Coelhos selvagens desenterraram tesouros arqueológicos de valor inestimável numa pequena e remota ilha na costa do País de Gales, no Reino Unido.
Os coelhos escavadores descobriram dois artefactos – uma ferramenta da Idade da Pedra com nove mil anos e uma peça de cerâmica com 3.750 anos, provavelmente de uma urna partida da Idade do Bronze, de acordo com o Wildlife Trust of South and West Wales, que administra a Ilha Skokholm, onde os objetos foram encontrados.
Segundo o LiveScience, arqueólogos encontraram artefactos semelhantes no Reino Unido, mas as novas descobertas são as primeiras deste tipo na Ilha de Skokholm e indicam que humanos visitaram ou viveram lá há milhares de anos.
A ilha, que fica a cerca de 3,2 quilómetros da costa de Pembrokeshire, um condado no sudoeste do País de Gales, é conhecida pelas dezenas de milhares de aves marinhas que nidificam ali nos meses de primavera e verão.
A sua beleza natural e vida selvagem valeram-lhe o nome de “Ilha dos Sonhos”.
Os achados arqueológicos ao longo dos anos mostraram evidências de povos pré-históricos nesta ilha, mas pouco se sabe sobre eles. A partir de 1324, a Ilha Skokholm tornou-se uma quinta de coelhos nos 200 anos seguintes – uma prática comum na ilha naquela época, de acordo com o Wildlife Trust.
Os guardas Richard Brown e Giselle Eagle, que monitorizam a ilha enquanto está fechada devido à pandemia, encontraram o artefacto liso e oval da Idade da Pedra primeiro, enquanto estavam perto de uma coelheira. Numa publicação de um blogue, descreveram-no como “uma pedra de aparência interessante”.
A dupla enviou as fotografias da pedra para Toby Driver, um arqueólogo da Comissão Real de Gales, que, por sua vez, entrou em contacto com o especialista em ferramentas de pedra pré-histórica Andrew David. Assim que viu as imagens, David percebeu que a pedra era um achado significativo.
“As fotografias eram claramente de um ‘seixo chanfrado’ do final do Mesolítico (Idade da Pedra Média), uma ferramenta que se pensava ter sido usada em tarefas como a preparação de peles de foca para fazer embarcações revestidas com pele ou para processar alimentos como marisco, entre comunidades de caçadores-coletores há cerca de 6.000 a 9.000 anos”, escreveu David.
“Embora estes tipos de ferramentas sejam bem conhecidos em locais costeiros do continente, como Pembrokeshire e Cornwall, bem como na Escócia e no norte de França, este é o primeiro exemplo de Skokholm e a primeira evidência firme da ocupação do Mesolítico final na ilha”, acrescentou.
Poucos dias depois, Brown e Eagle encontraram outro artefacto – um pedaço de cerâmica – que os coelhos cavaram pelos mesmos buracos da descoberta anterior. Segundo uma outra publicação, esta peça de cerâmica, “aos nossos olhos (muito) destreinados, parecia velha”.
O fragmento de cerâmica veio de um pote de paredes grossas decorado com linhas incisas em volta do topo, disse Jody Deacon, curadora de arqueologia pré-histórica em Amgueddfa Cymru – Museu Nacional do País de Gales.
Este pote era provavelmente uma urna de vaso do início da Idade do Bronze, um recipiente associado a sepulturas de cremação. O fragmento de cerâmica datava de entre 2,100 e 1,750 a.C – há cerca de 3.750 anos.
Os mortos eram frequentemente cremados e enterrados em urnas no oeste do País de Gales naquela época, mas esta é a primeira evidência de tal urna na ilha de Skokholm ou em qualquer uma das ilhas ocidentais de Pembrokeshire.
“Esta é uma descoberta incrivelmente empolgante”, escreveram os guardas. “É bastante surpreendente que, durante milhares de anos, as pessoas tenham regressado a esta mesma área, algumas delas talvez a trabalhar em peles de foca, talvez a construir barcos de pele, outras a enterrar os seus mortos.”
Graças a estas descobertas, a Comissão Real de Gales planeia realizar trabalhos arqueológicos na Ilha de Skokholm já este verão.