Uma nova investigação em torno de achados arqueológicos na cidade de Nazaré, em Israel, o local onde Jesus Cristo cresceu, podem ajudar a perceber melhor algumas das histórias que vêm na Bíblia.
Algumas das descobertas são divulgadas pelo arqueólogo Ken Dark, o director do Projecto Arqueológico de Nazaré, no livro “Roman-Period and Byzantine Nazareth and Its Hinterland” (Routledge, 2020) que foi publicado recentemente e que é divulgado pelo site científico Live Science.
Ken Dark liderou escavações e pesquisas na zona de Nazaré durante vários anos e também fez a revisão de estudos prévios sobre a cidade, levados a cabo por outros arqueólogos. E os seus estudos podem ajudar a explicar algumas histórias da Bíblia.
Uma das primeiras conclusões do arqueólogo é que Nazaré era maior do que se pensava. A cidade tem sido descrita como um pequeno assentamento, mas Ken Dark sustenta que pode não ter sido assim, frisando que foram descobertos indícios da “existência de estruturas domésticas, instalações de armazenamento e esconderijos” datados do período romano, bem como “indícios de agricultura, pedreiras e túmulos cortados em rocha”, que dão a ideia de que Nazaré seria uma cidade maior.
Por outro lado, o arqueólogo apurou que o povo de Nazaré rejeitou a cultura romana e chegou a organizar uma revolta contra o Império Romano por volta do ano 70 Depois de Cristo. Uma posição que terá contrastado com aquilo que se passava na cidade vizinha de Sepphoris que adoptou a cultura romana como sua.
“A separação cultural pode ter criado o que era, de facto, uma barreira invisível entre Nazaré e Sepphoris”, salienta Ken Dark.
A população de Sepphoris ter-se-á deixado aculturar, passando a usar, nomeadamente, estilos de cerâmica romanos, enquanto em Nazaré, as pessoas terão mantido as tradições locais, especialmente com uma preferência por cerâmica feita de calcário que era considerado um material “puro”, segundo as leis religiosas judaicas da época, como destaca Ken Dark.
Os agricultores perto de Sepphoris também usavam as fezes humanas como adubo, ao contrário do povo de Nazaré que respeitava a proibição imposta pelas Leis judaicas, acrescenta o arqueólogo no seu livro.
As pessoas enterradas em Nazaré estavam, habitualmente, em túmulos “kokhim”, ou seja, sepulturas esculpidas na pedra, com entradas fechadas por pedras rolantes – o mesmo tipo de túmulo onde Jesus Cristo foi enterrado, segundo a Bíblia. Estas pessoas “podem ter desejado expressar uma identidade fortemente judaica”, salienta Dark no livro como cita o Live Science.
A Bíblia alega que, apesar de ter crescido em Nazaré, Jesus foi mal recebido pelo seu povo quando visitou a sua cidade natal, até por membros da sua própria família.
Dark diz que as descobertas arqueológicas indiciam que o povo de Nazaré pode não ter concordado com alguns dos ensinamentos de Jesus, já que acreditava numa interpretação muito rígida das Leis judaicas.
“A mensagem abrangente de salvação apresentada por Jesus [e que incluía os romanos] pode também ter sido controversa para as pessoas locais que podem ter tentado criar uma barreira cultural entre eles e os romanos”, nota o arqueólogo ao Live Science.
A comparação dos “ensinamentos de Jesus sobre a pureza religiosa com o que parecem ter sido as atitudes culturais locais do povo de Nazaré, com base em indícios arqueológicos”, sugere que as pessoas podem ter achado que colidiam com “a sua própria percepção do que era puro e impuro“, refere ainda Ken Dark.
Haveria também uma diferença relativamente à percepção de pureza quanto à comida, com a Bíblia a realçar que, segundo Jesus, “não há nada fora de uma pessoa que, ao entrar, possa contaminar” o corpo. Já os indícios arqueológicos apontam que o povo de Nazaré teria uma interpretação diferente.
Ken Dark continua a fazer pesquisas em Nazaré e prevê lançar, no final do ano, um novo livro, onde deverá fazer mais revelações sobre as descobertas arqueológicas encontradas.