Mais de meio milénio depois do colapso da civilização maia, os membros de uma sociedade centro-americana vizinha, de repente, recolheram os seus pertences mais sagrados, enterraram-nos no centro da cidade e desapareceram.
“Há uma grande questão sobre quem eram essas pessoas”, explica o arqueólogo americano Douglas Preston, que visitou os remanescentes desta cidade, ao Business Insider. “O que aconteceu com essa civilização, por que abandonaram tão repentinamente a cidade?”
Preston fez parte de uma missão de pesquisa lançada há dois anos para explorar as ruínas do que se diz ser uma civilização perdida, e relatou a sua recente viagem pela selva hondurenha no novo livro “The Lost City of the Monkey God: A True Story” – que os críticos disseram ser “um daqueles livros de não ficção mais estranhos que a própria ficção”.
Mistério histórico
Alguns dizem que as ruínas correspondem a uma antiga e lendária “Cidade Branca” – uma cidade de extrema riqueza que desapareceu há 600 anos.
Desde os anos 1900, os rumores desta cidade esquecida circulavam entre os exploradores, aviadores e turistas animados pela perspectiva de descobrir tesouros escondidos. Mas ninguém sabia muito sobre as pessoas que lá viveram.
Mesmo depois de algumas partes de uma aldeia abandonada – incluindo vestígios de praças e pirâmides – terem sido descobertos em 2012, durante a primeira expedição na região, antropólogos e arqueólogos continuaram perplexos.
Segundo Douglas Preston, o principal arqueólogo hondurenho da expedição afirmou que não se sabia nada sobre a civilização perdida.
No entanto, algumas teorias intrigantes surgiram.
Nesta última exploração, os pesquisadores encontraram um esconderijo de quase 500 objectos de pedra esculpidos dentro de um lugar que Preston descreveu como “um túmulo não para uma pessoa, mas para uma civilização”.
A lenda e o raiva dos arqueólogos
As ruínas de mil anos de idade – cuja linha do tempo coincide com a “Cidade Branca” – foram enterradas na floresta, num vale redondo rodeado por penhascos íngremes. Desde que uma equipa de investigadores as descobriu, em 2012, já foram revisitadas por várias equipas de pesquisa.
Quando a descoberta foi anunciada, vários meios retrataram-na como um antigo mistério que tinha finalmente sido resolvido. A revista National Geographic, por exemplo, fez uma reportagem exclusiva que anunciava que uma “cidade perdida” tinha sido descoberta na selva hondurenha.
Porém, havia um problema, discutido numa carta pública assinada pelos investigadores, que condenavam estas afirmações: as ruínas não eram a “cidade perdida” dos tempos antigos e, além disso, elas podiam nem sequer estar propriamente “perdidas”.
Os investigadores dissidentes – incluindo Chris Begley, arqueólogo da Universidade da Transilvânia, com 20 anos de experiência na região – dizem que a reportagem apresentada pela “National Geographic” exagerou os resultados e ignorou os povos indígenas da região.
A revista respondeu à carta apontando uma declaração da equipa de investigadores, que diz que a reportagem nunca afirmou ter descoberto “a cidade perdida”, mas apenas “uma cidade perdida” na região.
As pessoas que desapareceram
Apesar da controvérsia, as equipas de investigadores e repórteres que visitaram o local em 2012 e 2015 voltaram impressionadas com o que viram.
Preston e vários outros arqueólogos afirmam que puseram os pés num território que tinha estado intocado durante meio milénio – e que as pistas que os seus habitantes deixaram para trás apontam para um fim trágico.
“É difícil acreditar que no século XXI uma cidade perdida ainda pudesse ser descoberta, mas foi exactamente isso o que aconteceu”, conta o autor.
Quem povoou a área no centro da selva hondurenha de Mosquitia não deixou muitos indícios. A equipa que visitou a região em 2012 datou os restos que descobriu como tendo origem entre 1000 a.C. e 1400 a.C..
Isso significa que os habitantes da região viveram depois da era dos maias, cuja civilização se estendeu do sudeste do México através da Guatemala e Belize e nas partes ocidentais de Honduras e El Salvador.
“Eles cresceram perto dos maias. Basearam-se nas suas pirâmides e distribuíram as suas cidades de uma forma um tanto parecida com a maia, mas não exactamente igual”, explica. “Mas o caso é muito misterioso, há muitas coisas que não sabemos”.
O que os investigadores sabem é que quem viveu lá desapareceu de repente. Além de restos das suas pirâmides e praças, deixaram para trás uma série de peças complexas, em pedra, incluindo o que se pensa ser parte de um assento cerimonial com uma efígie de um “jaguar”. Até agora, os pesquisadores identificaram quase 500 peças de pedra.
“Na base de uma pirâmide descobrimos uma enorme quantidade de belas esculturas de pedra”, conta Preston. “Parece que as pessoas trouxeram os seus objectos, depositaram-nos ali cuidadosamente e, em seguida, abandonaram a cidade”.
Vários arqueólogos e antropólogos que estavam na equipa de pesquisa de Preston acreditam que a população foi abatida por alguma epidemia, talvez de alguma das doenças trazidas por europeus, como a varíola ou o sarampo.
Porém, é improvável que os europeus tenham tido acesso a esta civilização – pelo menos pessoalmente. As doenças provavelmente teriam atingido as populações indígenas através do comércio. À medida que as mercadorias trocavam de mãos, os vírus também passavam e os indígenas não tinham qualquer defesa contra alguns deles.
// HypeScience