Em 2008, durante escavações nas margens do rio Vesle, em Reims, no norte de França, uma equipa de arqueólogos descobriu algo incomum: três grandes (e bem preservados) barris de vinho de madeira da Antiga Roma.
Os arqueólogos tinham a certeza de que os barris tinham sido construídos no passado, mas não conseguiram, de imediato, determinar a sua idade exata. No entanto, a equipa acabou depois por perceber que estes eram de origem romana.
Quando os encontraram, os especialistas perceberam que estes tinham sido usados recentemente com o intuito de recolher água da chuva. Porém, testes químicos revelaram vestígios mínimos de ácido málico e tartárico. Esses ácidos são produtos da fermentação do álcool, o que significa que os barris podem ter sido originalmente usados para armazenar vinho.
Os barris de vinho romanos encontrados em Reims foram feitos quase exclusivamente com materiais colhidos no norte da Europa. A descoberta indica que estes provavelmente foram produzidos por fabricantes de barris ou tanoeiros locais, cujos serviços foram recorridos por comerciantes que trabalhavam na extensa rede de comércio de vinho do Império Romano.
Os recipientes foram construídos para conter até 1.200 litros de vinho, o suficiente para encher 1.500 garrafas fabricadas de acordo com os padrões modernos.
O bom estado dos barris possibilitou aos investigadores estudar as suas características físicas detalhadamente. A equipa percebeu que há uma grande ligação entre o trabalho de antigos artesãos e os tanoeiros modernos, sendo que estes últimos contaram basicamente com os mesmos tipos de ferramentas, materiais, técnicas de modelagem e metodologias de vedação que foram usados há 2.000 anos.
Revelado o comércio vinícola da era romana
O comércio de vinho no Império Romano foi organizado para ligar fabricantes, distribuidores e consumidores em todo o continente europeu. O vinho normalmente seria transportado por rio ou mar, antes de ser levado por via terrestre até ao destino final.
De acordo com o Ancient Origins, a extensa rede comercial criada pelos romanos, para facilitar a distribuição dos seus produtos mais populares, faria inveja a qualquer indústria do século XXI.
A complexidade do sistema de comércio de vinho romano foi revelada por uma série de marcas e assinaturas encontradas no exterior dos barris descobertos em Reims.
Essas marcas foram deixadas por uma ampla gama de artesãos e atores económicos, e representam uma espécie de manutenção de registos antigos que ajudam arqueólogos e historiadores a reconstruir o funcionamento do comércio de vinho romano.
“Os fabricantes usavam essas marcas para registar o seu trabalho com seu nome”, explicaram os arqueólogos Philippe Rollet e Pierre Mille. “Assim que o barril era montado, o tanoeiro colocava a sua marca com um ferro quente”, revelam.
Antes de enviar os barris aos fornecedores para serem enchidos, o comerciante de vinhos também adicionava a sua marca, para garantir que o recipiente seria devolvido à fonte correta.
Depois de o barril cheio ser devolvido ao comerciante, este adicionava outra marca para designar a identidade do comprador. Quando o barril era entregue ao remetente, este também adicionava o seu selo distintivo antes de transportá-lo.
“Assim, fica claro que muitos agentes diferentes no setor do vinho estavam envolvidos. Esta rede reunia vinicultores, artesãos, comerciantes, patrocinadores, transportadores e agentes em circulações de notável alcance geográfico, provincial e económico”, escreveram Rollet e Mille no seu artigo, publicado no jornal Gallia.
Segundo os autores, era normal os barris de vinho ficarem em uso entre 25 e 30 anos, antes de serem reciclados ou reaproveitados.
Os barris de vinho romanos estão agora em exibição em Reims, numa exposição patrocinada pela vinícola francesa Champagne Taittinger.