Os contratos de mineração em águas profundas ameaçam estas 5000 espécies que acabaram de ser descobertas.
Mais de 5000 novas espécies de animais até agora desconhecidas foram descobertas nas profundezas do Coeano Pacífico. A revelação é relatada num novo estudo publicado na Current Biology.
A Zona Clarion-Clipperton (CCZ) é uma zona de fratura – uma grande cicatriz do fundo do mar deformado criada por movimentos de placas tectónicas – que se estende do México ao Havai e cobre cerca de 2,3 milhões a 6 milhões de quilómetros quadrados, o que é cerca de 3,5 vezes a área do Alasca.
O fundo do mar CCZ é coberto por nódulos esféricos do tamanho de batatas que são ricos em metais altamente desejados, como manganês, cobalto e níquel, bem como pequenas concentrações de elementos extremamente valiosos, o que o tornou muito atrativo para empresas de mineração de águas profundas.
Os investigadores compilaram a primeira lista abrangente de espécies animais encontradas na região com o recurso a dados de mais de 100 000 registos recolhidos durante viagens de pesquisa, refere o Live Science.
O novo banco de dados, conhecido como lista de verificação CCZ, contém 5580 espécies de animais, das quais apenas 438 têm nomes oficiais. Mas os cientistas estimam que pode haver entre 6000 e 8000 espécies de animais no CCZ e que entre 88% e 92% destas podem ainda não ter sido identificadas.
O filo mais abundante é o dos artrópodes — invertebrados com exoesqueleto, como os crustáceos — que compõe 27% do banco de dados; seguido pelos anelídeos, ou vermes segmentados, que perfazem 18% da lista; e nematóides, ou vermes não segmentados, que correspondem a 16% das espécies. Das espécies nomeadas, apenas seis foram encontradas fora do CCZ, o que sugere que a maioria das espécies não identificadas listadas também são endémicas da região.
Todo o CCZ está fora da jurisdição nacional de qualquer país, sendo administrado pela Autoridade Internacional dos Fundos Marinhos (ISA) das Nações Unidas. Atualmente, a mineração em águas profundas em áreas fora da jurisdição nacional é proibida, mas a ISA pode dar contratos de exploração. Até agora, o ISA concedeu 17 contratos no CCZ que abrangem 1,2 milhões de quilómetros quadrados.
Os impactos ambientais destas explorações são atualmente limitados. Mas a ISA pode começar a conceder contratos completos em julho de 2023, após o prazo para os países concordarem com os novos regulamentos de mineração. Se nenhum acordo for alcançado, as empresas podem pedir a solicitar contratos com base em projetos de regulamentação, que oferecem proteções ambientais muito limitadas.
“Existem tantas espécies maravilhosas no CCZ. Com a possibilidade de mineração iminente, é duplamente importante que saibamos mais sobre esses habitats realmente pouco estudados”, afirma o autor principaldo estudo, Muriel Rabone, ecologista de águas profundas do Museu de História Natural de Londres.