Web 3.0, Metaverse. O futuro da internet “que mais parece voodoo” já está a acontecer

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A Web 3.0 é o futuro da internet, que se assemelha muito à ideia original da descentralização, baseada em blockchains públicas. E nesse futuro, o metaverse de Mark Zuckerberg parece ter um papel importante à espera.

O termo Web 3.0 foi criado, em 2014, pelo co-fundador do Ethereum, Gavin Wood, e ganhou maior visibilidade em 2020 e 2021, por parte de entusiastas de criptomoedas, grandes empresas tecnológicas e empresas capitalistas de risco.

A “versão 1.0” da internet nasceu nos anos 90, e foi criada como uma forma de democratizar o acesso à informação. Era ainda desorganizada, com páginas com elementos estáticos e linguagem HTML básica.

Já a Web 2.0, que se impôs até aos nossos dias, nasceu em meados dos anos 2000, e plataformas como a Google, a Amazon, o Facebook e o Twitter emergiram, de forma a tornar a navegação na internet mais organizada.

A nova etapa na evolução da internet, a Web 3.0, pretende que o poder passe das grandes empresas para as comunidades.

O conceito foi idealizado por Gavin Wood, atualmente diretor da Parity Technologies Ltd., Aeron Buchanan, que se juntou ao projeto Ethereum em 2014, e Reto Trinkler, fundador da Trinkler Software.

O objetivo é que os utilizadores sejam donos da própria informação, possam realizar-se transações digitais seguras a nível global e que as trocas de informação online sejam descentralizadas.

De acordo com a Web3 Foundation, esta internet passará a ser um local onde os utilizadores “controlam os próprios dados, identidade e destino“.

“Sociedade estragada, com ferramentas estragadas”

De acordo com Gavin Wood, estamos a colocar a nossa confiança em empresas que controlam a internet e, consequentemente, nos controlam a nós.

Situações como a CIA espiar funcionários do governo, a campanha de Macron hackeada ou a exposição de milhares de números de segurança social de cidadãos provam que a internet não é segura, enquanto for dominada por grandes empresas.

O co-fundador do Ethereum acredita que vivemos numa “sociedade estragada, com ferramentas estragadas e pessoas desinformadas“, devido ao poder que controla a navegação na internet. E a Web3 serve para mudar isso.

Como funciona a Web3?

De acordo com a NPR, as blockchains da Web 3.0 funcionam como um conjunto de servidores que vão mantendo um registo dos nossos dados. Um exemplo que explica bem como funciona este conceito é a Wikipedia.

Esta “Enciclopédia Livre”, como se apresenta, é mantida não por uma pessoa apenas, mas por milhares de contribuidores ao mesmo tempo.

Assim, tal como a Wikipedia é, na sua essência, um meio de informação mantido e curado pela comunidade (não por uma entidade empresarial ou governamental), a infraestrutura da blockchain é composta por um conjunto de servidores espalhados pelo mundo, mantidos por entidades independentes e geridos pela comunidade.

Esta “nova internet”, detida por cada um de nós em vez de empresas multimilionárias, permite também uma distribuição descentralizada e mais “democrática” do potencial de geração de receita pelos utilizadores individuais.

Na Web3, as pessoas controlam também os seus próprios dados, alternando entre as redes sociais, e-mail pessoal, ou compras online, com uma única conta personalizada, que cria um registo do tipo “chave pública – chave privada” de toda a sua atividade na blockchain.

“Para um cidadão normal, isto parece voodoo“, refere Olga mack, empresária e professora de blockchains na Universidade da Califórnia, em Berkley.

“Mas quando carregamos num botão para acender a luz, percebemos como é feita a eletricidade? Não precisamos de entender, para perceber os benefícios. O mesmo se aplica às blockchains”, realça a docente.

Neste momento, a ideia de reinventar uma “nova internet” pode parecer uma utopia, mas a verdade é que a Web3 já está a gerar furor na comunidade tecnológica e na dos investidores de criptomoedas.

Nos últimos meses, o futuro das blockchains tem dominado conferências tecnológicas e conversas nas redes sociais, em determinados círculos. Até “forçou” algumas grandes empresas a criarem equipas dedicadas à Web3.

O que é que ganhamos com a “nova internet”?

A Web3 significa que simples atividades como partilhar fotos, conversar com amigos ou fazer compras online deixa de ser controlada por grandes empresas e passa a ser feita em múltiplos e pequenos serviços concorrentes nas blockchains.

Cada vez que publicarmos uma mensagem, podemos ganhar algo com o nosso contributo — da simples possibilidade de ter participação na plataforma até uma compensação monetária.

Assim, o valor gerado pelo ecossistema pode ser partilhado entre mais pessoas, e não apenas pelos proprietários, investidores e empregados das grandes empresas. Até porque é a nossa utilização da internet que permite que esse valor exista.

Outro benefício importante da utilização de redes sociais numa plataforma descentralizada é o fim das restrições no que diz respeito à publicação de conteúdos.

No entanto, este tem sido o calcanhar de Aquiles do Twitter ou Facebook, impotentes para combater fenómenos crescentes como a propagação de notícias falsas ou o discurso de ódio constante — mau grado as inúmeras tentativas para o fazer, quer recorrendo a intervenção humana, quer a sofisticados algoritmos.

Na Web3, a responsabilidade é deixada aos utilizadores, que podem implementar um modelo comunitário que modere o conteúdo, de acordo com regras acordadas por todos os membros.

Qual o futuro do metaverse na Web3?

O Facebook alterou a sua marca recentemente para Meta, e afirmou que a nova prioridade era construir o “metaverse” — um futuro digital onde todos vivem e interagem juntos numa realidade virtual, que alguns consideram ser a “segunda vida” do conceito do antigo Second Life (com capacetes hi-tech).

A Meta acredita que a mudança de nome corresponde a um reflexo sobre o compromisso com o futuro que se avizinha.

É uma combinação de vários elementos tecnológicos, incluindo realidade virtual, na qual os utilizadores “vivem” dentro de um universo digital.

O “metaverse” prevê que os usuários não só trabalhem como se toquem e se mantenham ligados aos amigos através deste universo. De concertos a conferências e viagens, tudo será possível.

De acordo com Mark Zuckerberg, CEO da Meta, este novo universo digital pode demorar 5 a 10 anos até se tornar mainstream.

Mas tudo o que é necessário para criar este futuro já existe: velocidades de banda larga ultra-rápidas, realidade virtual e mundos online já em funcionamento, embora estas funcionalidades não sejam acessíveis a todos.

Um dos princípios da Meta é a “interoperabilidade robusta“, que permite aos utilizadores alternar de serviço em serviço, apenas com uma conta, sem terem de estar constantemente a iniciar sessão.

Este é também um dos princípios da Web3, mas, segundo alguns analistas, o Facebook não vai ter lugar neste novo universo da internet, independentemente do esforço que a rede social fizer para acompanhar a evolução do digital.

De acordo com Sam Williams, fundador da Arweave, empresa especialista em blockchain, “o Facebook vai sempre focar-se em enriquecer o próprio Facebook, e não é assim que o ciberespaço deve ser governado”.

Nesta nova era, navegar na internet já não significa iniciar sessão no Facebook, Google ou Twitter. As grandes empresas deixam de controlar os pequenos utilizadores e passamos a ter controle dos nossos próprios dados.

ACL, ZAP //

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4 Comments

  1. Temos todos uma hipótese: desligar!
    Eu já o fiz: desliguei-me do Facebook, do LinkedIn e quejandos. Nunca tive Reddit, Twitter, Tik Tok, instagram, Snapchat e coisas parecidas. Comigo o ganho é residual. E a minha exposição nestas aplicações opióides idem. Sim, porque as redes sociais estão no século XXI para os opióides e afins estavam para os boomers do século passado…

  2. Enquanto houver ISPs que te garantam o acesso à internet sob as suas condições .. é o mesmo que dizer : “what good is a phone call if you are unable to speak ?” …

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