A jornalista maltesa Daphne Caruana Galizia, que esteve na origem de acusações de corrupção que provocaram eleições antecipadas no país em junho, foi assassinada esta segunda-feira, por uma bomba colocada debaixo do seu carro, anunciou o primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat.
O carro em que seguia a jornalista maltesa que liderava a investigação aos Panama Papers explodiu. A situação terá sido provocada por um explosivo colocado no veículo, de acordo com jornal o Público, e tudo aponta para que se trate de um homicídio.
Segundo o Times of Malta, há duas semanas Daphne Caruana Galizia tinha denunciado às autoridades que estava a ser alvo de ameaças de morte. A controversa jornalista maltesa foi morta poucos minutos após ter publicado o seu último post no seu blogue, Running Commentary.
Galizia tinha denunciado durante os últimos meses um alegado caso de corrupção envolvendo o atual primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat, a sua mulher e outros membros do Governo. Segundo estas alegações, o casal utilizava offshores para esconder pagamentos com origem no Governo do Azerbaijão.
As autoridades em Malta abriram já uma investigação criminal, tendo pedido ajuda internacional, incluindo ao FBI.
Apesar das acusações contra Muscat, este denunciou um “ato bárbaro” e ordenou às forças da ordem que concentrassem todos os esforços em levar à justiça os autores do assassinato.
“O que se passou hoje é inaceitável a vários níveis. Hoje é um dia negro para a nossa democracia e a nossa liberdade de expressão. Não pararei enquanto a justiça não for feita”, declarou o primeiro ministro maltês.
No início de junho, Muscat obteve uma vitória significativa nas eleições legislativas antecipadas, que foram convocadas depois da divulgação de uma série de escândalos implicando vários dos seus colaboradores, na qual Caruana Galizia teve um papel central.
Michelle Muscat, a esposa do primeiro-ministro, foi acusada de ter aberto uma conta no Panamá, para aí colocar, entre outras, subornos pagos pelo governo do Azerbaijão, em troca da autorização dada a um banco azeri para operar em Malta.
“A maior mentira da história política maltesa“, reagiu na altura Muscat, prometendo demitir-se se os factos fossem provados por um inquérito que ele próprio exigiu.
Mas não aplicou este princípio ao seu ministro da Energia, Konrad Mizz, e ao seu chefe de gabinete, Keith Schembri, que continuam nos cargos, apesar de possuírem contas secretas no Panamá.
Joseph Muscat, de 43 anos, um antigo jornalista, chegou ao poder em 2013 com um programa de centro-esquerda, colocando um fim a um domínio de 15 anos do Partido Conservador.
No seu ativo, uma economia em plena ascensão, que lhe permitiu a reeleição, segundo os observadores, e a adoção do casamento entre homossexuais, em julho, neste país muito católico, com 430 mil habitantes, onde o divórcio só foi autorizado em 2011.
No último texto que a jornalista publicou no seu blogue, uma hora antes do assassinato, Caruana Galizia repetiu as suas acusações contra Keith Schembri, qualificando-o de um “escroque” que usa a sua influência no governo para enriquecer. “Há escroques para onde quer que se olhe. A situação é desesperada”, concluiu.
Na primavera, a revista Politico incluiu Caruana Galizia entre as “28 personalidades que fazem mexer a Europa”, descrevendo-a como “um WikiLeaks inteiro numa só mulher, em cruzada contra a falta de transparência e a corrupção em Malta”.
ZAP // Lusa