A alga marinha gigante foi descoberta na Baía dos Tubarões, na Austrália Ocidental, e estende-se ao longo de 180 quilómetros.
Da próxima vez que se for mergulhar, veja de perto das plantas verdes brilhantes que se abanam com a corrente. Estas plantas são algas marinhas que produzem flores, fruta e sementes anualmente, tal como as suas familiares em terra.
Estas algas marinhas crescem de duas formas: através da reprodução sexual, que as ajuda a gerar novas combinações de genes e diversidade genética, e também ao estenderem as suas rizomas, as hastes debaixo do solo de onde emergem as raízes.
Para descobrirmos quantas plantas individuais estão a crescer numa alga, temos de testar o ADN. Uma equipa de cientistas fez isto nas algas marinhas de Posidonia australis, nas águas superficiais e ensolaradas na Baía dos Tubarões, na Austrália Ocidental.
O resultado chocou-os: era só uma planta. Uma única planta que se estendia ao longo de 180 quilómetros, o que a torna a maior na Terra.
Os cientistas recolheram amostras de dez algas marinhas ao longo da baía dos tubarões, em águas onde os níveis do sal variam desde a salinidade normal até quase o dobro do normal. Em todas as amostras, foram estudados 18 000 marcadores genéticos que mostram que 200 quilómetros quadrados das algas se expandiram de uma única semente colonizadora.
Como é que evoluiu?
O que torna esta alga marinha diferente de outras, para além do seu enorme tamanho, é que tem o dobro dos cromossomas dos seus familiares. Isto é aquilo a que os cientistas chamam um poliplóide.
Na maioria das vezes, a semente da alga vai herdar metade do genoma de cada um dos seus pais. Os poliplóides, no entanto, ficam com o genoma inteiro dos pais. São geralmente estéreis, mas podem continuar a crescer indefinidamente se não forem incomodados. Esta alga fez isso.
Que idade tem esta planta?
As dunas arenosas da Baía dos Tubarões ficaram inundadas há 8500 anos, quando o nível das águas subiu depois da última idade do gelo. No milénio seguinte, a expansão das algas marinhas gerou bancos costeiros rasos com a criação e a captura dos sedimentos, o que tornou a água mais salgada.
Também há muita luz nas águas da Baía dos Tubarões, assim como níveis baixos de nutrientes e grandes oscilações nas temperaturas. Apesar deste ambiente hostil, a planta prosperou e adaptou-se.
É desafiante determinar a idade exata da alga marinha, mas estima-se que a planta da baía dos tubarões tenha cerca de 4500 anos, com base no seu tamanho e ritmo de crescimento.
Porque é que isto importa?
No Verão de 2010 e 2011, uma onda de calor severa atingiu os ecossistemas ao longo da costa ocidental australiana. As algas marinhas da baía dos tubarões sofreram danos generalizados na onda de calor.
No entanto, algumas recuperaram, o que é algo surpreendente já que estas algas não aparentam reproduzir-se sexualmente — que normalmente é a melhor forma de se garantir a adaptação às mudanças nas condições.
Foram observadas flores das algas na Baía dos Tubarões, o que indica que estas são sexualmente ativas, mas as suas frutas (o resultado das relações sexuais bem-sucedidas das algas) são raramente vistas.
Uma única planta pode ser estéril. Isto faz com que o sucesso nas águas variáveis da baía dos tubarões seja confuso: as plantas que não têm sexo costumam ter níveis baixos de diversidade genética, o que reduz a sua capacidade de lidar com as mudanças nos ambientes.
Os cientistas suspeitam que a planta tenha genes que são extremamente adequados ao seu ambiente local, o que pode explicar porque é que não precisa de ser sexualmente ativa para ser bem-sucedida.
Mesmo sem ter flores ou produzir sementes, a planta gigante aparenta ser muito resiliente, já que vive em águas com grandes variações na temperatura (desde os 17.ºC aos 30.ºC em alguns anos) e nos níveis de sal.
Apesar destas condições variáveis e dos altos níveis de luz (que são tipicamente stressantes para as algas), a planta consegue manter os seus processos fisiológicos e prosperar. Como?
A equipa tem uma hipótese que sugere que a planta tem um número pequeno de mutações somáticas (mudanças genéticas menores que não passam para a descendência) ao longo dos seus 180 quilómetros que a ajudam a persistir.
No entanto, isto é só uma hipótese e os cientistas vão comprová-la com uma série de experiências que procurar decifrar como é que a planta realmente sobrevive.
ZAP // The Conversation