Quase 80 anos depois de cerca de 300 mil crianças e adultos terem sido assassinados pelo regime nazi, por sofrerem de doenças mentais, a Alemanha vai investigar o que foi feito com os cérebros de três mil delas, em nome da ciência.
Entre 1939 e 1945, cerca de 300 mil crianças e adultos foram assassinados pelo regime nazi, por sofrerem de doenças mentais, com recurso a injecções letais ou gás, as mesmas técnicas que depois foram aplicadas nos campos de concentração.
A algumas dessas vítimas, foi extraído o cérebro para ser estudado por cientistas do Departamento de Neuropatologia do Instituto Kaiser Wilhelm, o antecessor da actual Sociedade Max Planck (MPG na sigla original), uma das instituições de pesquisa mais conceituadas do mundo.
Várias décadas depois desses acontecimentos trágicos, a MPG, que continua na posse de amostras cerebrais dessas vítimas, decidiu lançar uma investigação para dar nome a essas pessoas assassinadas.
A investigação incluirá “dados biográficos básicos sobre as vítimas, os seus tratamentos institucionais e os critérios usados para as seleccionar”, aponta a MPG num comunicado.
“A forma das suas mortes será também documentada, bem como dados sobre a remoção do cérebro” e sobre “a pesquisa levada a cabo” com essas amostras, afiança MPG.
A investigação que vai ser conduzida por quatro pessoas de fora da instituição tem um orçamento de 1,5 milhões de euros para três anos de pesquisas e vai arrancar já em Junho de 2017.
“Temos que analisar todos os arquivos de neuropatologia nos arquivos da MPG de Berlim e no Instituto de Psicologia Max Planck de Munique. Iremos nome a nome para recuperar o número exacto de pessoas cujos cérebros foram usados para investigação neuropatológica, calculamos que haja entre duas e três mil vítimas“, refere um dos responsáveis da investigação, Gerrit Hohendorf, citado pelo jornal El País.
O objectivo é criar uma base de dados pública para relembrar este trágico episódio da história humana.
A maioria das vítimas seriam crianças e os respectivos cérebros foram analisados por cientistas durante o regime nazi, mas também mais tarde, até aos anos de 1980.
A MPG levou vários anos sem admitir a origem das amostras cerebrais dos seus arquivos, temendo prejudicar a sua reputação. Até que finalmente, em 1990, reconheceu esse dado e enterrou múltiplas amostras cerebrais recolhidas durante o regime nazi, realizando uma cerimónia de homenagem às vítimas.
Mas descobriu-se depois que haverá ainda nos arquivos da MPG alguns restos cerebrais de vítimas dos nazis, os quais serão agora analisados no âmbito da investigação.