Tinto é mais saudável que branco? Para o bem e para o mal, etanol é etanol

Tal como o chocolate preto e o café, o vinho tinto oscila entre os alimentos saudáveis e o vício. Então vamos à cerne da questão: o vinho tinto é bom para a saúde? E se assim for, o que torna o vinho tinto em particular tão especial?

Em entrevista à Inverse, Tim Naimi, diretor do Instituto Canadiano de Investigação do Uso de Substâncias da Universidade de Victoria, no Canada, desfaz a crença popular de que o vinho tinto é mais saudável do que o branco.

Grande parte dos mitos e opiniões correntes sobre os benefícios do vinho tinto para a saúde tem origem nos antioxidantes da bebida, os chamados polifenóis. Os antioxidantes têm propriedades anti-inflamatórias, o que se assume ser um benefício para a saúde.

Um tipo especifico de polifenol, o resveratrol, fitonutriente encontrado na pele de uvas tintas e em algumas plantas e frutos , é popularmente apontado como o antioxidante “saudável para o coração“. O vinho branco não tem resveratrol, e os vinhos rosé têm níveis mais baixos do que os tintos.

Ainda assim, Naimi diz que não há resveratrol suficiente na quantidade de vinho tinto que as pessoas bebem, para que este tenha qualquer benefício percetível para a saúde.

“Se as pessoas quisessem obter algum benefício, podiam simplesmente tomar comprimidos”, diz Naimi. “Penso que a quantidade disponível no vinho provavelmente não é suficiente“.

Em contrapartida, a ideia de que o vinho tinto pode ser benéfico para a saúde, pelo menos parcialmente, pode ser apenas uma correlação entre pessoas com tendência a beber vinho e com maior probabilidade de ser saudáveis.

 

Algum vinho oferece benefícios para a saúde?

Agora que parece que os benefícios do vinho tinto para a saúde, em oposição a outros tipos, são negligenciáveis, há a questão sobre se algum vinho fortifica o corpo.

Naimi estipula que não existem muitos estudos que comparem diretamente vinho tinto e vinho branco com participantes aleatórios entre os dois, para que os investigadores possam observar diferenças significativas.

“A presunção seria que os efeitos na saúde são semelhantes”, diz Naimi. Embora as diferenças nem sempre sejam conscientes entre os resultados dos estudos, podem haver simplesmente demasiados fatores atenuantes para além da cor do vinho, na determinação da própria saúde.

O Dr. Tim Naimi aponta os determinantes sociais, como o rendimento e o nível de educação, como um pilar na duração da vida. A tendência, é que as pessoas que auferem rendimentos mais elevados podem estar predispostas a beber vinho tinto e podem bebê-lo mais frequentemente do que alguém com um rendimento mais baixo.

“Os consumidores de vinho tinto tendem a ser um pouco mais saudáveis, mais ricos e mais felizes, e não é por causa do vinho tinto“, acrescenta Naimi. “O vinho tinto está associado a isso”.

O que é mais saudável? Abster-se ou beber com moderação?

Todas as evidências até agora apontam para a conclusão de que o vinho não oferece benefícios para a saúde. É mais saudável deixar de beber por completo? Isso depende do que se entende por mais saudável.

O vinho não vai melhorar os níveis de colesterol ou imunidade. Mas consumido em quantidades moderadas, pode certamente ter um efeito relaxante sobre a mente e o corpo.

Deixar o álcool por completo pode ser a opção mais saudável para quem tem um historial de dependência ou problemas cardíacos. Contudo, é certamente possível viver uma vida saudável que inclua o álcool.

O próprio corpo provavelmente não será mais saudável devido ao álcool. No fim de contas, é tudo o mesmo vício. “Quando se trata de danos ou benefícios potenciais, etanol é etanol“, diz o investigador.

Inês Costa Macedo, ZAP //

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