Um estudo de cientistas britânicos sugere que viver numa área urbana com espaços verdes tem um impacto positivo no bem-estar mental dos habitantes de cidades.
Os investigadores da Universidade de Exeter constataram que morar num local com áreas verdes gera um efeito positivo duradouro, enquanto aumentos de salários ou promoções no trabalho, por exemplo, fornecem apenas efeitos positivos a curto prazo.
Para os autores do estudo, os resultados mostram que o acesso a parques urbanos traz benefícios à saúde pública.
Mathew White, do Centro Europeu para o Desenvolvimento e Saúde Humana da Universidade de Exeter, explicou que o estudo, do qual é um dos autores, se baseia nas descobertas de um outro levantamento que mostrou que as pessoas que viviam em áreas urbanas mais verdes tinham menos sinais de depressão e ansiedade.
Ele diz que isso ocorre por várias razões. “As pessoas fazem todo o tipo de coisas para ficarem mais felizes: elas lutam por uma promoção no trabalho, por aumento de salário, e até se casam“, descreve, explicando que “o problema é que, depois de seis meses a um ano, elas voltam aos níveis originais de bem-estar. Assim, estas coisas não são sustentáveis, não nos fazem felizes no longo prazo”, afirmou.
“Descobrimos que num grupo de vencedores da lotaria que tinham ganho mais de 500 mil libras [cerca de 600 mil euros] o efeito positivo de facto estava lá, mas entre seis meses a um ano depois eles tinham voltado aos níveis normais.”
As descobertas foram publicadas na revista especializada Environmental Science and Technology.
Dados
A equipa de investigadores usou dados do Mapeamento das Residências Britânicas (que mudou o nome para inquérito Compreendendo a Sociedade) e que começou a ser feita na Grã-Bretanha em 1991 pela Universidade de Essex.
“É uma amostra enorme e representativa da população britânica (atualmente cerca de 40 mil residências fornecem dados por ano), em que são respondidas várias perguntas sobre renda, estado civil, etc”, disse White.
“Mas também inclui algo chamado Questionário Geral de Saúde, que é usado por médicos para diagnosticar depressão e ansiedade.”
“O que se vê é que, mesmo depois de três anos, a saúde mental ainda é melhor para quem vive perto de áreas verdes, o que é improvável com as muitas outras coisas que achamos que nos farão felizes”, disse.
Mais estudos
O investigador acrescentou que a equipa quer fazer mais estudos para examinar uma possível ligação entre qualidade de relacionamentos conjugais e a vida em áreas verdes.
“Há provas de que as pessoas dentro de uma área com espaços verdes sejam menos stressadas, e quando se é menos stressado, toma-se decisões mais razoáveis e comunica-se melhor”, afirmou White.
“Não vou dizer que é uma fórmula mágica que cura todos os problemas do casamento – claro que não é -, mas pode ser que [o fator do cenário] ajude a pender a balança no sentido das decisões mais razoáveis e diálogos mais maduros.”
Com as crescentes provas de ligação entre espaços verdes nas cidades e o impacto na saúde pública, há também o crescente interesse das autoridades e governos pelo assunto, segundo White. “Há muitas pessoas interessadas, mas o que realmente precisamos no nível de políticas, é decidir de onde virá o dinheiro para apoiar áreas verdes locais de qualidade”, acrescentou.
ZAP / BBC