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Protestos, detidos e estado de emergência. Um super-telescópio está a agitar o Havai

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occupyhilo / Flickr

Manifestantes estão contra a construção do Thirty Meter Telescope no Mauna Kea, no Havai

Centenas de manifestantes estão reunidos, na base da montanha Mauna Kea, no Havai, para contestar a construção no seu pico de um super-telescópio, avaliado em mil milhões de dólares.

Segundo o Washington Post, os anciãos havaianos, conhecidos como kupuna, e outras centenas de manifestantes estão a bloquear a estrada de acesso à montanha Mauna Kea, sentando-se em cadeiras ou ficando algemados numa grade de metal.

Para os havaianos nativos, esta montanha é um local sagrado. Para os astrónomos, no entanto, representa um dos melhores sítios do planeta para observar o Espaço.

“Não queremos o telescópio nesta montanha. Esta montanha representa mais do que um edifício que agora querem construir. Esta montanha representa a última coisa que eles querem levar e que nós não lhes vamos dar”, afirmou Walter Ritte ao Hawaii News Now.

Em causa está a construção do Thirty Meter Telescope (TMT) – Telescópio de Trinta Metros em Português -, assim batizado pelo diâmetro do seu espelho. Este é um projeto de 1,4 mil milhões de dólares que, segundo o governador do Havai, David Ige, seria para começar na segunda-feira.

(dr) Thirty Meter Telescope

Representação artística do Thirty Meter Telescope

Durante a semana, mais de 30 manifestantes foram detidos e, esta sexta-feira, o governador decidiu declarar o estado de emergência e autorizou o estado a tomar medidas de emergência e a levar para o local a guarda nacional, escreve o New Scientist.

Foi em 2009 que o Mauna Kea foi escolhido para receber o TMT, por causa da sua elevação e céu limpo. O telescópio vários metros de altura e vai proporcionar aos astrónomos uma oportunidade de observar melhor planetas, estrelas, galáxias e buracos negros.

Os protestos pacíficos começaram em 2014, durante a cerimónia da colocação da primeira pedra no local e, no ano seguinte, conseguiram impedir o início da sua construção. Mais tarde, o Supremo Tribunal do Havai confirmou a decisão do Conselho Estatal de Terras e Recursos Naturais de conceder uma licença de construção. E então, em junho de 2019, a agência permitiu que a construção do TMT avançasse.

O Departamento de Terras e Recursos Naturais do estado deu uma concessão de terra à Universidade do Havai e a outros grupos para a construção de observatórios. Antes do TMT, o pico da montanha já abrigava outros 13 telescópios, cujo trabalho está agora em suspenso, uma vez que os funcionários foram evacuados devido aos protestos.

“Estamos a perder todas as coisas pelas quais somos responsáveis enquanto havaianos. Somos responsáveis pelos nossos oceanos, pela nossa terra, pelas nossas gerações futuras”, continua Ritte.

Caso a ideia não vá para a frente, o Thirty Meter Telescope tem um plano B: mudar-se para La Palma, nas Ilhas Canárias, em Espanha.

ZAP //

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4 Comments

  1. As superstições e crenças sem sentido algum, ainda se impõem à ciência! Que tristeza. O telescópio é para aprender, descobrir e não para poluir ou estragar. Se fosse um hotel ou outra coisa fútil ainda vá, agora um instrumento para desenvolver o conhecimento? Por que os havaianos não aproveitam e candidatam-se a trabalhar no mesmo? Haverá melhor forma de honrar o seu legado?

  2. Para eles esse lugar tem uma simbologia, isso é como se quisessem derrubar a catedral da Sé, ou uma mesquita, ou um templo católico histórico, pra nós que ñ fazemos parte da cultura não há razão, mas para eles que já abriram mão de vários lugares, é questão de honra. Não acredito em mística, porém, essa luta para eles é por algo espíritual, histórico, é sentimental. E nesse presente século, o espíritual é o sentimento são abominados em nome do progresso.

  3. Aposto que ninguém em Portugal aceitaria que se demolisse Fátima para instalar um telescópio ou qualquer outro centro de invewtigação científica – independentemente da fé de cada um, simplesmente pelo símbolo que representa para a maior parte dos portugueses (quer queiramos, quer não) e para o País.

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