Negligência, privações e adversidades na infância podem fazer com que uma pessoa cresça com um cérebro mais pequeno, indica uma nova investigação.
Uma equipa de investigadores acompanhou um grupo de crianças adotadas que passaram algum tempo da sua infância em orfanatos de fraca qualidade e chegaram à conclusão que os seus cérebros eram 8,6% mais pequenos do que as outras crianças adotadas analisadas, que não tinham vivenciado qualquer tipo de maus-tratos.
O líder da investigação, Edmund Sonuga-Barke, explica que, nestes orfanatos, as crianças eram física e psicologicamente privadas de contacto e de estímulos, além de serem “acorrentadas aos seus berços” e apresentarem sinais de desnutrição.
Neste estudo, levado a cabo por cientistas do King’s College London, no Reino Unido, os investigadores analisaram 67 crianças romenas adotadas, cujos cérebros foram comparados com os de outras 21 crianças que não viveram uma infância com grandes privações.
“O que descobrimos é surpreendente”, disse o líder, citado pela BBC. O volume total do cérebro das crianças romenas adotadas era, em média, 8,6% mais pequeno. No fundo, quanto mais tempo a criança tinha passado em orfanatos na Roménia, mais pequenos eram os seus cérebros – ainda que o impacto deste efeito não seja uniforme.
“Encontramos diferenças estruturais entre os dois grupos de crianças em três regiões do cérebro”, adiantou Mitul Mehta, um dos autores do artigo científico, publicado a 7 de janeiro na Proceedings of the National Academy of Sciences. As regiões estão relacionadas com funções como organização, motivação, integração da informação e memória.
Estas descobertas podem ajudar a explicar o QI (quociente de inteligência) menor e os níveis mais altos de autismo nestes adultos que tiveram uma infância mais complicada.
No entanto, os investigadores advertem que este estudo não é capaz de explicar que aspetos das privações e negligências nos primeiros anos de vida causaram estes efeitos cérebrais – o que significa que é difícil calcular o efeito a longo prazo de outros traumas na infância.
Ainda assim, fica claro que o impacto no desenvolvimento do cérebro de uma criança vai muito além da má nutrição.