A fase da transição verde “acabou”

ZAP // DALL-E-2

A procura global de petróleo aumenta mais do que o previsto, no início deste ano. Empresas petrolíferas em nítida expansão.

As empresas petrolíferas não se queixam. Quando olham para os seus números mais recentes, não se queixam do negócio.

A Saudi Aramco, a empresa pública dos Emirados Árabes Unidos, só nos primeiros nove meses do ano passado teve um resultado líquido de quase 90 mil milhões de euros – número acima do registo da maioria das empresas mais lucrativas do mundo… em todo o ano.

Noutro patamar, mas com números ilustrativos: a Chevron (EUA) e a TotalEnergies (França) chegaram aos 20 mil milhões de euros no ano passado, ligeiramente mais do que a ExxonMobil (EUA); a Shell (Reino Unido) atingiu um resultado líquido de 18 mil milhões de euros, lembrava o Expresso.

Voltando aos Emirados Árabes Unidos, na semana passada o famoso Porto de Fujairah teve um pico de stock de produtos petrolíferos como não se via desde o Verão do ano passado – e ocorreu durante a primeira semana do Ramadão, uma fase que costuma registar quebras no negócio, reforça a S&P Global.

As empresas petrolíferas continuam a aumentar extracção de petróleo e gás por todo o mundo, para satisfazer a procura das economias industrializadas.

O portal Rigzone não tem dúvidas: as expectativas, o sentimento do mercado petrolífero, melhoraram significativamente; as previsões da procura de petróleo “continuam a subir” e estão a desaparecer alguns dos maiores receios no sector.

Relatório global

Na quinta-feira passada foi publicado o relatório mensal do mercado global petrolífero, da Agência Internacional de Energia.

A agência confirma o que já foi escrito acima: prevê-se que a procura global de petróleo aumente mais do que o esperado ao longo do primeiro trimestre de 2024. Em concreto, estima-se uma subida de 1.7 milhões de barris por dia.

Este aumento está relacionado com uma melhoria das perspetivas para os Estados Unidos da América e com o aumento do abastecimento.

Lê-se no relatório que “o crescimento da procura regressa à sua tendência histórica, enquanto a eficiência aumenta – e os carros eléctricos estão a ser menos usados“.

No primeiro trimestre só há uma quebra global na produção de petróleo, comparando com o último trimestre de 2023, por causa do clima e das novas restrições do bloco OPEP+, que estão a prolongar cortes voluntários extras para apoiar a estabilidade do mercado.

Mas prevê-se que a oferta global para 2024 aumente quase um milhão de barris por dia, para um total de 102.9 milhões de barris por dia.

Igualmente para o ano 2024, prevê-se que a produção passe de 82.3 milhões para 83.5 milhões de barris por dia.

As exportações marítimas atingiram um máximo histórico.

“A transição verde acabou”

Estes números novos fazem-nos recuperar um aviso que o jornal Handelsblatt tinha feito em Fevereiro: “Os tempos da transição verde acabaram”.

O jornal económico refere um regresso em força do petróleo e repete que as grandes empresas petrolíferas estão mais uma vez fortemente dependentes do petróleo e do gás – e que as mesmas empresas fazem com que essas matérias sejam mais caras.

Está a decorrer uma “maratona de compras” no sector: as principais empresas petrolíferas ocidentais estão a investir milhares de milhões na aquisição de empresas concorrentes – e menores – dos combustíveis fósseis. Foram quase 600 transacções em 2023: como a da ExxonMobil, que comprou a concorrente Pioneer Natural Resources.

Foram anos a cortar custos e a concentrar-se nos retornos para os accionistas; mas agora as empresas petrolíferas estão a expandir as suas reservas e as áreas de mineração.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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