Numa carta aberta ao primeiro-ministro, a UGT criticou a atitude de vários ministros, a destruição de milhares de postos de trabalho durante a pandemia e alertou para a suspeita de existir cartelização entre os grandes bancos.
Segundo o jornal online Observador, trata-se de uma das cartas mais duras que a UGT já terá enviado a um primeiro-ministro, tendo começado por criticar a atitude de alguns membros do Governo, que parecem “não compreender” as virtudes da negociação coletiva.
Lembrando a sua disponibilidade de sempre para o diálogo social, a central sindical refere-se a governantes como os ministros da Educação, da Saúde, da Justiça e da Administração Pública.
“Vários responsáveis da sua equipa governativa não parecem compreender o desígnio do tripartismo e das virtudes da negociação coletiva. Estes não se esgotam nas conversas formais e informais das reuniões que se realizam ao longo do ano com os sindicatos da Administração Pública, mas sem quaisquer consequências para a vida das pessoas que estes representam. E não podem reduzir-se a meros momentos de informação aos sindicatos, sem que exista uma efetiva disponibilidade e abertura do Governo para alcançar consensos”, cita o jornal digital, que teve acesso à missiva.
“Com todo o respeito, senhor primeiro-ministro, tal atitude de vários governantes desprestigia o diálogo social e qualquer tentativa do movimento sindical de atingir os seus objetivos – dignificar o trabalho dos trabalhadores, incluindo aqueles de que o Estado é empregador, e que se dedicam briosamente às suas atividades profissionais em nome do Estado e ao serviço de todos os cidadãos”, cita também o jornal Público.
“O setor da Educação é dos que mais se sente violentado com a ausência de uma negociação séria entre o titular da pasta [Tiago Brandão Rodrigues] e os sindicatos”, exemplifica, referindo-se também a outros setores.
“Pese embora o papel relevante da atuação da senhora ministra da Saúde [Marta Temido] durante a crise pandémica, tal não justifica por si só que os sindicatos calem as suas legítimas reivindicações, o mesmo se passando na Justiça [Francisca Van Dunem], ou na Administração Pública [Alexandra Leitão]”.
“O exemplo vem sempre de quem está no topo da governação do Estado e o setor privado copia sempre o que de pior o Estado exemplifica”, pode ler-se.
A UGT também critica a forma como a situação da TAP está a ser gerida, lembrando também “a destruição de milhares de postos de trabalho” em empresas como a Altice e na banca, “situações a que urge pôr cobro”.
“Ao assistirmos à forma como a TAP está a ser gerida, com destruição de postos de trabalho, mesmo depois de um acordo com os sindicatos para a redução de salários, será de acreditar que o movimento sindical consegue verdadeiramente negociar com a PT/Altice, os CTT ou, de forma particular – por ser o pior exemplo de que há memória nas duas últimas décadas – com a banca nacional?”, questiona.
“A situação na banca é tão dramática que a UGT e os seus sindicatos do setor (Mais Sindicato, SBN e SBC) se atrevem a suspeitar que existe cartelização entre os grandes bancos para uma redução histórica e inédita de postos de trabalho no setor à custa da pandemia e dos seus efeitos”, alertou ainda.
A UGT questiona na missiva a possibilidade de, “em nome de um eventual fator concorrencial”, todos os bancos terem “decidido em simultâneo extinguir milhares de postos de trabalho”.
A carta da UGT, aprovada por unanimidade em secretariado nacional, termina com a central a disponibilizar-se para “transmitir de viva voz as preocupações que grassam na sociedade portuguesa e que carecem de uma resposta social e política urgente“.
Uma centena de sindicalistas da UGT manifestaram-se, esta quinta-feira, junto à residência oficial do primeiro-ministro, em Lisboa, onde entregaram esta carta reivindicativa.
ZAP // Lusa