Ferdinand Marcos Júnior, filho do antigo ditador com o mesmo nome, deverá obter uma vitória esmagadora nas eleições presidenciais das Filipinas, de acordo com uma primeira contagem não oficial de votos. É o regresso ao poder da família mais infame da história recente do país.
Bongbong Marcos, como é conhecido, obteve mais do dobro dos votos do seu principal adversário, a actual vice-presidente das Filipinas, Leni Robredo, na primeira contagem dos votos, segundo os meios de comunicação locais citados pela agência francesa AFP.
Os resultados referem-se a quase metade das 70.000 mesas de voto do país, de acordo com a imprensa filipina que cita a Comissão Eleitoral.
Nesta eleição de uma volta, um candidato só precisa de obter mais votos do que os seus rivais para vencer.
A confirmar-se a vitória, Marcos Jr., de 64 anos, substituirá o controverso Rodrigo Duterte como Presidente das Filipinas por um único mandato de seis anos.
O pai do candidato, Ferdinand Marcos, foi deposto em 1986, após uma revolução popular que pôs fim a um regime corrupto e despótico de 21 anos. Marcos morreu em 1989, no Havai.
Com uma população de mais de 111 milhões de pessoas, maioritariamente católicas, a antiga colónia espanhola das Filipinas é um arquipélago do Sudeste Asiático com mais de 7.000 ilhas e ilhéus.
Bongbong pede para ser julgado pelas “acções” e não pelos “antepassados”
Já depois das notícias sobre a sua vantagem nas urnas, Bongbong Marcos, visitou o túmulo do pai no Cemitério Nacional dos Heróis em Manila. “O 10º e o 17º Presidentes da República das Filipinas”, escreveu no Instagram onde publicou imagens do momento.
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Numa nota oficial à imprensa, Bongbong Marcos pediu para ser julgado pelas suas “acções” e não pelos seus “antepassados”, prometendo também que será “um presidente para todos os filipinos”, conforme declarações citadas pela BBC.
O regresso dos Marcos ao poder pode acontecer com uma maioria absoluta histórica nas eleições presidenciais das Filipinas, algo que nenhum candidato anterior tinha conseguido.
Será um marco impressionante para o filho do ditador que foi deposto há décadas e cuja dinastia ficou marcada pela corrupção e por abusos dos direitos humanos.
Marcos “roubaram” milhões aos filipinos
Marcos pai e a família, incluindo um Bongbong com 28 anos, fugiram para o exílio no Havai em 1986 depois de uma revolta popular que o depôs do poder.
Durante os 21 anos no poder, a família Marcos terá desviado entre 5 a 10 mil milhões de dólares dos cofres públicos.
A Comissão Presidencial de Boa Governança (PCGG) que foi criada nas Filipinas após a revolta de 1986, só conseguiu recuperar cerca de um terço desses milhões, incluindo joias, pinturas valiosas e os famosos sapatos de Imelda, a mãe de Bongbong.
Ainda se tenta recuperar o resto e não se espera agora que, com a chegada de Bongbong ao poder, haja muito esforço nesse sentido.
Também há a questão das dívidas fiscais de milhões dos Marcos, outro processo onde Bongbong poderá ter intervenção decisiva.
Durante a campanha eleitoral, o filho do ditador apresentou mais promessas do que propostas concretas, nomeadamente falando em continuar a guerra de Duterte contra as drogas, mas dando a entender que usará métodos menos violentos.
Mas além da questão da corrupção, com os Marcos como o rosto do pior do país neste âmbito, há ainda os temas dos direitos civis e da própria liberdade de imprensa.
Ninguém sabe muito bem como vai Bongbong actuar neste âmbito, mas há mais receios do que esperanças. Até pela história do regime do seu pai que impôs a Lei Marcial, com terríveis abusos aos direitos humanos e perseguições aos adversários.
Desinformação para “reabilitar” nome da família
Durante a campanha eleitoral, Bongbong fugiu aos debates com os outros candidatos e recusou dar entrevistas. Assim, conseguiu evitar perguntas desconfortáveis sobre o passado da família, apostando antes numa campanha de desinformação nas redes sociais.
O The Washington Post destaca que o provável futuro Presidente das Filipinas apostou em “reabilitar” o nome da família Marcos através de “uma elaborada campanha de revisionismo histórico”, mostrando o regime do seu pai como uma era “dourada” de prosperidade e sem crime.
Essa campanha passou pela publicação de vídeos manipulados no YouTube e republicados nas redes sociais com o intuito de convencer os filipinos de que, no fundo, os Marcos foram injustiçados.
A investigadora Fatima Gaw do Departamento de Pesquisa em Comunicação da Universidade das Filipinas refere à BBC que há “um espectro de mentiras e distorção nestes vídeos”.
“Há uma negação total das atrocidades da era marcial. Há também muita distorção, alegações de progresso económico durante os chamados anos dourados das Filipinas”, nota ainda Gaw.
Além disso, Bongbong alimentou-se do mito de que a família Marcos tem uma riqueza imensa escondida em offshores, incluindo barras de ouro, para distribuir pelo povo filipino assim que voltar ao poder.
Face a este cenário, espera-se que Marcos continue a sua caminhada de branqueamento da reputação da família, enquanto tentará protegê-la de quaisquer responsabilidades pelos crimes cometidos no passado.
Aliança com a família Duterte
Bongbong beneficiou, nas urnas, da frustração da população com a incapacidade dos Governos pós-Marcos em melhorarem as condições de vida.
Além disso, ganhou com a divisão de votos entre os nove candidatos anti-Marcos.
Aos olhos das massas, Bongbong surge como o candidato “da mudança”, “prometendo felicidade e união a um país cansado de anos de polarização política e dificuldades pandémicas, e faminto por uma história melhor”, como constata a BBC.
Por outro lado, a aliança com a família Duterte também foi decisiva para o triunfo do filho do ditador.
Essa aproximação entre duas das famílias mais poderosas da história recente das Filipinas permitiu a Marcos recuperar um certo estatuto perante o povo – note-se que Duterte é tão temido quanto amado entre as massas.
A filha do ainda presidente das Filipinas, Sara Duterte, é candidata a vice-presidente numa eleição que se faz separadamente da votação do presidente.
Sara também é muito popular no país e deve ser candidata presidencial em 2028, o que perpetuará o legado de duas das mais poderosas dinastias do país.
A chegada de Bongbong ao poder também leva a prever que o novo Presidente das Filipinas protegerá Duterte de um possível processo no Tribunal Penal Internacional por crimes contra a humanidade cometidos durante a sua guerra brutal contra as drogas, com milhares de pessoas executadas.
Susana Valente, ZAP // Lusa
Mais um corrupto que vai enriquecer à custa do povo.
Pois… o narcotráfico, trafico de seres hunamos, tráfico de armas e outros, não matam ninguém que se lhe oponha ou fique a dever €€€€, logo… não são crimes contra a Humanidade.