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Verdade histórica sobre escravatura no Sado “vai ajudar a humanizar” portugueses

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Trabalhos arqueológicos em Alcácer do Sal arrancam no sábado. Associação dos Afrodescendentes reitera críticas à Câmara Municipal de Lisboa pela falta de resposta sobre a localização de homenagem às vítimas de escravatura.

A investigação arqueológica no Vale do Sado sobre a presença de escravos africanos entre os séculos XV e XVIII vai ajudar a humanizar a sociedade portuguesa, disse à agência Lusa Evalina Dias da Djass — Associação de Afrodescendentes.

“Somos humanos e todos os povos são misturas. Este estudo vai ajudar a combater o racismo, para que as pessoas possam perceber que somos todos humanos e que todos somos mistura de qualquer coisa”, afirmou.

A presença de escravos africanos no Vale do Sado entre os séculos XV e XVIII vai começar a ser estudada a partir de sábado e durante todo o mês de agosto por uma equipa internacional de arqueólogos dirigida por Rui Gomes Teixeira e Sara Simões.

Os trabalhos vão consistir, numa primeira fase, na prospeção geofísica do terreno do Monte do Vale de Lachique onde os arqueólogos vão tentar encontrar algumas estruturas mais antigas que não estão visíveis.

Esses vestígios podem ajudar a encontrar “cultura material” dos séculos XV e XVI que já foram detetados à superfície e que podem estar associados à fase que corresponde ao tempo em que as pessoas escravizadas foram pela primeira vez levadas para aquela zona.

“Tudo o que possa trazer luz a uma História e passados comuns é importante tal como este projeto sobre os escravos africanos que foram levados para Alcácer do Sal e que foram ficando e que se misturaram com a população local, diz ainda Evalina Dias.

O projeto arqueológico no Vale do Sado, que se vai prolongar durante todo o mês de agosto envolve diretamente, desde o início, a Djass, a Associação Batoto Yetu Portugal, a Câmara Municipal de Alcácer do Sal e a Associação da Defesa do Património de Alcácer do Sal.

Integrada nesta investigação vai decorrer no Monte do Vale de Lachique, junto a São Romão do Sado, no dia 05 de Agosto pelas 12:00, uma cerimónia de homenagem às vítimas da escravatura, de reconhecimento dos ancestrais africanos e dos contributos que conferiram à cultura alentejana.

Falta de resposta da autarquia lisboeta

Por outro lado, a Associação dos Afrodescendentes reitera críticas à Câmara Municipal de Lisboa pela falta de resposta sobre a localização do Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas.

“Continuamos à espera do contacto da Câmara Municipal de Lisboa. Este Executivo municipal apresenta falsos pretextos e pareceres que nunca foram pedidos e estão a tentar empurrar-nos para um parque de estacionamento [Doca da Marinha], sendo que o projeto não foi idealizado para aquela localização”, disse Evalina Dias.

A localização vencedora na Ribeira das Naus foi rejeitada sendo que o anterior presidente da Câmara propôs o Largo José Saramago mas, segundo a Djass, o Executivo de Carlos Moedas, a 14 de abril, “disse que não podia ser”.

“Tudo isto está relacionado com a História, quer o memorial em Lisboa quer a investigação arqueológica no Vale do Sado são importantes porque ajudam a combater o racismo”, refere a responsável pela Associação de Afrodescendentes.

Portugal foi o país que inaugurou o tráfico de escravos no Atlântico e aqui não se quer falar do assunto. A Holanda [Países Baixos] já pediu desculpas duas vezes sobre a escravatura. Tem de ser a sociedade civil a iniciar a discussão”, lamenta Evalina Dias referindo-se diretamente à Câmara Municipal de Lisboa.

No passado dia 10 de julho, o vereador da Cultura da autarquia de Lisboa afirmou que o Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas “vai ser concretizado”, garantindo “total diálogo” com a Djass – Associação de Afrodescendentes para resolver questões técnicas sobre a localização.

“O que está em cima da mesa são questões técnicas, não são questões políticas, e isso é preciso deixar bem claro”, disse o vereador Diogo Moura (CDS-PP), referindo que a instalação do memorial no Campo das Cebolas levantou preocupações por parte da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), que tem de emitir parecer por ser uma zona classificada, e da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL), que tem um parque de estacionamento subterrâneo.

O Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas, planeado para Lisboa, consiste na instalação “Plantação-Prosperidade e Pesadelo”, do artista angolano Kiluanji Kia Henda. Trata-se da representação de uma plantação de cana-de-açúcar em alumínio preto, composta por mais de meio milhar de unidades, num convite à reflexão, enquanto percorrida a pé.

Nascido em 1979, Kiluanji Kia Henda está representado em coleções como as da Tate Modern, em Londres, do Centre George Pompidou, em Paris, e da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

A cerimónia vai ser acompanhada pelo músico Ebrima Mbye, pelos percussionistas da Associação Batoto Yetu Portugal, e pelo Grupo Coral Feminino “Paz e Unidade” de Alcáçovas.

// Lusa

6 Comments

  1. Ao que julgo saber sobre a escravatura , todos os povos a fizeram e em relação aos portugueses os escravos não eram arrebanhados no mato , mas sim vendidos aos portugueses pelas tribos africanas , assim sendo não venham com historias de escravos e escravatura agora no seculo XXIII . A meu ver se alguem deve pedir desculpas são os os proprios povos de africa que fizeram escravos dos seus irmãos e que os venderam aos Europeus . A historia já passou e não se pode modificar , quanto ao tema escravatura muito se tinha de falar
    tenham JUIZO.

  2. Devem querer dinheiro grátis como na Holanda, ou simplesmente querem chatear os ‘Agricultores Caviar’, aí sim estou de acordo

  3. Voçê tem razão! Mas para estes grupos woke a verdade histórica pouco conta. São um bando de ignorantes manipulados! Se calhar até por alguns que arranjam desculpas idênticas para invadir países vizinhos.

  4. Quando descobrirem o que os romanos fizeram aos povos da peninsula iberica… a Italia vai estar tramada…

    E os arabes que invadiram apos a queda do imperio romano e “empregaram” os ingratos da peninsula iberica
    E os cavaleiros franco\europeus que vieram depois expulsar os arabes e todos os que pareciam arabes na altura, em ultimo caso eram convertidos e tidos como “vassalos” (outra palavra interessante, depende do contexto)
    E a felicidade constante em Portugal com a dinastia Filipina, Espanha vai ter de pagar umas coisas
    E as invasões napoleonicas, França já pediu desculpa? Se calhar…

    Isto é uma cebolada se recuarmos no tempo e tentarmos culpar agora quem nem sequer era vivo.
    A quem acha isto normal, deve achar justo o sistema judicial da Coreia do Norte em que os filhos são culpados pelo que o pai faz

  5. Ser vitima é mau e criticável, sobre a escravatura todos os povos em todo o mundo teve episódios negros na sua História! Vamos então ser novamente acusados de paternalismo quando privilegiamos a escravatura do negro e esquecemos a do branco, do amarelo, do azul e do verde? Pessoalmente rejeito qualquer tipo de discriminação seja racial, social, politica, ou outra! O individuo tem que ser respeitado enquanto humano, o seu relacionamento não pode nem deve ser condicionado por factores de preconceito, nem ninguém pode ter privilégios indemnizatórios sobre uma prática universal que vitimizou transversalmente todos os povos. Assim, considero inaceitável aproveitamentos que visam mais a humilhação de quem não tem relação com o facto. E porque em vez de combater a actual escravatura que grassa em todo o mundo, com formas mais ou menos sofisticadas, nomeadamente a económica e social (EUA, India, Brasil, Norte de África, etc.), pretende-se reescrever a História quando não há inocentes para reportar, excluindo os escravizados? Vitimização em busca de paternalismo exacerbado???

  6. e para quando pedirmos indemenizações aos governos dos paises que eram considerados nossos territorios pelo mundo e que começaram uma guerra em que foram mortos muitas vezes cobardemente pelos terroristas na guerra ultramarina

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