Dos 11 terramotos mais fatais de sempre, dez ocorreram no continente asiático, com um total de mais de três milhões de vítimas, tendo o primeiro decorrido em Shansi (China), em 1556, com 830 mil mortes registadas.
Este terramoto, que atingiu 8.0 na escala de Richter (relativa à magnitude, a energia libertada por um sismo), afetou mais de 97 municípios da China, estimando-se que até 60% da população de algumas dessas localidades tenha morrido.
Os dados em questão são avançados no artigo “Natural Catastrophes”, publicado o mês passado no Our World in Data pelos investigadores Max Roser e Hannah Ritchie, e no qual é estabelecido o ‘ranking’ dos 11 terramotos conhecidos mais mortíferos da História.
Segundo este estudo, embora as inundações, as secas e as epidemias tenham dominado as mortes por desastres naturais, os terramotos – muitas vezes precursores de ‘tsunamis’ – podem revelar-se igualmente letais, provando que estes fenómenos têm sido uma ameaça ao longo do tempo.
Tendo por base as estimativas de mortalidade do National Geophysical Data Center (NGDC) da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA), os responsáveis concluíram que o sismo em Shansi contabilizou mais do dobro de mortes do que o segundo mais fatal.
De acordo com a equipa, desde o fim do século XX e início do século XXI, os anos de 2004 e de 2010 foram aqueles com maior número de mortes a nível mundial, tendo os terramotos causado 93% e 69% das mesmas, respetivamente.
Curiosamente, dois dos eventos naturais mais violentos já registados ocorreram nesses mesmos anos: o terremoto e o tsunami em Sumatra (Indonésia), em 2004, e o sismo em Porto Príncipe (Haiti), em 2010.
O primeiro destes, sétimo no ‘ranking’, atingiu 9.1 na escala de Richter e resultou numa série de grandes ‘tsunamis’, com ondas que variaram entre 15 a 30 metros de altura. Este desastre natural originou, aproximadamente, 230 mil vítimas em 14 países, sendo a Indonésia a região mais atingida, seguida pelo Sri Lanka, pela Índia e pela Tailândia.
Já o segundo é o único dos 11 que não ocorreu num país asiático, considerado o segundo terramoto mais fatal de sempre, ao atingir 7.0 na escala de Richter e a originar a morte de 316 mil pessoas, número “ainda hoje contestado”.
Apesar de estes dois terramotos terem ocorrido nas últimas duas décadas, alguns dos mais letais aconteceram num passado muito distante, como é o caso dos sismos em Antáquia (Turquia), nos anos de 115 (7.0 na escala de Richter) e de 525 (7.0 na mesma escala), que causaram, de forma respetiva, 260 e 250 mil mortos.
Na lista do ‘ranking’ elaborado por Max Roser e Hannah Ritchie consta ainda, no quinto lugar, o sismo em Tangshan (China), em 1976, que atingiu 7.5 de magnitude e originou a morte de cerca de 243 mil pessoas. Segue-se o terramoto em Ganja (Azerbeijão), com 230 mil mortos e magnitude desconhecida.
A oitava posição é partilhada pelos sismos que ocorreram em Damghan (Irão), datado de 856, e em Gansu (China), em 1920. Ambos contabilizaram 200 mil mortes, com pouca diferença relativamente à magnitude – 7.9 e 8.3, respetivamente.
Nas últimas duas posições do ‘ranking’ aparecem os terramotos em Dúbio (Arménia), que decorreu em 893 e causou 150 mil mortes (com magnitude desconhecida) e em Tóquio (Japão), em 1923, com 7.9 na escala de Richter e à volta de 143 mil vítimas.
Posição | Local | Ano | Nº de mortes | Magnitude |
---|---|---|---|---|
1 | Shansi, China | 1556 | 830,000 | 8 |
2 | Porto Príncipe, Haiti | 2010 | 316,000 | 7 |
3 | Antáquia, Turkey | 115 | 260,000 | 7.5 |
4 | Antáquia, Turkey | 525 | 250,000 | 7 |
5 | Tangshan, China | 1976 | 242,769 | 7.5 |
6 | Ganja, Azerbaijão | 1139 | 230,000 | – |
7 | Sumatra, Indónesia | 2004 | 227,899 | 9.1 |
=8 | Damghan, Irão | 856 | 200,000 | 7.9 |
=8 | Gansu, China | 1920 | 200,000 | 8.3 |
9 | Dúnio, Arménia | 893 | 150,000 | – |
10 | Tóquio, Japan | 1923 | 142,807 | 7.9 |
Terramotos: cíclicos ou aleatórios no tempo?
O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) define terramoto (ou sismo) como uma episódio causado por uma “súbita libertação de tensão”, que se acumula devido à rutura dos materiais na crosta terrestre. Segundo o instituto, quando a deformação desses materiais excede a força de coesão das rochas sob tensão, os mesmos partem-se.
A libertação dessas tensões, explica o instituto, são facilitadas pela presença de líquidos e a temperatura, sendo o local em profundidade onde inicia-se a rutura denominado hipocentro e o ponto à superfície na sua vertical epicentro.
Em declarações ao ZAP, Rui Moura, professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), explicou que os sismos de origem tectónica estão, essencialmente, relacionados com o movimento e reajustamento de placas e respetivas falhas geológicas da crosta terrestre.
“Esses eventos não são aleatórios no sentido estrito do termo, visto existir algum padrão de ocorrência, tanto espacial como temporal. Porém, apesar de sabermos onde esses eventos podem ocorrer com maior ou menor frequência, o momento exato, até agora, é algo que a ciência não consegue antecipar”, referiu o especialista.
De forma geral, indicou, ocorrem em média um a dois terramotos de magnitude 8-9 a nível mundial por ano, aproximadamente uma a duas dezenas de sismos com magnitude 7-8, à volta de uma a duas centenas de sismos com magnitude 6-7 e um a dois milhares de sismos com magnitude 5-6.
Na opinião do professor de Geociências, Ambiente e Ordenamento do Território da FCUP, o padrão de ocorrência destes eventos “varia um pouco de ano para ano”, embora não se tenha verificado uma tendência ou aumento dos mesmos. O ano de 2018 segue “a mesma tendência geral”, sem exibir um “padrão anómalo”.
O que tem aumentado, contudo, é a exposição humana a esses eventos, originada pelo crescimento da população mundial nas últimas décadas, bem como a divulgação dos mesmos, que se tem tornado “mais aberta e frequente”.
“Hoje em dia, podemos contribuir mais facilmente, com o nosso telemóvel, para a colheita de imagens, fotografias e depoimentos, coisa que seria impensável no passado e até mesmo há 20 anos”, afirmou.
Devido a esses dois fatores – exposição e capacidade de comunicação -, Rui Moura acredita que, “por vezes, a sociedade fica um pouco com a ideia que determinados eventos aumentaram a sua frequência de ocorrência”.
“É preciso não esquecer que, em 1960, a população mundial era de três mil milhões, ao passo que hoje já atingimos os 7,6 mil milhões”, frisou.
Portugal no cenário sísmico
De forma a averiguar a situação a nível nacional, uma equipa de investigadores do Instituto de Ciências da Terra da Universidade de Évora divulgou, em 2017, na revista Seismological Research Letters, da Sociedade Americana de Sismologia, um estudo sobre os sismos e terramotos que aconteceram em Portugal entre 1300 e 2014.
Neste relatório, os responsáveis analisaram um período histórico (entre 1300 e 1985), com recurso a cartas, relatórios, documentos e notícias, e um período mais recente (1986 a 2014), utilizando resultados obtidos em medições instrumentais.
Para a obtenção dos resultados, os dados recolhidos pela equipa foram convertidos para a Escala de Mercalli Modificada e, para a elaboração do mapa, considerados somente os sismos com uma intensidade igual ou superior a V (cinco), que, segundo o IPMA, pode ser sentido fora de casa, deslocar ou derrubar objetos ou acordar quem está a dormir.
Enquanto no período histórico se registaram 160 eventos sísmicos, no mais recente foram estudados 15 terramotos, tendo os cientistas concluído que aproximadamente cem anos separam os três sismos com magnitude superior a 8.0 na escala de Ritcher ocorridos no período em causa.
Trata-se do sismo de 1755, que foi sentido em toda a Europa e deu origem a um ‘tsunami’ em Portugal, no golfo de Cádis e no norte de Marrocos, do terramoto de 1858, com epicentro ao largo da costa, e o do evento de 1969, seguido de um ‘tsunami’ pouco intenso.
A propósito do sismo de 1755, o Smithsonian Channel dedicou, em 2014, um episódio do programa “Perfect Storms” aos trágicos eventos que destruíram Lisboa, tendo exibido um documentário com o título “God’s Wrath” (“A Ira de Deus”), que faz uma reconstrução do terramoto, maremoto e incêndio que então ocorreram.
“A 1 de Novembro de 1755, no Dia de Todos os Santos, com milhares de velas acesas nas casas, capelas e igrejas, um choque de placas tectónicas ao largo de Lisboa provoca um terramoto, subsequente maremoto, e centenas de incêndios. A tragédia provocou milhares de mortos e causou grande destruição em Lisboa”, explicou o documentário.
Relativamente às regiões de maior intensidade sísmica, os investigadores da Universidade de Évora entendem que as zonas de Lisboa e arredores, o norte da costa alentejana e o Algarve são as mais sensíveis, devido ao confronto das placas tectónicas africana e euroasiática.
Tal como a equipa da Universidade de Évora, também Rui Moura acredita que, no quadro europeu, Portugal é um país com uma “sismicidade relativamente elevada”, mas não é tão elevada como, por exemplo, a situação Itália ou Grécia.
“O nosso país, em termos de continente e ilhas, fica próximo da zona de fronteira entre as placas euroasiática e africana. O sul de Portugal continental e o arquipélago dos Açores, em particular, são as zonas mais próximas dessa referida área de fronteira de placas tectónicas”, disse.
Estamos preparados para um grande sismo?
Rui Moura defende que Portugal “tem um papel importante em termos da História mundial da sismologia como ciência”, uma vez que foi o sismo de 1755 “que despertou a consciência coletiva e inteletual do mundo moderno da altura para o seu estudo como eventos naturais”.
No entanto, apesar do trabalho desenvolvido a nível da preparação e da prevenção de episódios sísmicos, acredita que ser possível um maior investimento nestas áreas, apontando, contudo, os simulacros de cenários de grande sismo coordenados pela Proteção Civil e outras entidades civis e militares como boas medidas para apoiar a população.
Do ponto de vista didático, contou o investigador, tem ocorrido, nos últimos anos, o evento “Terra Treme“, que visa criar consciência junto das pessoas para possíveis desastres.
“Nada melhor do que estarmos bem preparados e conscientes de como se reagir e do que deve e não deve ser feito por cada um de nós. Na eventualidade de acontecer um grande sismo, nunca será um acontecimento com pouco impacto mas só com preparação e alguma prevenção se pode transformar uma potencial catástrofe num simples desastre”, concluiu o especialista.
Continente onde a maior parte não aceita o Cristianismo, é também a proibição de pregá-lo.
Ahahahaaa!…
Não aceitam o cristianismo, logo levam com terremotos!…
Brilhante esse raciocínio; tu vais longe!…
É A VONTADE DO Sr. Cristo.
Quem não acredita em mim, Leva com terramotos.
Quem não acredita em mim, Não necessita ler a Bíblia
Quem não acredita em mim, Os meus pastores (Padres Fredericos etc) Violam e Matam Crianças,
Quem não acredita em mim, Levaram com a Santa Inquisição.
Quem não acredita em mim, Promovo Hitler contra Judeus, e não só.
Quem não acredita em mim, Leva com os nossos Políticos corruptos.
Acho que é melhor ficar por aqui, muito mais haveria a relatar.
Os investigadores da Univ. de Évora fizeram um trabalho muito mau!
Não incluiu o de 1531 que devastou Lisboa e que foi ao nível do de 1755. (foi muito esquecido pelo uso politico/religioso feito com o último) Por outro lado é muito estranho que só usem dados históricos até 1986 quando já existiam muitos sismógrafos a nível mundial muito antes disso (na década de 60 já tinhamos em Portugal dos melhores do mundo!)