Um programa está a produzir réplicas de artefactos africanos através de impressão 3D. O objetivo final é impulsionar o repatriamento aos seus países de origem.
Depois do plano de Emmanuel Macron para devolver os artefactos roubados pelos franceses em África, na Alemanha também já se fez o mesmo e a Universidade de Cambridge já prometeu fazê-lo. Há um movimento a ganhar força que apela à devolução dos artefactos aos seus países de origem.
O Quénia é um dos países cujas tribos ancestrais produziram uma grande quantidade de artefactos que agora se espalham por diversos museus mundiais. São mais de 30.000 artefactos quenianos roubados ou comprados por europeus enquanto colonizavam a África Oriental.
Uma equipa de antropólogos quenianos e alemães está a imprimir réplicas em 3D destes antigos artefactos. Depois, visitam as comunidades de onde vieram para mostrar aos povos aquilo que um dia lhes pertenceu — e que, na opinião de muitos, continua a pertencer.
“É como uma repatriação digital. Podemos conectar as pessoas de volta com os seus objetos”, diz Juma George Ondeng, coordenador do projeto dos Museus Nacionais do Quénia, em declarações à National Geographic. “O nosso objetivo não é a restituição. Mas não estamos a impedir as comunidades de se envolverem neste tipo de conversa”.
A iniciativa faz parte do Invisible Inventories Program, uma tentativa de catalogar todos os artefactos do Quénia que estão fora do país.
John Ming’ala Obure pertence aos Luo, o quarto maior grupo étnico do Quénia. Ao ver a réplica 3D de um artefacto pela primeira vez, mostrou-se desiludido.
“Não parece o mesmo”, diz Obure. “É muito leve. E está a faltar a peça que envolve o queixo”. Em causa está um adereço feito de chifres de gnu e decorado com conchas, cujo original foi usado por um curandeiro Luo há mais de um século.
“Ponham estes no museu deles e tragam os originais para nós”, atira Obure. “Se os americanos e os europeus querem ver os originais, eles devem vir a África”.
O Museu de Colónia, na Alemanha, permitiu que os especialista fizessem digitalizações 3D de cinco dos seus artefactos quenianos. Os arquivos foram depois enviados para uma impressora 3D em Nairobi.
Ainda assim, nenhum dos envolvido no projeto acredita que os objetos 3D devem substituir os originais.
“O acesso digital não substitui o acesso físico”, diz Chao Tayiana, especialista queniano em património digital. Em vez disso, “é o início da consciencialização. Não há razão para você ter 50 dos mesmos objetos na cave de um museu e ainda agarrar-se a eles. É uma questão de poder”.
A artista plástica Ângela Ferreira diz que “não há volta a dar” e que Portugal terá de fazer o mesmo e devolver os artefactos às ex-colónias.
“Não há volta a dar. Portugal tem de devolver. E isso representa aceitar que se fez um erro e, dentro do possível, corrigi-lo. E esse processo há-de começar em 2022″, afiança Ângela Ferreira. “E os museus portugueses têm que se pôr a pau”.