A sífilis ainda é um problema de saúde pública em Portugal, que não tem conseguido diminuir o número global de casos, nomeadamente nos recém-nascidos, e regista até um aumento em grupos particulares, como os homossexuais.
“Sífilis no século XXI” é um dos temas do Congresso da Sociedade Portuguesa de Dermatologia e Venerologia que decorre sexta-feira e sábado em Braga e no qual as doenças sexualmente transmissíveis são um dos assuntos centrais.
“Não é uma infeção antiga. As pessoas pensam na sífilis nos avós e bisavós, mas ainda é uma realidade hoje em dia“, disse à agência Lusa a dermatologista Carmen Lisboa.
Os dados oficias mostram que entre 2009 e 2012 foram notificados cerca de 700 casos de sífilis recente – adquirida no último ano – , mas há sempre tendência para a subnotificação.
“Temos seguido o que ocorre nos outros países europeus, em que não tem havido uma grande variação global do número de sífilis recente”, refere Carmen Lisboa.
Tem-se ainda verificado um aumento em grupos particulares de pessoa, como nos homens que têm sexo com homens, também à semelhança do que acontece
no resto da Europa.
“Apesar de haver um tratamento, que é barato e simples, e não está registada resistência antibiótica da sífilis, não temos conseguido extinguir a doença e ela continua prevalente e a ser um problema de saúde pública”, resume a especialista.
O tratamento, que passa pela penicilina, é conhecido há já muitos anos e os peritos admitem que a doença deveria estar mais controlada, mas não tem sido possível por vários fatores, como os associados à prática sexual.
Aliás, a modificação do comportamento sexual e o aparecimento da sida, provocada pelo vírus VIH, induziram um novo aumento na incidência desta infeção na globalidade dos países.
O que difere Portugal da generalidade dos países europeus é a sífilis congénita, que passa de mãe para filho durante a gravidez.
“Portugal não surge bem em termos de sífilis congénita, que é um indicador de alguns cuidados de saúde primária notificação de casos não tem diminuído”, adianta Carmen Lisboa.
Nos anos de 2009 a 2012 foram notificados 46 casos de sífilis em recém-nascidos e pelo menos desde 2002 não tem havido uma redução significativa.
Segundo a dermatologista, o contágio mãe-filho pode ser evitado ao fazer-se um diagnóstico adequado durante a gravidez, com o normal rastreio à doença através de análises de sangue.
Muitos dos casos de sífilis congénita registados em Portugal são de partos de grávidas imigrantes, que não foram seguidas no sistema de saúde português.
A sífilis pode evoluir sem qualquer sintoma mesmo durante vários anos e é uma doença que mascara outras patologias.
São os dermatologistas que fazem mais frequentemente o seu diagnóstico, porque quando a doença se manifesta é geralmente na pele, através de manchas ou feridas.
/Lusa