Nos últimos dias, Marine Le Pen tem crescido nas sondagens, fazendo regressar o medo de uma surpresa na primeira volta deste fim de semana.
A campanha eleitoral para as eleições francesas entrou ontem na semana derradeira, com os discursos dos candidatos a serem representativos do momento e importância que a votação do próximo domingo terá não só na vida dos franceses, mas nos destinos de toda a Europa. Emmanuel Macron optou por retardar ao máximo o início da sua campanha, focando-se nas suas obrigações como chefe de Estado e um dos principais intervenientes no plano internacional para travar a guerra na Ucrânia.
Agora, parece apostado em expor os verdadeiros objetivos da extrema-direita, recusando-se a banalizar as suas ideias, apesar de no domingo enfrentar dois candidatos desta fação política. “Diz-se que o programa de Le Pen é gentil, que é como os outros, que não é de extrema-direita. É preciso continuar a denunciar a realidade dos projetos. Há uma dupla que está a avançar, com ideias de extrema-direita que conhecemos há muito tempo, que são defendidas por um clã e um recém-chegado [Éric Zemmour]. Combato-as com força, mas não as banalizo“, disse o presidente francês.
Atualmente, Macron alcança 27% a 28% nos estudos de opinião, longe dos 22% de Le Pen. Uma diferença clara dos valores da véspera das eleições de 2017, quando davam ao atual presidente 23% das intenções de voto e a Le Pen 22,5%. Na segunda volta, Macron venceria com 66,1% dos votos. No entanto, o crescimento da candidata nas últimas semanas tem sido claro.
Tal como nota o Público, o contexto das duas eleições é muito distinto, com a atual cena mediática a ser totalmente dominada pela guerra e a deixar pouco espaço para a discussão de assuntos internos — importantes para muitos dos cidadãos que com eles lidam no seu quotidiano. Emmanuel Macron, por exemplo, não participou em qualquer debate eleitoral, com nenhum dos 11 candidatos.
Outro dos receios tem que ver com a abstenção, a qual ameaça desempenhar um papel importante nos resultados. Estima-se que possa chegar aos 30%, sete pontos percentuais acima das eleições anteriores, com o grupo etário entre os 25 e os 34 anos a ser o menos convencido a participar. Este receio remete para a eleição de 2002, quando Jean-Marie Le Pen passou, de forma surpreendente, à segunda volta das eleições, as quais disputou com Jacques Chirac, face à eliminação de Lionel Jospin, candidato socialista que tinha sido primeiro-ministro de Chirac.
Outra das particularidades destas eleições tem que ver com as perdas da esquerda. O Partido Socialista, por exemplo, não deve ir além dos 2% dos votos, o que poderá não ser suficiente para que o partido seja reembolsado pelas despesas de campanha. Simultaneamente, os seus eleitores também podem contribuir para a abstenção. Jean-Marie Mélenchon é o candidato da esquerda com as melhores perspetivas, fazendo a sua campanha assente na mensagem de que o duelo Le Pen-Macron não é uma inevitabilidade.
Macron também fez dele um alvo, prova de que está receoso do alcance que a extrema-direita pode atingir. No entanto, estes devem ser medidos, já que certamente não fará parte dos planos do presidente ostracizar os eleitores de esquerda que lhe podem ser certamente úteis na segunda volta — provavelmente contra Marine Le Pen. A ideia será repetir o slogan “Todos contra a extrema-direita”, que lhe garantiu a a vitória há cinco anos.