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Mosquitos geneticamente modificados libertados no Brasil estão a reproduzir-se

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Frank Hadley Collins / Sanofi Pasteur / Flickr

Fêmea de Aedes aegypti, mosquito que pode transmitir três doenças: zika, dengue e chikungunya

O inesperado aconteceu: mosquitos geneticamente modificados estão a reproduzir-se no Brasil. A empresa responsável pela criação destes insetos mutantes realça que não há perigo para a saúde das pessoas.

O plano para reduzir a população local de mosquitos na cidade de Jacobina, no Brasil, saiu totalmente furado. Com a ideia geral de travar a disseminação de doenças transmitidas por este inseto, como febre amarela, dengue e zika, os cientistas soltaram 450 mil mosquitos geneticamente modificados.

“A alegação era de que os genes da cepa libertada não entrariam na população geral porque as suas crias morreriam. Isso obviamente não foi o que aconteceu“, explicou Jeffrey Powell, autor do estudo publicado na semana passada na revista Scientific Reports.

A verdade é que os mosquitos geneticamente modificados conseguiram reproduzir-se com os outros mosquitos, elevando ainda mais a sua população na região. A experiência iniciada em 2013 foi realizada pela empresa de biotecnologia britânica Oxitec e os resultados conseguidos estão a levantar preocupações em relação à sua segurança.

O objetivo inicial da Oxitec era reduzir a população em 90%, sem afetar a sua integridade genética. De acordo com o Gizmodo, apesar de assegurarem o contrário, cientistas da Universidade de Yale acompanharam o desenvolvimento da experiência e detetaram material genético dos mosquitos geneticamente modificados na população local.

Os investigadores descobriram “claras evidências” de que partes do genoma dos mosquitos transgénicos “foram incorporados na população-alvo”.

“Baseado amplamente em estudos de laboratório, é possível prever qual será o resultado provável da libertação de mosquitos transgénicos, mas estudos genéticos do tipo que fizemos devem ser feitos durante e após essas libertações para determinar se aconteceu algo diferente do previsto”, explicou Powell.

A Oxitec previa que três quartos das crias de mosquitos conseguiriam sobreviver até à idade adulta, mas que seriam demasiado fracos para se reproduzirem. Contudo, não foi isso que se verificou.

Inicialmente, as suas aspirações até estavam bem encaminhadas, com a população de mosquitos em Jacobina a decrescer significativamente. Porém, viria a recuperar, chegando quase aos níveis iniciais. Os cientistas acreditam que isto se tenha devido a uma discriminação por parte das fêmeas, que se recusaram em acasalar com machos modificados geneticamente.

Um porta-voz da Oxitec disse à Gizmodo que a empresa está “atualmente a trabalhar com os editores da Nature Research [a revista científica responsável pela publicação] para remover ou corrigir substancialmente o artigo, que contém inúmeras alegações e declarações falsas, especulativas e sem fundamento sobre a tecnologia dos mosquitos da Oxitec”.

De acordo com o porta-voz, a investigação não identificou nenhum “efeito negativo, deletério ou imprevisto para as pessoas ou para o meio ambiente da libertação dos mosquitos”.

Entretanto, a Scientific Reports adicionou uma nota no artigo em que realça que a investigação está sujeita a críticas que estão a ser consideradas por responsáveis da revista científica.

ZAP //

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15 Comments

  1. e foi assim que nasceu o mosquito tigre?!!! agora somos nos que pagamos na farmacia para combater as picadas desses mosquitos, tirando os que contraem doenças e ou morrem por isso. Vem vindo ao novo mundo, o mundo onde os ricos fazem o que querem e os pobres cada vez mais pobres nada podem fazer muito menos dizer ou falar.

  2. A intenção parece ser boa. E é para a população de Jacobina, ricos e pobres. De qualquer forma, acho que a manipulação genética envolve riscos imponderáveis. A natureza encontra maneiras imprevisíveis de garantir a sobrevivência e a continuidade através de mutações e adaptações. Lembro-me que existiu um projeto semelhante para combater a malária, em África, introduzindo mosquitos estéreis na população de mosquitos portadores da doença. Não sei o que aconteceu a esse projeto. Não me admiraria se tivesse sido abafado pelos fabricantes de medicamentos para a malária. Não sei, claro, mas a indústria farmacêutica é uma máfia sem escrúpulos. A malária infetou 216 milhões de pessoas em 2016 e provocou, em 2015, 730 500 mortes (Wikipédia). São muitos “clientes”…

  3. Pelos vistos falharam e possivelmente até foram precipitados demais ao pôr os ensaios em prática sem haver uma certeza dos resultados a obter.

  4. O c da palavra facto não desapareceu com o “desacordo” ortográfico porque continua a pronunciar-se. Vamos de mal a pior com este desacordo!! E nos países tropicais de expressão oficial portuguesa( especialmente na Guiné Conacri) nem o aceitaram talvez pelo incómodo de andar de fato e gravata!!!

  5. O processo seguro e que continua a resultar é criar espécies fêmeas, torná-las estéreis e libertá-las no meio que se quer reduzir!

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