Milhões de pessoas têm deixado o seu emprego por iniciativa própria. O maior aumento surgiu nas pessoas entre 40 e 60 anos.
A Grande Demissão, assunto que começámos a abordar há quase um ano aqui no ZAP, tem sido um fenómeno de milhões de demissões por iniciativa própria, nos Estados Unidos da América.
O nome recupera a Grande Depressão, que arrancou em 1929, mas surge num contexto distinto: quando a economia nos EUA começou a crescer, os norte-americanos começaram a deixar o seu emprego.
Esta tendência apareceu durante a pandemia COVID-19. Já no final do ano passado, só em Novembro 4.5 milhões de pessoas abandonaram o seu emprego porque quiseram, com um número particularmente elevado na restauração e na hotelaria, com um milhão de demissões.
Novos dados, relativos ao período entre o primeiro trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2022, revelam que o maior aumento de demissões verificou-se na faixa etária entre os 40 e os 60 anos.
O portal Vox, com base nos dados da Visier, mostra que as maiores percentagens são entre os 40 e os 45 anos (34%), entre os 45 e os 50 anos (37%) e entre 50 e 60 anos (também 34%).
Se, no início da Grande Demissão, eram os jovens que predominavam nesta estatística, agora a maioria dos demissionários são pessoas com mais de 40 anos.
Além disso, se no início eram os trabalhadores com salários baixos e com pouco tempo de “casa” – em sectores como alimentação e assistência médica – que predominavam nesta estatística, agora a maioria dos demissionários são pessoas com salários elevados e que estavam na empresa há muito tempo – com destaque para os sectores de finanças e tecnologia.
A maior subida no número de demissões ocorreu entre as pessoas que trabalhavam no mesmo local há 15 ou 20 anos (aumento de 71%).
Números recorde e motivos da “meia-idade”
Ao contrário do que se poderia prever, a guerra na Ucrânia e a possível recessão económica não apagaram esta tendência.
Em Março deste ano repetiram-se os números de Novembro de 2021. Ou seja, 4,5 milhões de demissões, cerca de 3% de todos os trabalhadores nos EUA.
A lista de motivos para o surgimento deste fenómeno é relativamente alargada. Destacam-se o cansaço/esgotamento, a procura por teletrabalho, a valorização e o empoderamento dos trabalhadores.
Estima-se que, entre estas pessoas mais velhas e que tinham um emprego estável, a prioridade será trabalhar longe do escritório e procurar um outro significado para a sua vida laboral. E, claro, deixam o emprego porque têm condições financeiras para fazê-lo.
A Grande Demissão é uma “grande crise de meia-idade”, descreve Adam Galinsky, professor da Columbia Business School, justificando: “A partir de uma certa altura da vida, começamos a ganhar outra consciência em relação à mortalidade e, a partir daí, reflectimos sobre o que é realmente importante para nós”.
E a pandemia ajudou, acelerou essa reflexão.