações recolhidas por agentes de inteligência em países inimigos, cujas vidas podem estar em risco caso os documentos caiam nas mãos erradas e as suas identidades sejam reveladas, escreve o The Guardian.
O Director da Inteligência Nacional está já a elaborar um relatório sobre os riscos e fugas de informação que possam ter resultado da decisão de Trump de levar os documentos indevidamente e sem nenhuma segurança especial.
Em declarações à MSNBC, o ex-director da CIA, John Brennan, refere que os responsáveis pela segurança nacional estão a “abanar as cabeças” quando pensam sobre os danos que podem ter sido feitos.
“Tenho a certeza que Mar-a-Lago era um alvo da inteligência russa e de outros serviços de inteligência nos últimos 18 ou 20 meses, e se eles tiverem conseguido colocar indivíduos dentro das instalações e ter acesso às divisões onde esses documentos estavam e fazer cópias, eles teriam feito isso”, acrescenta.
Sue Gordon, ex-vice-directora da Inteligência Nacional, diz que Trump teve “informação à sua disposição durante um longo período de tempo que, caso seja usada em prol da sua agenda, pode ter consequências devastadoras para a segurança nacional”.
Brennan também questiona por que é que, dos milhares de documentos que passaram pelas suas mãos durante o seu mandato, Trump escolheu especificamente levar consigo informações dos níveis de confidencialidade mais alta.
“Que uso possível é que ele tinha para estes documentos para avançar qualquer uma das suas agendas pessoais, financeiras ou políticas? É isto que está a preocupar os profissionais da segurança nacional que agora têm de avaliar o risco de danos e tentar perceber exactamente o que pode ter sido comprometido”, considera.
A verdade é que pode mesmo já ter havido uma instância onde estes documentos sensíveis foram expostos. No mês passado, o Projecto de Denúncia do Crime Organizado e da Corrupção avançou que uma imigrante oriunda da Ucrânia chamada Inna Yashchyshyn se tornou próxima da família de Trump e foi convidada a visitar Mar-a-Lago, quando se fez passar por uma herdeira da família Rothschild.
Não há indícios de que Yashchyshyn era uma espia, mas o caso deixa claras as fragilidades de segurança na casa do ex-Presidente. Durante o seu mandado, duas mulheres chinesas também foram apanhadas em ocasiões diferentes a tentar entrar na residência, sendo que uma delas levava consigo quatro telemóveis, um computador e uma pen que continha malware.
Para além disto, a Trump Organization também abriu vagas de emprego para 87 funcionários estrangeiros em Mar-a-Lago, o que pode ter novamente exposto os documentos a espiões estrangeiros.