A seleção dinamarquesa não era favorita, nem no seu grupo, mas já está nas meias-finais do Euro 2020. Quais são as forças desta surpreendente Dinamarca?
“Dinamarca? No Euro 2020? Pode passar a fase de grupos mas, se chegar aos quartos-de-final, já pode vir embora toda contente, já é uma vitória” – esta seria uma ideia generalizada, antes do início do Europeu de futebol. Agora essa ideia tem de ser alterada: a Dinamarca está entre as quatro melhores, apurou-se para as meias-finais.
Em 1984 também tinha chegado às meias-finais e só nas grandes penalidades a Espanha levou a melhor, nessa altura. O registo no Euro 2020 é a sua melhor prestação desde o percurso histórico e surpreendente em 1992, quando a Dinamarca – que nem se tinha qualificado para a fase final – chegou à prova e…foi campeã europeia.
Desde então participou em quatro edições e só numa superou a fase de grupos: em 2004 (em Portugal), mas foi eliminada nos quartos-de-final pela República Checa, a seleção que 17 anos depois foi derrotada (2-1) pelos dinamarqueses, curiosamente na mesma fase.
A Dinamarca, que nem esteve no Euro 2016, desta vez conseguiu o apuramento ao ficar no segundo lugar do Grupo D de qualificação, atrás da Suíça. E atenção: sem derrotas. Em oito jogos, ganhou quatro e empatou quatro.
Na fase final ficou colocada no Grupo B. Bélgica era a clara favorita e confirmou esse estatuto. A Rússia era apontada para o segundo lugar, em luta com a Dinamarca.
Mas os russos ficaram em último, a Finlândia em terceiro e a Dinamarca em segundo – estas três seleções terminaram o grupo com três pontos cada mas os dinamarqueses seguiram em frente por causa dos resultados no confronto direto; valeu a vitória “gorda” no último jogo contra a Rússia, por 4-1.
Oitavos-de-final: 4-0 e País de Gales “despachado”. Quartos-de-final: duelo que se previa equilibrado com a República Checa, e foi, mas novo triunfo.
Estilo de jogo, individualidades e selecionador
Mas então, o que levou a Dinamarca até às meias-finais? O que vale esta seleção?
Vale pelo coletivo. É um coletivo verdadeiro, é uma equipa. Entusiasma o adepto. Ao mesmo tempo os jogadores são disciplinados, cumprem muito bem taticamente. É uma turma bem organizada.
Sabem defender, sabem (e querem) jogar do meio-campo para a frente. As faixas laterais funcionam, os médios e os avançados tratam bem a bola, há pressão alta e também há recuos, quando é preciso. Apresentam processos rápidos, que parecem simples (e são) e que são também eficazes. A defesa é sólida e sofre poucos golos – na fase de qualificação para o Mundial 2022 ainda não sofreu qualquer golo.
É uma seleção que não tem qualquer jogador do top-20 mundial, se calhar nem do top-50. Mas vários dos convocados jogam em equipas europeias de alto nível. Vamos a exemplos.
O guarda-redes Kasper Schmeichel é titular no Leicester City há muitos anos; já era titular quando o Leicester foi campeão em 2016. Na defesa, o capitão Simon Kjær é titular habitual no AC Milan, tal como Daniel Wass em Valência; Andreas Christensen joga muito no Chelsea.
O médio Thomas Delaney é muito utilizado no Borussia Dortmund; Pierre-Emile Højbjerg (ex-Bayern Munique) esteve em mais de 50 jogos do Tottenham na última época, tendo jogado todos os minutos (!) na Premier League. Na frente temos Martin Braithwaite, avançado com muita rodagem no Barcelona; Yussuf Poulsen é titular muitas vezes no Leipzig.
E ainda está Christian Eriksen. Não está no relvado mas está na cabeça de todos os seus compatriotas. O médio do Inter Milão só jogou 42 minutos neste Europeu mas o seu problema cardíaco transformou-se numa motivação extra para os seus colegas de seleção, que querem chegar longe (também) por ele.
O selecionador é Kasper Hjulmand, muito atento ao aspeto tático das suas equipas e muito capaz de retirar o melhor dos jogadores que tem à sua disposição. E o selecionador neste Euro 2020 nem seria Hjulmand.
Se o Europeu tivesse sido realizado realmente em 2020, o líder desta seleção teria sido Åge Hareide – que, entre 2016 e 2019, levou a Dinamarca a uma série inédita de 34 jogos consecutivos sem derrotas.
Em 1992 o título seguiu para a Dinamarca. Em 2021 também? O repórter da UEFA acredita: “Claro que sim! A Dinamarca conta com jogadores que atuam em alguns dos maiores clubes do mundo e o espírito nos bastidores é de muita confiança. A espinha dorsal da equipa está no pico da idade e os jogadores mais jovens estão prontos para mostrar o seu valor”.
Último detalhe: em 1992 o guarda-redes da Dinamarca também era um Schmeichel.