Primeira múmia egípcia grávida pode ter morrido de cancro

Uma análise às invulgares alterações no esqueleto facial de uma múmia egípcia de 2 mil anos indica que esta sofria de cancro nasofaríngeo. Na altura da morte, estava grávida de 28 semanas.

Em 2021, a equipa responsável por esta última descoberta – que junta profissionais do Projeto Múmias de Varsóvia e do Departamento de Oncologia da Universidade Médica de Varsóvia, ambos na Polónia -, revelou que aquela estava grávida quando foi mumificada, como lembrou a Live Science.

“A opinião dos radiologistas, com base na tomografia computadorizada, aponta para a possibilidade de alterações tumorais nos ossos”, disse o professor Rafał Stec, do Departamento de Oncologia da Universidade Médica de Varsóvia.

Os cientistas planeiam agora coletar amostras de tecido e realizar mais análises aos tecidos, de forma a detetar lesões. Depois, a ideia é compará-las com amostras de cancro retiradas de outras múmias egípcias, informações armazenadas em bancos de dados nos Estados Unidos (EUA) e no Reino Unido.

Segundo os autores, esse estudo pode contribuir para o desenvolvimento da medicina moderna, revelando a assinatura molecular do cancro. Também é esperado que a descoberta amplie o conhecimento sobre a evolução da doença e possa indicar novas direções de pesquisa, tanto no diagnóstico como no tratamento de tumores malignos.

A múmia, datada por volta do século I a.C., foi encontrada selada no sarcófago de um padre. Em abril de 2021, os investigadores divulgaram num estudo que as tomografias haviam revelado os restos de um feto dentro do seu ventre, tornando-a, assim, na primeira múmia grávida conhecida do mundo.

A equipa estimou que a mulher tinha morrido com 28 semanas de gravidez. Contudo, alguns peritos questionaram essa afirmação, sugerindo que o feto fossilizado poderia ser, na realidade, um pacote de embalsamamento deformado, colocado no corpo para substituir órgãos removidos durante o processo de mumificação.

Agora, a mesma equipa de investigação anunciou, numa publicação na página oficial do projeto, que a múmia sofria de cancro nasofaríngeo – uma patologia que afeta a boca, a cavidade nasal e a traqueia. Contudo, esses resultados ainda não foram revistos ou confirmados por testes químicos.

Os investigadores tomaram conhecimento do potencial cancro após uma reconstrução 3D do crânio da múmia, que revelou um buraco de sete milímetros atrás da órbita do olho esquerdo. Esta lacuna sugere que um tumor ou lesão pode ter crescido nessa zona e forçado o osso circundante a afastar-se do resto da órbita, disse à Live Science Marzena Ożarek-Szilke, codiretora do Projeto Múmia de Varsóvia.

Em alternativa, o buraco pode ter sido deixado por um cisto ou causado por cribra orbitalia, uma condição causada por anemia ou uma falta de ferro (comum em pessoas grávidas), que pode mudar a superfície das órbitas dos olhos, disse Ożarek-Szilke, arqueóloga e antropóloga da Universidade de Medicina de Varsóvia.

Porém, as pequenas deformidades adicionais nos ossos na cavidade nasal, maxilar e seios nasais fazem do cancro a causa mais provável, acrescentou.

Normalmente, seria impossível determinar o que causou as deformidades a partir de um crânio tão antigo. Mas como a múmia está tão bem preservada que ainda há vestígios de tecido mole nos seus ossos. Este tecido permitirá aos investigadores realizar testes histopatológicos para determinar se era mesmo cancro.

“O cancro pode ter sido a causa direta da sua morte”, empbora seja difícil precisar, apontou Ożarek-Szilke. É também possível que a gravidez tenha desempenhado um papel na sua morte, sublinhou a especialista.

Levada para o país europeu entre 1826 e 1827, a múmia pertence à Universidade de Varsóvia e é emprestada ao Museu Nacional de Varsóvia, sendo exibida junto com o sarcófago na exposição permanente da Galeria de Arte Antiga.

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