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200 anos de História perdidos. Incêndio destrói o Museu Nacional do Brasil

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Marcelo Sayao / EPA

A instituição, criada há 200 anos, era o mais antigo e um dos mais importantes museus do país.

Um incêndio de grandes proporções que deflagrou no domingo destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro, Brasil, que corre agora o risco de desabamento. As razões do incêndio são ainda desconhecidas.

“O arquivo histórico do museu, de 200 anos de história do país, foi totalmente destruído”, disse o vice-diretor do museu, Luiz Fernando Dias Duarte, pouco depois de os bombeiros terem lançado um alerta para o risco de desabamento do Museu Nacional, em consequência do incêndio que não causou vítimas, avançou a GloboNews.

O Presidente do Brasil, Michel Temer, já reagiu, em comunicado: “Incalculável para o Brasil a perda do acervo do Museu Nacional. Hoje é um dia trágico para a museologia do nosso país. Foram perdidos duzentos anos de trabalho, pesquisa e conhecimento. O valor para a nossa história não se pode mensurar, pelos danos ao prédio que abrigou a família real durante o Império. É um dia triste para todos brasileiros”.

Antes, o Ministério da Educação já havia lamentado as consequências do incêndio no Museu Nacional “criado por D. João VI e que completa 200 anos este ano”.

O mesmo ministério sublinhou que serão feitos todos os esforços para auxiliar a Universidade Federal do Rio de Janeiro, que geria o museu, no que for necessário para a recuperação do património histórico.

A reitoria da universidade indicou que o incêndio começou por volta das 19:30 (23:30 em Lisboa) e que não há registo de vítimas. As razões do incêndio são ainda desconhecidas, segundo a agência France-Presse.

O Ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, afirmou que um contrato de revitalização do Museu Nacional foi assinado em junho, mas não houve tempo para que o projeto pudesse acontecer e para que a “tragédia” fosse evitada.

Segundo o governante, citado pela GloboNews, houve “negligência” em períodos anteriores. Já a presidente do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional, Kátia Bogéa, falou numa “tragédia anunciada”.

O Museu Nacional é a mais antiga instituição científica do Brasil voltada para a pesquisa e memória da produção do conhecimento, hoje vinculada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, pode ler-se no site dedicado ao museu.

A sua história remonta aos tempos da fundação do Museu Real por D. João VI, em 1818, cujo principal objetivo era propagar o conhecimento e o estudo das ciências naturais em terras brasileiras. Hoje, é reconhecido como um centro de pesquisa em história natural e antropológica na América Latina.

Acervo com mais de 20 milhões de peças

O museu detinha um acervo composto por mais de 20 milhões de itens distribuídos por coleções que servem de base para a pesquisa desenvolvida pelos Departamentos de Antropologia, Botânica, Entomologia, Geologia e Paleontologia, Vertebrados e Invertebrados.

Do acervo do museu fazia parte uma coleção egípcia e outra de arte e artefatos greco-romanos, bem como coleções de Paleontologia, incluindo um esqueleto de um dinossauro encontrado em Minas Gerais e o mais antigo fóssil humano descoberto no atual território brasileiro, batizado “Luzia”.

Grande parte das coleções do Museu Nacional foi reunida durante a Regência e o Império, entre as quais as oriundas do “Museu do Imperador”, localizado numa das salas do Paço da Boa Vista. D. Pedro II, tal qual a Imperatriz Leopoldina, sua mãe, nutria grande interesse pelo colecionismo e pelo estudo das ciências naturais.

A instituição, criada há 200 anos, foi fundada por D. João VI, de Portugal, e era o mais antigo e um dos mais importantes museus do país.

O Museu Nacional do Rio de Janeiro era o maior museu de História Natural e Antropologia da América Latina e o edifício tinha sido residência da família Real e Imperial brasileira.

Segundo a edição brasileira do El País, o acervo tinha ainda o maior e mais importante acervo indígena e uma das bibliotecas de antropologia mais ricas do Brasil.

A instituição, ligada à Universidade Federal do Rio de Janeiro, era alvo de cortes orçamentais há pelo menos três anos.

O vice-diretor do Museu Nacional considerou o incêndio uma “catástrofe insuportável”. “O arquivo de 200 anos virou pó. São 200 anos de memória, ciência, cultura e educação, tudo transformado em fumo por falta de suporte e consciência da classe política brasileira”, afirmou o responsável, sublinhando: “O meu sentimento é de imensa raiva por tudo o que lutamos e que foi perdido na vala comum”.

ZAP // Lusa

12 Comments

  1. Zap,

    “acervo” è uma palavra absolutamente em desuso em português (continental), até porque, literalmente, significa “grande quantidade”, “montão” o que implica também “não organizado”.
    Normalmente usamos ‘património’ ou mais especificamente no caso de museus, artes e afins, ‘espólio’.

    Para além da citação das entidades brasileiras em que usam a palavra ‘acervo’, e que sendo uma citação, deve ser mantida, gostaria que a redacção do artigo fosse em português, e não um mero ‘copy-paste’ da notícia brasileria. Já chegam as telenovelas e o “aborto horto gráfico” para darem uma boa machadada na nossa belíssima língua.

    PS – Eu NÃO escrevo segundo o “aborto horto gráfico”.

    • ah,

      O ZAP escreve em pt_PT, com ou sem AO, de acordo com a opção do redactor que o faz.
      Esta notícia não foi feita com base numa fonte brasileira. É da Lusa, que cita a FRance Presse.

      Obrigado pelas suas sugestões. No entanto, das três palavras que refere, não temos qualquer dúvida de que “acervo” é a mais adequada para descrever o conjunto de obras de arte de um museu.

      De acordo com o Priberam, dicionário pt_PT que usamos e reputamos de bom, “acervo” significa efectivamente:
      1. Grande quantidade. = MONTÃO
      Mas também significa:
      2. Conjunto de bens pertencentes a algo ou alguém.
      Tem este significado, simples, sem se pronunciar sobre a origem dos bens – que não têm que ser necessariamente “herança”. Os museus compram obras.

      Espólio, diz o mesmo dicionário, significa:
      1. Conjunto de coisas tomadas ao inimigo durante uma guerra. = BUTIM, DESPOJOS, PRESA
      2. O que resulta de roubo ou pilhagem. = ESPOLIAÇÃO
      3. Conjunto de bens que ficam por morte de alguém.
      4. Conjunto de bens deixados por alguém que morre. = HERANÇA
      1 e 2 são completamente desajustados (presumo que esteja de acordo), 3 e 4 são redutores.

      E património, diz ainda o Priberam, significa:
      1. Herança paterna.
      2. Bens de família.
      3. Bem ou conjunto de bens, materiais ou naturais, reconhecidos pela sua importância cultural.
      4. [Religião] Bens necessários para tomar ordens eclesiásticas.

      Portanto, ao contrário de “espólio”, é aceitável o uso de “património” como referência ao conjunto de bens de um museu – quase tanto, na nossa opinião, como acervo.

      • Não será por acaso, desatenção ou ignorância que remos uma Direcção Geral do Património Cultural… e não do acervo…

        https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/sobre-acervo-e-espolio/30339

        PS – A propósito de France Presse, com toda a probabilidade recebram a notícia de um correspondente brasileiro no Brasil – muito mais provável do que de um correspondente português no Brasil…
        E já agora, por curiosidade, a nossa imprensa não tem relações directas com a imprensa brasileira (especificamente)? Compreendo que não podemos ter ligações “directas” a todos e cada país do mundo, mas receber notícias do Brasil por “interposta pessoa”, soa estranho…

      • ah,
        A notícia é da Lusa. Usámo-la como fonte, como poderíamos ter usado a Agência Brasil. É uma falácia conhecida criticar a fonte da notícia, quando não há crítica ao fazer ao seu conteúdo concreto.
        A “Direcção Geral do Património Cultural” não gere apenas o acervo dos museus.
        Mantemos que, podendo ter usado o termo “património” na notícia, o termo “acervo” é absolutamente correcto, e pueril estar a discuti-lo, motivo pelo qual damos este assunto por encerrado.

    • Caríssimo/a ah,
      «Normalmente usamos ‘património’ ou mais especificamente no caso de museus, artes e afins, ‘espólio’», escreve o/a ah.
      Pois é, mas se normalmente o caríssimo/a ah opta pelos termos que refere, não quer isso significar que normalmente seja preciso (rigoroso, claro) quanto ao sentido que lhes atribui.
      Não é de má-fé que o/a contrario, mas o termo “acervo”, que deriva do latim, é, relativamente ao conjunto de especímenes que são a razão de ser de colecções e de museus, o mais utilizado, continuando em usso corrente na linguagem cuidada do Português sem ou com Acordo Ortográfico.
      O termo “património” tem ou pode ter um sentido muito mais alargado. E se os acervos não deixam de ser ou de poder ser património, património pode, por sua vez, não ser constituído por acervos.
      Já o vocábulo “espólio”, também usado como sinónimo de “acervo”, parece ter mais que ver com despojos de guerra.
      Se “acervo”, do Latim “acervu” significa montão, abundância, ao contrário do que sugere o/a ah isso não implica necessariamente «não organizado». Até porque o “não organizado”, o caos, pode até estar mais presente no “espólio”. De resto, não é o estar mal ou bem organizado que define o conceito de acervo, de espólio ou mesmo de património.
      Depois, argumentar que temos uma Direcção Geral do Património Cultural… e não do acervo…» parece não saber por que é que as instituições existem…
      Para terminar, que tem o Acordo Ortográfico que ver com o assunto? Sou inequivocamente contra o Acordo Ortográfico, como o provam os comentários e artigos de opinião que subscrevi. Mas não vejo em que o dito Acordo possa ter interferido na questão suscitada pelo/a Caríssimo/a ah. Terá sido só para aparecer…
      E a questão que foi notícia – a perda irreparável de tão vasto património constituído por diversos e variados acervos – e deixou mais pobre o mundo civilizado, por que não comentou?

    • Caro Ah:
      Em primeiro lugar saúdo-o por rejeitar o detrito intelectual a que se chama AO. Muitos mais haja.
      Em segundo lugar, contesto a recusa da palavra “acervo”, a qual estou francamente habituado a ouvir e ler para referir colecções museológicas. Eu enquanto mero utente da Lingua Portuguesa sem especiais conhecimentos técnicos da mesma, não sinto de todo esta palavra como estranha, desajustada ou sequer desactualizada.
      Mas como não tenho conhecimentos técnicos para suportar o que é uma mera impressão pessoal minha, resolvi procurar exemplos de uso e googlei “mnaa acervo”. Aterrei aqui:
      http://www.museudearteantiga.pt/sobre-o-museu/historia
      Para não ter só um exemplo de “gente antiga”, googlei também “mude acervo” e encontrei isto:
      http://www.mude.pt/pages/espolio_1
      São apenas exemplos, claro, e valem o que valem, mas julgo mostrarem que o uso de “acervo” em Português (de Portugal) não está, de todo, em desuso.

      • Caro José Manuel Sebrosa,

        Para quem saúda a rejeição do “detrito intelectual a que se chama AO” e depois utiliza a palavra “googlei”, não sabe certamente o que diz. Que eu tenha conhecimento (na minha santa ignorância) “googlei” não faz parte do acordo ortográfico de 1945, que segundo o que diz rege a sua escrita.
        Todas as línguas e a nossa também, necessita evoluir ou então acabamos como o Latim, uma língua morta. Se tal não acontecesse estaríamos ainda a escrever “É prohibido collocar annuncios” ou outros exemplos como: architectura, caravella, diccionario, diphthongo, estylo, grammatica, lyrio, parochia, kilometro, orthographia, pharmacia, phleugma, prompto, psychologia, psalmo, rheumatismo, sanccionar, teatro.

        Enfim….

      • Caro Rusty,

        Lamento tê-lo induzido em erro. Eu efectivamente abomino o AO, tal como exprimi. Mas noto agora que, quando eu disse isso, abri a porta à interpretação. indesejada por mim, de que rejeito toda e qualquer alteração da língua. Longe disso! Aliás, eu farto-me de inventar palavras. E trocadilhos então…! O objectivo é comunicar, e se for de forma divertida melhor ainda. Portanto, toda a liberdade à criatividade, e também à não menos importante adaptabilidade com fins meramente práticos. Como tal, uso e usarei amiúde o “verbo googlar”, a não ser que o contexto social me revele que, ao fazê-lo, estou a praticar alguma ofensa.

        Mas, caro Rusty, também não o quero induzir em erro com a resposta mais ou menos polida que lhe dei no parágrafo acima. Sim, notei o tom agreste da sua resposta, contendo até notas de ataque pessoal. Notei, e obviamente não gostei. Pareceu-me desnecessário, talvez mesmo deslocado. Mas isso é pouco importante, o que interessa é evitar que os mal-entendidos se transformem em conflitos estéreis… Afinal, se calhar o culpado até sou eu, por ter dado o tom ao usar a expressão francamente hostil “detrito intelectual” no meu texto inicial…

  2. Administrado pelos esquerdistas do PSOL, o que mais se poderia esperar? Incompetência e desvio de verbas é a única coisa que a esquerda sabe fazer bem no Brasil

    • gostei do comentario e da chamada de atençao para o pequeno promenor(maior)!!!! para alem disso as verbas que foram dispensadas para a cultura dos MCs, caetanos, gil, ivetes etc etc…. para enrriquecer cada vez mais os amigos ricos e mediaticos atores do brasil. pasme se, ate ate disponibilizaram verbas astronomicas para perpetuar a memoria do cabral dos anos 60, brizola, e ate para o museu lula…. enfim…
      quantoà historia que se perdeu com o fogo… nao se limita só a historia do brasil , mas de portugal tambem….. convem nao esquecer que quem fundou o museu foi o rei de portugal e do brasil.

  3. Andamos a discutir este ou aquele assunto, que o essencial da questão importa destacar.
    Pretendo ser muito curto sobre nesta mega tragédia, do “nosso” amado Brasil, o reflexo de um povo que votou numa maioria, como em qualquer país democrático. Essa maioria governa como todos nós sabemos e confrontamos no dia a dia com sucessivos atos de corrupção ao mais alto nível, as instituições cada vez mais fragilizadas, descaracterizadas e desfasadas da realidade, logo o que aconteceu ao Museu Nacional do Brasil é uma tragédia sem precedentes, não diria pelo seu valor, mas pela riqueza incomensurável da “Nossa” parte como Portugueses e da sua continuidade que os senhores que se seguem o que fizerem para evitar tudo o que se seguiu.
    Em tão poucas palavras o conceito de história: …”Um dos principais objectivos da História é resgatar aspectos culturais de um determinado povo ou região para o entendimento do processo de desenvolvimento. Entender o passado também é importante para a compreensão do presente, para preparar um futuro melhor”… afinal ninguém é culpado e tudo acontece e a história apaga-se, pela incúria humana?
    A terminar vou citar John Lennon, que um dia disse isto sem apelo e sem agravo: …”A ignorância é uma espécie de bênção. Se você não sabe, não existe dor.”…

  4. De lamentar tamanha perca tanto para o Brasil como para nós portugueses e também para toda a humanidade, os governos esquecem muitas vezes os cuidados a ter na manutenção e vigilância destes espaços e depois de um caso irreparável como este acontecer já nada há a fazer.

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