Morte “acidental” de jovem em centro para menores em Espanha provoca indignação

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El País

Um vídeo sobre a morte “acidental”, no ano passado, de um jovem marroquino num centro de internamento no sul de Espanha está a provocar indignação no país. O Ministério Público já pediu a reabertura do processo.

Segundo a agência francesa AFP, o “vídeo perturbador” também levou a que se pedisse a proibição do método utilizado para imobilizar e amarrar Iliass Tahiri à sua cama.

O jovem, de 18 anos, morreu em 01 de julho de 2019 no centro de internamento de menores de Tierras de Oria, no sul da Andaluzia, onde esteve detido durante dois meses.

Em janeiro, um juiz de instrução arquivou o processo, concluindo que a sua morte foi “acidental”, mas as imagens de videovigilância, publicadas no início de junho pelo El País, não mostraram qualquer resistência violenta do rapaz que pudesse justificar a “contenção mecânica” utilizada contra ele.

A técnica utilizada, que consiste em amarrar alguém a uma cama para que não se possa magoar a si próprio, ou a outros, só pode ser usada se a pessoa estiver agitada ou agressiva, segundo a AFP.

Nas imagens, cuja autenticidade foi confirmada à AFP por uma porta-voz da Ginso, a entidade que dirige o centro, podem ver-se funcionários a colocar de forma energética o jovem de barriga para baixo.

Seis pessoas são usadas para o imobilizar e uma delas ajoelha-se na parte inferior das costas do rapaz para apertar uma correia à volta da sua cintura, antes de se dar conta de que este já não respira.

Alguns dias depois da difusão destas imagens, um defensor dos direitos apelou à proibição desta prática nos centros para jovens e, a 18 de junho, o Ministério Público de Almeria solicitou a reabertura do inquérito sobre a morte.

Se virem o vídeo, nunca vão chegar à conclusão de que foi acidental, como disse o juiz”, declarou à AFP um dos irmãos de Iliass, Anass Tahiri, de 22 anos, acrescentando que “este vídeo mostra como o mataram, é um assassínio”.

As filmagens já estavam a circular fora de Espanha, numa altura em que se multiplicavam os protestos em todo o mundo para condenar a morte, em maio, nos Estados Unidos, de um homem de raça negra, George Floyd, por um polícia branco ajoelhado no seu pescoço.

Francisco Fernandez Marugan, ativista de defensor dos direitos humanos, apela ao Governo para que altere a lei. “É necessária uma decisão rápida e radical para acabar, de uma vez por todas, com o uso de contenção mecânica” e “mais ninguém deve morrer em Espanha nestas circunstâncias”.

O Ministério Público de Almeria também ordenou a suspensão “imediata” desta prática nos centros geridos por Ginso. A associação sem fins lucrativos, cujo principal objetivo é a integração social de menores e jovens em conflitos sociais e grupos em risco de exclusão, foi criada em 2001.

A organização faz a gestão de Centros de Internamento de Menores Infratores e afirma que desenvolve “modelos de intervenção baseados na inovação e qualidade dos serviços”, de forma a garantir a sua adequada reinserção social.

ZAP // Lusa

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