A dona de um canil acusada de maus tratos mantém outros 103 animais noutro terreno, sem permitir a sua adoção. Já foi apresentada uma queixa-crime, mas até agora ainda nada foi feito.
Em setembro, a Guarda Nacional Republicana (GNR) deteve uma mulher de 38 anos, proprietária de um abrigo para cães, pelo crime de maus-tratos a animais de companhia, no concelho de Gouveia, no distrito da Guarda.
A proprietária do canil Cantinho da Lili, Liliana dos Santos, é agora acusada de negligência para com os outros 103 animais que alberga, avança o jornal Público. Além disso, é acusada de quebrar contrato de promessa de compra e venda do terreno onde o canil se encontra, em Moimenta da Serra. A acusação parte de Lurdes Perfeito, a proprietária do terreno, que o pretende reaver.
“Tudo devia ter sido feito até finais de julho e nada aconteceu”, atira Lurdes Perfeito. “Eu fiz canis para os animais estarem bem, ela é que tornou aquilo numa lixeira com carros e motas abandonados, colchões e paletes. Não tem condições porque as deteriorou”, disse ao matutino.
Segundo os vizinhos, Liliana dos Santos “chegava a estar quatro a cinco dias sem ir ao canil”. As alegações foram confirmadas através das medições do contador que não acusava gastos “das 14h de quinta-feira até às 9h de segunda-feira”.
Eugénia Dias, ex-voluntária do canil, falou com o Público e partilhou algumas fotografias onde se podem observar animais mortos. Eugénia foi expulsa do canil, em setembro, após confrontar Liliana dos Santos com a situação.
“Disse-lhe que ela não prestava por fazer uma coisa daquelas aos animais. Eu estava a tratar deles e ela dormia, e deixava-os morrer à fome”, explicou a ex-voluntária.
Fonte da GNR da Guarda confirmou ao Público que “no mês de setembro foram feitas seis denúncias do canil em Moimenta da Serra, fruto de um litígio que existe entre a proprietária e quem está a explorar o canil”.
Entretanto, Lurdes Perfeito avançou com um processo de crime: “Coloquei um processo de crime, dizendo que esta senhora está a ocupar um espaço ilegal, que é meu, mas já se sabe como são esses processos, especialmente de animais”.
“Foi constituída arguida e tem 103 cães em sua posse, ninguém acha isto normal”, acrescentou a proprietária do terreno. “Não lhes chega o que aconteceu em Santo Tirso, e em São Paio? Agora ainda querem o mesmo aqui, com 103 cães? Temos que os salvar, mas como?”.
Lurdes explica ainda que a hesitação da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV) e do tribunal em “retirar a licença” a Liliana prende-se com o facto de “não haver fundamento”.
Na página de Facebook do Cantinho da Lili não se encontram apelos para adoção. “Eu questiono-me como é que alguém que consegue angariar dinheiro com tanta facilidade deixa os animais chegarem àquele ponto”, disse a gestora da página de Facebook “Carla Amaral”, onde denuncia situações de “pessoas que acumulam animais”.