Condições geológicas inalteráveis contribuem para este fenómeno, que não é visível, por exemplo, em territórios do hemisférios Norte.
É muito provável que seja a banda sonora mais antiga do mundo, em reprodução há mais de 500 mil anos — ou talvez há um milhão de anos. De acordo com uma nova investigação, uma família de pássaros pertencente à família Nectariniidae que vive nas montanhas da zona este do continente africano tem vindo a cantar a mesma melodia há quase uma eternidade. A espécie é conhecida pelas suas cores vibrantes, pelo seu tamanho pequeno, por se alimentarem de nectar e por, em última instância, serem parecidos com os beija-flores.
Já Rauri Bowie, professor de biologia interativa na Universidade da Califórnia, prefere descrevê-los como “pequenas joias que aparecem diante dos nossos olhos”, pode ler-se no seu artigo. São frequentes nas zonas montanhosas nos territórios entre Moçambique e o Quénia, mas, na realidade, nem a orografia isoladora — capaz de isolar diferentes populações ou linhagens durante dezenas de milhares de anos — conseguiu que fazer com os indivíduos se tornassem mais diferentes entre si.
Uma das dúvidas de Bowie e da sua equipa prendia-se com o canto da espécie, ou seja, se este permaneceu inalterado — à semelhança do que aconteceu com o seu aspeto físico. De forma a responder à questão, os investigadores visitaram 15 “ilhas do céu” entre 2007 e 2011, procedendo à gravação dos cantos dos pássaros, de forma individual, de seis linhagens diferentes. Posteriormente, desenvolveram uma técnica estatística para analisar como é que as melodias evoluíam.
O que descobriram é que muitas destas populações, que vivem de forma isolada, ainda cantam as mesmas músicas — o que faz com que seja possível sugerir que as melodias não evoluíram muito desde há milhares de décadas, quando as linhagens foram separadas. Os cientistas também descobriram, através de análises genéticas, que as duas populações que estão separadas há mais tempo também cantam de forma idêntica — ao passo que as populações que foram separadas há mais tempo mostraram ter melodias muito distintas.
As descobertas da equipa, nota o site Live Science, são surpreendentes, já que os biólogos esperam que as canções evoluam ao longo do tempo e variam ao longo do tempo — mas também em função das diferentes populações. Segundo Rauri Bowie, a ideia de que os cantos das aves evolui rapidamente veio de estudos feitos no hemisfério norte, onde as condições ambientais mudaram consideravelmente ao longo das últimas dezenas de anos. Neste contexto, explica o investigador, as aves podem ter mudado de cor, de canto e até de comportamento, de forma a adaptarem-se melhor aos ambientes em que estão inseridas.
No entanto, as zonas montanhosas de África não apresentam este tipo de mudança ao nível geológico, pelo que estão reunidas as condições para que muitas das características dos pássaros se mantenham inalteráveis, como os cantos e as cores das penas. De facto, as condições ambientais — caso estas mudem ou não — são vistas como o principal fator nas alterações das espécies.
“Se se isolar os humanos, os seus dialetos mudam recorrentemente; consegue-se perceber, passados alguns minutos, de onde uma pessoa vem. E as melodias podem ser interpretadas da mesma forma“, descreveu Bowie. “O que o nosso trabalho mostra é que isto não se aplica necessariamente aos pássaros. Mesmo em características que deveriam se muito voláteis, como as melodias ou as penas, podem ter longos períodos estáticos”. O objetivo da equipa, agora a trabalhar na mesma zona de África, é tentar perceber o porquê de alguns pássaros evoluírem para novas músicas e outros não.
Aprenderam com os políticos de lá, sempre com a mesma cantiga e o povo sempre com o mesmo atraso!