Depois de quase leiloada por 1500 euros, obra que se descobriu ser de Caravaggio é declarada bem de interesse público em Espanha

Andy Rain / EPA

A partir de agora, caso algum dos proprietários deseje vender a pintura, terá de informar primeiro as autoridades de Madrid — as quais terão direito de preferência na aquisição da obra.

Uma pequena pintura que no início do ano esteve prestes a ser arrematada num leilão em Espanha pelo valor de 1500 euros ganhou esta semana um estatuto de proteção enquanto item de interesse cultural, depois de alguns especialistas terem sugerido que a obra pode ter como autor Michelangelo Caravaggio.

A pintura é uma representação de Cristo ferido, com 111 centímetros de altura e 86 de largura. A suspensão da venda, em Abril, ocorreu devido às suspeitas de que a sua autoria estava erradamente atribuída a José de Ribeira, um artista espanhol do século XVII.

De acordo com os especialistas – alguns pertencentes ao museu do Prado, em Madrid –, existem suficientes evidências estilísticas e documentais que sugerem que a obra em causa pode ser um original de Cravaggio, o que elevaria o seu valor para algo como 50 mil euros.

Na quarta-feira, seis meses após o Ministério da Cultura espanhol ter decretado uma proibição de exportação à pintura, o governo regional de Madrid oficializou a obra como bem de interesse cultural. O organismo descreveu a composição como “um exemplo de excelência e mestria pitoresca do naturalismo Italiano” que teve grande influência na escola de pintura de Madrid do século XVII.

“Elementos como a decapitação física das personagens, o realismo das caras, a força luminosa que ilumina o corpo de Cristo, a interação das três figuras e a comunicação que a obra estabelece com quem a está a ver fazem desta pintura um trabalho de grande interesse artístico”, descreveu o governo em comunicado.

As autoridades culturais de Madrid entendem que a pintura merece proteção independentemente do autor, mas acreditam que as evidencias apontam para que tenha sido o génio italiano a concebe-la.

“A informação que tem surgido ao longo dos últimos meses, assim como as análises feitas pelos especialistas, reforçam a teoria de que este é um trabalho de Caravajo”, pode também ler-se no comunicado.

O novo estatuto da obra significa que os seus donos – os três filhos de Antonio Pérez de Castro, o fundador da escola de design Madrid IADE e a artista Mercedes Méndez Atard – têm de informar as autoridades se decidirem vendê-la, de forma a permitir que o governo regional decida se pretende fazer uma oferta.

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