Ações humanas têm consequência ao nível dos tamanhos das asas das aves, dos ciclos de vida dos peixes e da capacidade das plantas em reagir às ameaças.
Ao contrário do que se poderia pensar, os humanos são uma força extraordinária no que respeita aos caminhos evolutivos do planeta Terra. Este papel foi e é exercido, por exemplo, na criação seletiva de espécies, mas também nas modificações ambientais que o ser humano motiva, e na direção que impõe à sua própria vida.
Num projeto de investigação que envolveu 287 cientistas a trabalhar em 160 países de 26 países, os participantes examinaram de que forma a urbanização influenciou a evolução à escala global, tendo, para isso, utilizado o chamado trevo branco (Trifolium repens) como modelo. Trata-se de uma planta nativa da Europa e da Ásia Ocidental, mas encontrada em cidades de todo o mundo.
“Nunca houve um estudo de campo da evolução desta escala ou um estudo global de como a urbanização influencia diretamente a evolução”, explicou Marc Johnson, biólogo da área da evolução, da Universidade de Toronto Mississauga (UTM).
Através da recolha de mais de 110.000 amostras em várias cidades, desde os subúrbios às zonas rurais, descobriram, por exemplo, que o trevo das cidades é atualmente mais semelhante ao trevo de outra cidade a milhares de quilómetros de distância do que ao encontrado em terras agrícolas ou florestas próximas, independentemente do clima.
Este é precisamente um exemplo de evolução adaptativa paralela: quando populações separadas são influenciadas pela mesma pressão seletiva, coincidindo em traços específicos, apesar das diferentes localizações. Tal evidencia que forma como os seres humanos mudaram e mudam o ambiente, ao ponto de terem uma maior influência na formação destas características do que fenómenos naturais como a genética da população local e o clima.
Embora as zonas urbanizadas partilhem muitas características em todo o mundo, ainda não foi estabelecido que estas estivessem a agir em conjunto para impulsionar a evolução na mesma direção. “Mostrámos apenas que isto acontece, frequentemente de formas semelhantes, à escala global”, disse o ecologista da UTM James Santangelo, citado pelo Science Alert.
“Para que a urbanização impulsione a evolução paralela, as áreas urbanas devem convergir em características ambientais que afetam a aptidão de um organismo”, explicaram os investigadores no documento que acompanha o trabalho.
Através de um olhar mais atento, a equipa identificou que uma das características que se alteram na transição das zonas urbanas para as rurais tem que ver com a produção de cianeto de hidrogénio pelas fábricas. O trevo branco, novamente, utiliza este químico como um mecanismo de defesa contra os seus predadores herbívoros. Simultaneamente, também ajuda a resistir à seca.
As plantas das populações rurais mais afastadas tinham 44% mais probabilidades de produzir cianeto de hidrogénio do que as do centro das cidades. Tal aconteceu apesar do forte fluxo de genes entre as populações de trevo branco ao longo de cada localização. Relativamente aos peixes, estes são agora 20% mais pequenos e os seus ciclos de vida são 25% mais curtos em média.
As consequências não intencionais das nossas ações estão também a mudar a forma das aves, com o tamanho das asas das andorinhas a diminuir.
Os investigadores recolheram uma grande base de dados que podem agora investigar mais a fundo os impactos humanos na evolução do trevo. Ao compreender melhor como estamos a conduzir incidentalmente tais mudanças, temos mais hipóteses de poder tomar intencionalmente o volante e dirigir a evolução de uma forma informada e mais segura.
“Este conhecimento poderia ajudar a conservar algumas das espécies mais vulneráveis da Terra, mitigar os impactos das pragas, melhorar o bem-estar humano e contribuir para a compreensão dos processos eco-evolucionários fundamentais“, concluem os autores.