Um novo tratamento desenvolvido pela AstraZeneca pode oferecer uma proteção de até 18 meses contra a forma de doença mais grave da covid-19.
Em breve, um novo tratamento poderá ajudar a proteger as pessoas do desenvolvimento de covid-19 grave. A AstraZeneca acaba de divulgar os resultados de um ensaio clínico de fase 3 — o estágio final de testes antes de um medicamento ser autorizado — que sugere que o seu novo tratamento, AZD7442, é eficaz na redução de doença grave ou morte em pacientes não hospitalizados.
O tratamento contém anticorpos, que geralmente são produzidos naturalmente em resposta a uma infeção por covid-19 ou vacinação. Os anticorpos funcionam reconhecendo partes específicas do SARS-CoV-2 e atacam-nos diretamente ou ligam-se a eles para impedir o funcionamento do vírus e sinalizá-lo para destruição por outras partes do sistema imunitário.
Depois de terem feito o seu trabalho de limpar o vírus, os anticorpos permanecem no corpo por um período de tempo, fazendo parte da nossa memória imunitária. Se o que procuram for encontrado novamente, podem entrar em ação.
O novo tratamento, AZD7442, usa anticorpos especiais chamados anticorpos monoclonais. Estes são anticorpos produzidos em laboratório que imitam as defesas naturais do corpo.
O desenvolvimento artificial de anticorpos para combater doenças não é uma técnica nova. Esta tecnologia já é usada no tratamento de diversas doenças, incluindo leucemia, cancro da mama e lúpus. Na realidade, esta nem é a primeira vez que a técnica é usada para a covid-19.
O primeiro tratamento com anticorpos monoclonais covid-19 foi aprovado no Reino Unido em agosto de 2021.
Como é que o tratamento da AstraZeneca funciona?
O AZD7442 é um cocktail de dois anticorpos monoclonais — tixagevimabe e cilgavimabe — projetado para reduzir a gravidade de uma infeção por SARS-CoV-2 e, assim, evitar que as pessoas fiquem gravemente doentes.
Ambos os anticorpos ligam-se a diferentes partes aos peplómeros do vírus, que cobrem a sua superfície externa e são o que o vírus usa para infetar as células. Acredita-se que a junção a estas proteínas é o que dá ao medicamento o seu efeito, pois isso impede que o vírus seja capaz de entrar nas células e reproduzir-se.
Os dois anticorpos monoclonais no cocktail são baseados em anticorpos obtidos de pacientes que sobreviveram à covid-19. Cientistas da AstraZeneca recolheram amostras de sangue de pacientes e isolaram células do sistema imunitário chamadas células B, que são as fábricas de anticorpos do corpo humano.
De seguida, cultivaram mais dessas células B em laboratório e usaram-nas para fazer grandes quantidades dos dois anticorpos, que identificaram como tendo como alvo específico o peplómero do coronavírus.
Mas a principal diferença entre este e outros tratamentos baseados em anticorpos é que no AZD7442, os anticorpos foram modificados para que permaneçam no corpo por mais tempo.
Estudos usando anticorpos modificados de forma semelhante contra outro vírus respiratório — vírus sincicial respiratório — mostraram que essa abordagem oferece proteção a longo prazo, com os anticorpos modificados tendo o triplo da durabilidade dos anticorpos convencionais.
Espera-se que uma única dose de AZD7442 possa oferecer proteção de 12 a 18 meses contra covid-19 grave, embora tenhamos que esperar para ver exatamente quanto tempo dura a proteção.
ZAP // The Conversation