Responsável diplomático britânico sob fogo por não ordenar evacuação de civis que trabalharam nos seus serviços

Jawad Jalali / EPA

Falha de comunicação entre Londres e Cabul impossibilitou a evacuação atempada dos civis afegãos que ao longo das duas últimas décadas colaboraram com as autoridades britânicas no terreno.

O governo britânico está a ser alvo de acérrimas críticas depois de ser tornada pública a informação de que nenhum oficial ordenou a evacuação de cidadãos afegãos que trabalharam nos serviços britânicos em Cabul como tradutores. Segundo noticia a imprensa local, Dominic Raab, secretário para os Assuntos Exteriores estava demasiado ocupado para contactar o seu homólogo afegão, tendo delegado a tarefa a um responsável inferior do executivo de Boris Johnson na última sexta-feira.

O aviso terá chegado a Raab através de conselheiros seniores ao longo da última semana, com estes a sublinhar a urgência da situação e da importância de ser Dominic Raab a assumir a realização da tarefa. De facto, Hanif Atmar, ministro dos Negócios Estrangeiros do Afeganistão até domingo, terá recusado falar com um governante secundário, de acordo com os relatos da imprensa britânica, que avança que o responsável terá adiado a conversa para o dia seguinte, quando esperava já falar com Raab.

No entanto, o contacto nunca terá acontecido com os talibãs a tomarem Cabul antes do que seria expectável. Agora, Raab — que na altura dos acontecimentos se encontrava de férias na ilha de Creta, na Grécia — enfrente pedidos de demissão por parte da oposição. Os trabalhistas já questionaram Boris Johnson com o objetivo de perceberem se o primeiro-ministro teria falado com Raab enquanto o secretário para os Assuntos Exteriores estava ausente e se este recebeu autorização para abandonar o Reino Unido.

Lisa Nandy, ministra-sombra dos Negócios Estrangeiros para os tories, afirmou que o facto de “o primeiro-ministro e o secretário para os Assuntos Externos estarem de férias durante a maior crise de política externa numa geração é um falhanço de liderança imperdoável”.

Colonel Richard Kemp, antigo comandante das tropas britânicas no Afeganistão, contou à BCC que a atitude de Dominic Raab é demonstrativa da “falta de urgência ministerial” em relação ao conflito que já dura há mais de vinte anos. Segundo o The Times, estão atualmente de férias os principais ocupantes dos cargos nos ministério dos Assuntos Externos, da Administração Interna e da Defesa.

O secretário dos Assuntos Exteriores britânico já se veio defender das críticas, afirmando que no tempo em que esteve fora manteve-se em contacto com responsáveis diplomáticos de outros países e com os restantes ministros britânicos, tendo regressado a Londres “assim que a situação se começou a deteriorar e o exigiu“.

A aparente atitude negligente do responsável britânico pode ter consequências dramáticas, já que os mais recentes relatos provenientes de Cabul revelam que os talibãs redobrado os esforços — com buscas porta a porta — para encontrar cidadãos afegãos que ao longo das últimas décadas colaboraram com as forças da coligação internacional que em 2001 invadiu o Afeganistão que correm, assim, risco de vida.

Para estes, as autoridades britânicas constituíram a Política de Assistência e Relocalização Afegã, no âmbito da qual os cidadãos afegãos incluídos na situação se podem candidatar a pedidos de asilo. De acordo com o ministério da Administração interna britânico, o país recebeu 2 mil afegãos que trabalharam nos seus serviços funcionários e as respetivas famílias. A meta é que o número aumente para 5 mil até ao final do ano.

No entanto, as condições em que as evacuações estão a decorrer, devido à invasão das pistas do aeroporto de Cabul, têm dificultado as operações, com a aterragem e descolagem dos aviões a ter que ser interrompida.

Ana Rita Moutinho, ZAP //

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