“Falam muito e a gente ouve. Mas esses mais extremos vão ficar como estão”. Skinheads substituídos por homens de fato e gravata.
O crescimento do Chega não passa ao lado nas notícias, noutros países. O canal Euronews dedica uma pequena reportagem ao partido de André Ventura, quatro dias antes das eleições legislativas antecipadas em Portugal.
O canal começa por recordar o episódio no Bairro da Jamaica, quando Ventura criticou o presidente da República, por Marcelo Rebelo de Sousa ter aceitado tirar uma fotografia ao lado de “bandidos”.
Esta crítica originou um processo por parte da família Coxi, que está na tal fotografia, “discriminação em função da cor da pele e da posição socioeconómica”.
O Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa condenou André Ventura e o Chega a retratarem-se dessas ofensas nos locais onde as proferiram (SIC, SIC Notícias, TVI e conta do partido no Twitter).
O líder do Chega pediu desculpas publicamente mas não concordou com a decisão judicial. Só não quis colocar o seu partido num “abismo jurídico e financeiro”.
No entanto o número de votantes no Chega está a aumentar. No próximo domingo poderá ser o terceiro partido mais votado e já reuniu a preferência de muitos eleitores em actos eleitorais recentes.
Em 2021 houve eleições autárquicas e presidenciais. Nas autárquicas o Chega ficou no terceiro lugar em Santo Isidoro, Mafra, e conseguiu mesmo o segundo posto nas presidenciais, no mesmo local.
Mas parece ser um apoio silencioso. Ou seja, há votos mas não há conversas na rua que apontem para uma defesa do Chega. Foi difícil encontrar apoiantes do partido (ou pessoas que admitem que apoiam o partido).
Uma eleitora, idosa, comentou: “Eles falam muito e a gente ouve, toda a gente ouve. Mas eu acho que esses mais extremos vão ficar como estão“, diz uma eleitora idosa que a Euronews encontrou.
Uma habitante mais jovem disse à Euronews que não consegue identificar apoiantes do Chega, entre as conversas que tem e entre os grupos de amigos e conhecidos que a rodeiam. “Aqui na zona não conheço defensores radicais“, acrescentou.
Filipe Teles, do projecto Setenta e Quatro, esclarece: “A excepção portuguesa, a ideia geral de que não existia extrema-direita em Portugal, era de facto um mito que se criou à volta deste tema”.
“A ascensão do Chega está enquadrada no crescimento da extrema-direita a nível europeu e internacional, com a eleição de Bolsonaro, a eleição de Donald Trump, a ascensão de Marine Le Pen em França. O Vox também tinha entrado no parlamento espanhol antes do Chega”, lembra Filipe.
Ricardo Cabral Fernandes considera que esta nova extrema-direita tem uma estética diferente – sem calças de ganga ou cabelo rapado. Os skinheads foram substituídos por homens de “fato, gravata e barba aparada”.