Novas pesquisas sugerem que a famosa história dos elefantes bêbados pode ter uma essência de verdade.
Em 2005, uma equipa de biólogos da Universidade de Bristol decidiu investigar uma famosa história sobre elefantes bêbados, que conta que estes animais comem os frutos que caem do canhoeiro, uma árvore originária da África, e ficam embriagados.
Esta fruta é naturalmente doce e fermenta muito rápido assim que cai no solo, atingindo cerca de 3% de concentração de etanol alguns dias depois.
Durante décadas, os relatos de elefantes bêbados a invadir aldeias foram contados de geração em geração, até que os cientistas quiseram descobrir a veracidade desta história. O estudo da equipa de Bristol concluiu que é praticamente impossível que os elefantes fiquem bêbados com o consumo destas frutas.
No entanto, recentemente, uma equipa de cientistas levou a cabo uma nova pesquisa que deita por terra o estudo de 2005.
Desta vez, os cientistas decidiram investigar a presença de uma mutação genética em vários mamíferos, ligada ao metabolismo aprimorado do etanol. A equipa descobriu que, apesar de serem poucos, alguns animais têm mesmo a capacidade de processar rapidamente esta substância.
De acordo com o artigo científico, publicado recentemente na Biology Letters, o gene ADH7 produz uma enzima que metaboliza etanol e, nos caso dos seres humanos, este gene pode ter uma mutação que melhora a eficácia do metabolismo em 40 vezes.
Os investigadores desconfiam que a mutação tenha ocorrido há 10 milhões de anos e sugerem que todos os mamíferos que compartilham a mesma linhagem ainda têm esta versão mutada do gene, incluindo gorilas e chimpanzés.
Por outro lado, mamíferos cujas dietas geralmente carecem de frutas ou néctares – como vacas, cavalos e elefantes – são metabolizadores mais fracos de álcool, uma vez que estes animais perderam a versão funcional do ADH7.
Estudos anteriores sugeriram que maus processadores de álcool – como os elefantes – nunca seriam capazes de consumir frutas fermentadas suficientes para se embebedarem. Contudo, este estudo sugere que, afinal, pode ser possível.
“O mito dos elefantes bêbados persistente. Continua a ser uma questão em aberto e uma prioridade para pesquisas futuras”, disse Nathaniel Dominy, do Dartmouth College.
Isto significa que a história anedótica dos elefantes bêbados pode não ser assim tão descabida. Mareike Janiak, antropólogo da Universidade de Calgary, disse, citado pelo New Atlas, que este estudo “serve para lembrar às pessoas que precisamos de ser cautelosos quando extrapolamos as funções metabólicas humanas para os animais.