“Quase todas as pessoas no Novo Mundo são descendentes da realeza inglesa”

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Homenagem a Eduardo I

Ao longo dos anos, vários especialistas em genealogia têm vindo a realizar estudos que mostram que a maior parte dos europeus tem ascendência monárquica.

Recentemente, no programa de televisão da BBC “Who Do You Think You Are?”, várias celebridades descobriram mais sobre o seu património genético. Depois de avaliações detalhadas sobre a sua genética, alguns famosos descobriram que têm linhagens reais.

O assunto tem suscitado uma grande curiosidade por parte dos britânicos que também gostariam de saber mais sobre o seu passado – e se este passa por uma linhagem de sangue azul.

Vários especialistas acreditam que o facto de tantas pessoas estarem a perceber que são descendentes da monarquia não é apenas uma coincidência, mas sim a prova de que quanto mais atrás no tempo se investiga, maior probabilidade existe de descobrir uma conexão genética com um antigo rei ou rainha da Europa. A certa altura, as probabilidades aumentam tanto que as possibilidades de encontrar uma conexão genética com a realeza chegam a ser de 100%, escreve o Ancient Origins.

Por razões que a matemática pode justificar, os especialistas em genealogia referem que encontrar uma conexão genética com a realeza não é nada notável, pois “não é incomum”, frisou Graham Holton, investigador de genealogia da Universidade de Strathclyde, em Glasgow, em declarações à BBC News. Também o especialista é parente de Eduardo I, uma especificidade que estima que até dois milhões de pessoas vivas possam partilhar.

As tentativas de rastrear linhagens podem provar este tipo de ligações, mas os esforços de investigação nem sempre são bem sucedidos. Os serviços genealógicos têm acesso a extensos registos históricos, porém só remontam a um certo período de tempo antes de serem questionados o rigor e a precisão.

Ainda assim, a descoberta de linhagens reais tende a ser um pouco mais fácil de estabelecer, uma vez que os registos de nascimentos e mortes aristocráticos são mais prováveis ​​de terem sido registados por longos períodos de tempo.

Mas há um detalhe que pode dificultar a procura e aumentar incerteza: os casos extraconjugais que acabavam por gerar filhos que não eram oficialmente reconhecidos. Assim, “muitas pessoas não seriam capazes de provar a sua linhagem com evidências documentais”, explica o investigador.

Um ancestral comum

Uma organização de pesquisa demográfica com sede em Washington, chamada Population Reference Bureau, estima que aproximadamente 107 mil milhões de humanos anatomicamente modernos viveram na Terra desde 50.000 a.C. Contas feitas, isso dá 15 pessoas falecidas por cada pessoa viva hoje.

Desta forma, percebe-se que não há uma população ampla o suficiente para que todos os indivíduos tenham uma linhagem separada. Estima-se que aproximadamente 300 gerações de humanos viveram e morreram nos últimos 6.000 anos, o que revela o número astronómico de ancestrais que a árvore genealógica de cada pessoa teria que incluir se fossem para completar um exame genealógico completo.

Embora isto possa ser algo que se pode entender intuitivamente, os matemáticos que examinaram a questão de forma mais profunda chegaram a conclusões mais amplas.

Em 1998, Joseph Chang, um estatístico da Universidade de Yale, realizou um estudo matemático, que foi pensado para responder a uma questão específica: quão longe um estudo genealógico teria que ir antes de encontrar um ancestral comum para todos os europeus vivos hoje?

Chang construiu um modelo matemático para ajudá-lo a responder a essa pergunta. Depois de calcular os números, ficou surpreendido ao descobrir que um ancestral comum para todos os europeus teria existido recentemente, há 600 anos, ou apenas algumas décadas antes de Colombo partir na sua viagem. Isso significa que se todos os ancestrais europeus pudessem traçar sua ancestralidade até 1400, cada árvore genealógica incluiria aquele indivíduo em particular.

Se a investigação continuasse, o número de pessoas que iria aparecer na árvore genealógica de todos aumentaria. Esse processo continuaria, até a época em que a pesquisa genealógica passou do segundo milénio d.C para o primeiro. Nesse ponto, a árvore genealógica de cada pessoa incluiria 80% daqueles que estavam vivos na Europa em 999 d.C. Também incluiria 80% daqueles que viveram em períodos anteriores.

O número é limitado a 80% porque 20% dos que viviam na época não tinham filhos, ou tinham filhos ou netos que não tinham filhos, o que, portanto, permitiu que a linhagem familiar morresse.

Contudo, os 80% restantes estão relacionados com todos os europeus que atualmente residem na Terra, o que implica uma ligação a todos os canadianos, australianos, neozelandeses, norte-americanos e sul-americanos que tiveram ancestrais europeus.

Pode parecer impossível acreditar em tal conclusão, mas a matemática é capaz de confirmar.

“Todos os descendentes de europeus devem ser descendentes de Maomé”

Para ilustrar a matemática de forma mais completa, em 2015, Adam Rutherford, um geneticista britânico que expandiu o trabalho de Chang, publicou um artigo no The Guardian, onde explicou de que forma todos os europeus vivos descendiam de Carlos Magno, o Grande. Por definição, isto significa que todos os europeus vivos carregam genes reais, quer tenham conhecimento disso ou não.

Num artigo de 2002 publicado no Atlantic, também o jornalista Steve Olson explicou como as descobertas da pesquisa de Chang se aplicariam não apenas aos europeus modernos, mas a praticamente todos que vivem do outro lado do Oceano Atlântico.

“Quase todas as pessoas no Novo Mundo são descendentes da realeza inglesa”, escreveu Olson, acrescentando que a premissa é válida para todas “as pessoas de ascendência predominantemente africana ou nativa americana, devido à longa história de casamentos mistos nas Américas ”.

Tendo em conta os contratos entre povos de todas as regiões, Olson explorou as implicações finais do estudo de Chang, especulando muito além do que a matemática já havia mostrado. “Todos os descendentes de europeus devem ser descendentes de Maomé”, deduziu.

Se estes estudos matemáticos estiverem corretos, significa que todos os que estão a ler este artigo têm genes reais.

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