Investigadores australianos descobriram que algas marinhas locais reduzem a emissão de gases com efeito de estufa pelas vacas leiteiras. Agora, cientistas do Reino Unido estudam algas locais para perceber se têm o mesmo efeito.
Tanto as vacas como outros ruminantes têm um estômago composto por diferentes compartimentos que os ajudam a digerir os alimentos. Um desses compartimentos é povoado por micróbios que ajudam a decompor a matéria vegetal numa forma mais digerível.
No entanto, o processo também produz metano, um potente gás com efeito de estufa que é dos mais prejudiciais para o aquecimento global — aquece a atmosfera com uma eficiência 80 vezes superior à do dióxido de carbono durante os primeiros 20 anos que está na atmosfera, antes de se decompor.
E basta fazer as contas: se juntarmos as cerca de mil milhões de vacas utilizadas nas indústrias globais de carne e lacticínios — com cada uma a libertar cerca de 250-500 litros de metano por — a outros animais criados para a pecuária, constatamos que todos os anos é libertado na atmosfera o equivalente de metano a cerca de 3,1 gigatoneladas de dióxido de carbono.
Isto significa que, se as vacas fossem um país, seriam o terceiro maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, atrás da China e dos Estados Unidos, e à frente da Índia.
Na conferência climática COP26, que aconteceu no início de novembro em Glasgow, mais de 105 nações comprometeram-se a reduzir as emissões de metano em 30% até 2030 — a maioria dos países comprometeu-se a reduzir as suas indústrias de petróleo, gás e carvão, que são responsáveis por um terço das emissões de metano causadas pelo homem, mas apenas alguns planos se concentraram nas fontes agrícolas de metano, que contribuem com 42% do total global do gás com efeito de estufa.
O Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas, o principal organismo das Nações Unidas para o clima, recomenda que os seres humanos consumam menos carne e lacticínios como forma de reduzir o aquecimento global.
No entanto, é muito difícil fazer com que as pessoas mudem os seus padrões alimentares e uma das soluções poderia passar por resolver o problema na origem, isto é, nas próprias vacas.
Cientistas têm desenvolvido múltiplas abordagens para capturar as emissões bovinas, desde máscaras adaptadas ao nariz das vacas — que restringem a quantidade de metano que os arrotos dos animais libertam na atmosfera — a mochilas engenhosas criadas para apanhar os gases das vacas.
As melhores soluções, contudo, estão relacionas com a alimentação daqueles animais.
Em setembro, o Brasil e o Chile aprovaram a utilização de Bovaer, um suplemento alimentar sintético, desenvolvido pela empresa holandesa de biociência DSM, que reduz as emissões de metano nas vacas leiteiras em 30% e até 80% nos bovinos de corte.
Mas o suplemento é um custo adicional para os agricultores e, a menos que haja um incentivo — quer através de regulamentos governamentais ou subsídios—, a sua utilização não é suscetível de ser generalizada.
Por essa razão, cientistas agrícolas estão também à procura de soluções naturais mais baratas e mais eficazes e podem tê-lo descoberto num ingrediente raramente encontrado perto de pastagens de vacas: algas marinhas.
Em 2020, investigadores australianos descobriram que a substituição de 3% da dieta de uma vaca por um tipo de algas nativas da Austrália resulta numa redução de até 80% das emissões de metano, escreve a Time.
Agora, investigadores na Irlanda e no Reino Unido estão a tentar descobrir se as algas locais têm mesmo efeito e lançaram, juntamente com o Instituto de Segurança Alimentar Global da Queen’s University Belfast, um projeto de 2 milhões de euros para monitorizar os efeitos da alimentação das vacas leiteiras com algas marinhas locais.
Sharon Huws, professora de ciência animal e microbiologia, e cientista líder do projeto, diz que espera ver uma redução de pelo menos 30% nas emissões de metano.
“A utilização de algas marinhas é uma forma natural e sustentável de reduzir as emissões e tem um grande potencial para ser ampliado”, disse.
Alimentar as vacas com algas marinhas pode parecer insignificante, mas Sarah Ann Smith, diretora do chamado programa “super-poluentes” da task-force do Ar Limpo com sede nos Estados Unidos defende a sua importância.
Mesmo a redução de 30% das emissões de fermentação entérica levaria a uma redução maciça do metano atmosférico, cerca de 11% do total, disse.
“A realidade é que estamos num ponto em que temos de atirar todo este esparguete à parede e ver o que cola”, continuou, até porque as projeções atuais mostram que o consumo de carne a nível mundial vai aumentar.
“Já não temos o luxo de colher e escolher, precisamos de todas as soluções em cima da mesa”, concluiu.
Algas marinhas para as vaquinhas e também para os americanos, os chineses e os indianos.