O ex-Presidente do Afeganistão Hamid Karzai disse que os talibãs não tomaram Cabul pela força, mas antes foram convidados, por si, a assumirem o poder, para impedir que o país caísse no caos.
Numa entrevista à Associated Press, Hamid Karzai explicou que convidou os talibãs a tomarem o poder em Cabul, em agosto passado, “para proteger a população, de forma a que o país e a cidade não caíssem no caos”, após a fuga do então Presidente Ashraf Ghani.
Karzai disse que quando Ghani abandonou Cabul levou com ele todo o seu pessoal de segurança e nem o chefe da polícia de Cabul ficou, para tentar garantir as condições mínimas de segurança na capital afegã.
Perante a iminência de caos, Karzai disse que contactou Abdullah Abdullah, o negociador chefe dos talibãs nas negociações com o Governo afegão no Qatar, para estabelecer as condições de entrada do movimento fundamentalista na capital, para tentar restabelecer a ordem no país.
Karzai e Abdullah encontraram-se em 14 de agosto, um dia antes de os talibãs assumirem o poder, e concordaram em entrar em negociações no dia seguinte, para uma divisão de poder no país.
Por essa altura, os talibãs já se encontravam nos arredores de Cabul, mas Karzai disse que os negociadores prometeram que ficariam fora da cidade até que um acordo fosse fechado.
No dia 15 de agosto, com os afegãos inquietos perante o seu futuro, circulavam rumores da chegada iminente dos talibãs a Cabul, obrigando Karzai a obter da equipa de negociadores no Qatar um compromisso de que as forças rebeldes se manteriam fora da capital.
“Eu e outros falámos com vários dirigentes dos talibãs, que nos deram essa garantia, desde que os americanos e as forças do Governo se mantivessem quietas”, explicou o ex-Presidente na entrevista à Associated Press.
Horas mais tarde, um dos responsáveis da equipa de segurança de Ashraf Ghani pediu a Karzai para ir ao palácio da presidência e assumir o poder, o que este recusou, dizendo que não tinha legitimidade para o fazer.
Em alternativa, Karzai decidiu dirigir-se aos afegãos, através da estação de televisão pública, ao lado dos seus filhos, para dizer à população que estava presente e que tentaria uma transição pacífica de poder.
Karzai diz que ainda hoje mantém contacto com a liderança talibã e aconselha a comunidade internacional a estabelecer laços diplomáticos com o novo Governo, alegando que é a melhor forma de impedir excessos políticos e de ajudar a população.
“Os afegãos sofreram muito. O exército sofreu muito. A polícia sofreu muito. Os soldados talibãs sofreram muito”, disse o ex-Presidente, referindo-se aos 20 anos de conflito a que o país esteve sujeito.
Karzai defende agora que os afegãos se devem unir ao Governo talibã, aconselhando este a rever algumas das suas práticas, nomeadamente aceitando que meninas e mulheres possam estudar e trabalhar livremente.
Até que isso aconteça, o Afeganistão não pode ficar isolado, concluiu Karzai, repetindo o apelo para que a comunidade internacional se interesse sobre a grave crise que o país atravessa, assumindo os erros que também cometeu e participando na reconstrução do regime.
// Lusa
Gostava de entender somente uma coisa: Isto faz todo o sentido? não haveria uma alternativa democrática sabendo-se que o regime taliban é do mais desprezível de que há memória recente da democracia. Realmente andamos no sentido contrário aos ponteiros do relógio. Defender um regime tirano do mais hediondo, dos mais repelentes de história da humanidade? Por favor não deitem mais poeira onde o deserto é completamente dissecado sem horizonte à vista.