Apesar do embargo em curso desde 2014, a Rússia continuou a comprar armas da UE até 2021, desde mísseis e aviões, a foguetes, torpedos e bombas.
Alguns Estados-membros exportaram 346 milhões de euros de equipamento militar, de acordo com dados públicos analisados pelo Investigate Europe.
Segundo a investigação do Público, algumas destas armas podem até estar neste momento a ser usadas na invasão da Ucrânia.
“Os nossos destinos estão ligados. A Ucrânia faz parte da família europeia. A agressão de Vladimir Putin é uma agressão contra todos os princípios que nos são caros”, afirmou Ursula van der Leyen na semana passada, na cimeira de Versalhes.
Há pouco mais de um ano, Vladimir Putin e o seu exército não eram o inimigo número um da Europa. Um terço dos 27 exportou armas para a Federação Russa, segundo dados do grupo de trabalho do Conselho da UE que regista todas as exportações militares dos Estados-membro, analisados pelo Investigate Europe.
Todos os anos, os 27 devem enviar os seus dados ao Grupo de Trabalho sobre Exportação de Armas Convencionais do Conselho da UE, o COARM.
É uma informação pública e mostra que, entre 2015 e 2021, pelo menos dez Estados-membros exportaram armas para a Rússia, no valor total de 346 milhões de euros.
França, Alemanha, Itália, Áustria, Bulgária, República Checa, Croácia, Finlândia, Eslováquia e Espanha venderam, em quantidades diferentes, “equipamento militar” à Federação Russa. Portugal não faz parte deste grupo de países.
De acordo com a investigação do Público, o “equipamento militar” é um rótulo onde cabem mísseis, bombas, torpedos, navios e carros de assalto.
“Razões políticas são o principal”
Desde julho de 2014 que um embargo da União Europeia proíbe estritamente a venda de armas à Rússia.
“É proibida a venda, fornecimento, transferência ou exportação direta ou indireta de armas e material conexo de todos os tipos, incluindo armas e munições, veículos e equipamento militar, equipamento paramilitar e respetivas peças sobresselentes, para a Rússia por nacionais dos Estados-membros ou a partir dos territórios dos Estados-membros ou utilizando navios ou aviões que usem a sua bandeira, quer sejam ou não originários dos seus territórios”, lê-se no documento.
Esta decisão seguiu-se à anexação da Crimeia e à proclamação das repúblicas separatistas do Donbass, seis meses antes.
Alguns países da UE utilizaram, no entanto, uma lacuna legal nos regulamentos para continuar o seu comércio.
O embargo não se aplica aos contratos e acordos, nem às negociações em curso, realizadas antes de 1 de agosto de 2014, nem “para o fornecimento de peças sobressalentes e serviços necessários para a manutenção e segurança das capacidades existentes”.
O COARM explicou que “o embargo de armas da UE contém a seguinte isenção: contratos celebrados antes de 1 de agosto de 2014 ou contratos acessórios necessários para a execução de tais contratos. Os números que encontram na base de dados devem ser abrangidos por esta isenção. Os Estados-membros são responsáveis por assegurar o cumprimento do embargo de armas e da Posição Comum da UE”. É por isso que “os Estados-membros não estão a armar a Rússia”.
Mas Seimon Wezeman, investigador sénior do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI), faz uma distinção entre o comércio económico regular e a exportação de armas.
“As armas são uma parte da nossa política externa, não da política económica. Aí, as razões políticas são o principal“, realça.
A venda de armas continuou e alguns Estados europeus continuaram a emitir licenças para a exportação de armas para a Rússia.
De acordo com os dados do COARM, após 2014, os Estados-membros emitiram mais de mil licenças, ao passo que apenas uma centena foi recusada. A França é quem está no topo da lista dos exportadores europeus.
França no topo da lista
Como revelado pelo jornal Disclose, a França vendeu 152 milhões de euros de equipamento militar à Rússia, depois do embargo de 2014.
O número foi confirmado pela análise da Investigate Europe, que coloca a França muito à frente dos seus parceiros da UE, com 44% das vendas à Rússia.
Segundo a investigação do Público, a França emitiu, desde 2015, licenças de exportação para “bombas, foguetes, torpedos, mísseis, cargas explosivas”, armas letais, mas também “equipamento de imagem, aviões com os seus componentes” e drones.
Segundo a investigação da Disclose, as exportações francesas incluem também “câmaras de imagem térmica para mais de 1.000 tanques russos, bem como sistemas de navegação e detectores de infravermelhos para caças e helicópteros de combate”.
O Kremlin pagou a conta às empresas Safran e Thales, cujo principal acionista é o Estado francês.
Este equipamento vendido pela França pode ser encontrado a bordo dos veículos blindados, caças e helicópteros que estão a operar na frente ucraniana.
França também já vendeu armas químicas à Rússia. Em 2014, negociantes de armas franceses ainda estavam a dar a sua autorização para enviar para a Rússia “agentes químicos ou biológicos tóxicos, agentes antimotim e substâncias radioativas”.
Alemanha na segunda posição
De acordo com informações recolhidas pelo Investigate Europe, a Alemanha exportou 121,8 milhões de euros para a Rússia.
Este número é equivalente a 35% do total das exportações, colocando-a na segunda posição logo atrás da França.
O país que hoje está entre os que mais apoiam a Ucrânia na Europa, enviou, entre outros dispositivos, espingardas, navios quebra-gelo e veículos de “proteção especial” para a Rússia.
“Cada país exporta segundo a sua própria vontade, precisamos de uma política comum de exportação de armas, baseada na lei e na transparência com o envolvimento do Parlamento Europeu”, disse Hannah Neuman, deputada dos Verdes alemães no Parlamento Europeu, e membro da subcomissão de Segurança e Defesa.
“Estou cansada de negócios obscuros em benefício apenas da indústria de armamento e em detrimento da política externa conjunta da UE — e da paz”, acrescentou, em entrevista ao Investigate Europe.
Itália encerra o top 3
Atrás da França e da Alemanha, os dados do COARM mostram que a Itália vendeu 22 milhões de euros em armas para a Rússia.
De acordo com investigação do Público, o primeiro grande contrato assinado com Moscovo aconteceu em 2015.
O governo de Matteo Renzi autorizou a empresa italiana Iveco a vender 25 milhões de euros de veículos terrestres à Rússia.
Esses veículos de guerra do modelo Lince, produzido pela Iveco, foram detetados pelo jornalista do canal de televisão, La7, na linha da frente ucraniana, no início da invasão. Foram montados nas três fábricas que a Iveco tem na Rússia, mas apenas com peças italianas.
Depois de 2015, o fluxo de armas e munições enviadas pela Itália diminuiu, voltando a aumentar no ano passado.
De acordo com os dados para o comércio externo do gabinete de estatística italiano, Istat, entre janeiro e novembro de 2021, a Itália entregou à Rússia 21,9 milhões de euros de “armas e munições”.
Nos documentos públicos do Istat, as exportações eram “armas comuns”, como espingardas (13.742.231 euros), pistolas (151.074 euros), munições (4.093.689 euros) e acessórios (837.170 euros).
Giorgio Beretta, analista do Observatório Permanente sobre Armas Ligeiras (OPAL) italiano explica que estas armas estão, assim, fora do espectro militar do embargo.
Mas não deixa de ser um problema, explica Beretta. “Em 2021 a Itália vendia espingardas semi-automáticas, pistolas e munições a um país que nem sequer assinou o Tratado Internacional sobre o Comércio de Armas (ATT)”.
Pequenos exportadores, grandes armas
Alguns Estados-membros mantiveram uma exportação constante embora pequena, enquanto outros realizaram negócios muito pequenos em 2015 e não continuaram a fornecer equipamento militar à Rússia, depois de o embargo ter ocorrido.
A República Checa exportou “aeronaves, mais leves que os veículos aéreos, veículos aéreos não tripulados, motores aeronáuticos e equipamento aeronáutico”, todos os anos, entre 2015 e 2019.
A Áustria continuou também a exportar anualmente equipamento militar para a Rússia: “armas de canos lisos de calibre inferior a 20 mm, outras armas e armas automáticas de calibre 12,7 mm” e “dispositivos de ajuste de munições e fusíveis, e componentes especialmente concebidos para o efeito”.
A Bulgária teve dois negócios, em 2016 e 2018, exportando “navios de guerra, (de superfície ou submarinos) equipamento naval especial, acessórios, componentes e outros navios de superfície” e “tecnologia” para o “desenvolvimento”, “produção” ou “utilização” de artigos controlados na Lista Militar Comum da UE”, no valor de 16,5 milhões de euros.
Segundo os dados do SIPRI sobre a exportação de armas, não foi só a UE a vender armas à Rússia após a anexação da Crimeia.
A Rússia foi, depois da China, o segundo maior comprador de armas à Ucrânia nos últimos oito anos.
Como é possível Países da UE exportaram armas para a Rússia? Depois do que estão a ver, continuam a enviar armas para ele continuar a assassinar pessoas inocentes? são tão assassinos como ele. A Rússia Ele tem dívidas, não é de armamento? caso seja, era exigir a devolução.
Agora é esperar que essas mesmas armas não sejam devolvidas aos países de fabricação, isso é que era aprender com os erros…
Estes partidos verdes, mas bem maduros na sua forma de verem o mundo, fazem falta nos parlamentos. E é claro que tudo isto é possível porque a indústria do armamento é uma das mais poderosas do mundo, mais do que do narcotráfico ou do que a das farmacêuticas por isso dá muito jeito alimentar umas guerrinhas, de vez em quando, para se vender mais um materialzito!!