Uma cientista portuguesa descobriu que dois fungos podem sobreviver a doses incrivelmente altas de radiação ionizante e, por isso, podem adaptar-se com facilidade nas viagens espaciais.
De acordo com o Science Alert, isto significa que ambos poderiam sobreviver às condições de radiação do exterior de uma nave especial e, por isso, talvez seja necessário dar mais atenção aos fungos que poderão “apanhar boleia” até Marte.
“Agora sabemos que resistem ainda mais à radiação do que pensávamos, ao ponto de precisarmos de os ter em conta quando estivermos a limpar naves espaciais, tanto por dentro como por fora”, declara a microbióloga portuguesa Marta Cortesão, que está a fazer o Doutoramento em Microbiologia Espacial no Centro Aeroespacial Alemão (DLR).
E, embora a Estação Espacial Internacional (EEI) possa ser climatizada e ter os níveis de humidade controlados, no fundo, continua a ser uma “caixa fechada”, havendo humidade suficiente para que o bolor continue a crescer nas suas paredes.
Os fungos em questão são o Aspergillus e o Pennicillium, que estão entre os invasores mais comuns na EEI e que podem causar infeções respiratórias, o que não é de todo o cenário ideal quando nos encontramos no Espaço e com uma oferta limitada de medicação.
A investigadora e o resto da equipa colocaram os esporos dos fungos numa solução salina e implantaram três tipos de radiação: raios-X, iões pesados e radiação ultravioleta de alta frequência que é interrompida pela atmosfera terrestre, mas que se propaga livremente no Espaço.
Os fungos sobreviveram a doses incrivelmente altas: 500 gray de iões pesados e 1.000 gray de raios-X (o gray é a unidade que representa a quantidade de energia de radiação ionizante absorvida por unidade de massa, ou seja, um joule de radiação absorvida por um quilograma de matéria).
Para melhor entender estes valores, só precisamos de saber que metade de um gray é suficiente para provocar uma doença radioativa num humano e cinco são mesmo fatais.
Os esporos também sobreviveram a 3.000 joules por metro quadrado da radiação ultravioleta. Assim, dada apenas a radiação, é de se esperar que os fungos sobrevivam a uma viagem espacial, mesmo quando isso implica ir para outro planeta.
A equipa, que apresentou as suas conclusões na Astrobiology Science Conference deste ano, ainda não testou outras condições espaciais como, por exemplo, o vácuo e as temperaturas extremas, embora pesquisas anteriores conduzidas na DLR tenham descoberto que outros organismos também poderiam sobreviver a isso, estando alojados numa unidade especial ligada à parte externa da estação espacial.
No entanto, de acordo com Marta Cortesão, que também estudou na Universidade do Porto, bolor no Espaço não tem necessariamente de ser uma coisa má. “Pode ser utilizado para produzir antibióticos e vitaminas ou outras coisas necessárias em missões longas”.
Este estudo contribui para o suporte das teorias que defendem a circulação de material biológico pela galáxia, o qual poderia ser a origem da vida na Terra.