Temer diz que denúncia contra si é “uma ficção”

Marcelo Camargo / Agência Brasil

O vice-presidente brasileiro, Michel Temer

O vice-presidente brasileiro, Michel Temer

O Presidente do Brasil disse, esta terça-feira, numa declaração ao país que a denúncia de corrupção contra si, apresentada na segunda-feira no Supremo Tribunal Federal (STF) pelo procurador-geral, Rodrigo Janot, é “uma ficção”.

A denúncia é uma ficção, volto a sustentar que devo estas explicações e a dizer que tentaram imputar contra mim um ato criminoso, mas isto foi feito exatamente por alguém [Joesley Batista dono da empresa JBS que o denunciou à Justiça] que deveria estar na cadeia e está solto para voar à Nova Iorque ou Pequim”, disse Michel Temer.

Falando pela primeira vez depois da apresentação da denúncia pelo alegado crime de corrupção passiva, com base em confissões feitas por quadros superiores da JBS, que envolveu em várias irregularidades graves, o chefe de Estado afirmou que é “vítima” de uma “infâmia de natureza política”.

“Os senhores sabem que eu fui denunciado por corrupção passiva, a esta altura da vida, sem jamais ter recebido valores, nunca vi o dinheiro, e não participei de acertos para cometerem ilícitos. Onde estão as provas concretas de recebimento destes valores? Elas inexistem”, declarou.

Na passada segunda-feira, Temer tornou-se no primeiro Presidente brasileiro no exercício do cargo a ser acusado do crime de corrupção.

O processo, porém, só será instaurado se dois terços da Câmara dos Deputados (câmara baixa parlamentar), ou seja, 342 dos 513 parlamentares deste órgão, aceitarem a abertura do processo e a maioria dos onze juízes do STF votarem favoravelmente a denúncia.

Na denúncia que colocou em causa a continuidade do Governo brasileiro, o procurador-geral Rodrigo Janot afirmou que existem provas abundantes para demonstrar que Michel Temer cometeu o crime de corrupção passiva.

Sem citar diretamente este ponto no pronunciamento, o Presidente optou por desclassificar as provas e ironizou dizendo que foram criadas “novas leis federais” por seus acusadores para sustentar denúncias baseadas em “ilações”.

“Eu percebo que reinventaram o código penal incluíram uma nova categoria, a denúncia por ilação. Se alguém cometeu um crime e eu o conheço, ou quem sabe se eu tirei uma fotografia ao lado desta pessoa logo por ilação eu sou também criminoso”, criticou.

O chefe de Estado também mencionou Marcelo Miller, um ex-assessor do procurador-geral Rodrigo Janot que deixou as suas funções no Ministério Público para trabalhar num escritório de advocacia que acabou por ser contratado pela empresa JBS para negociar o acordo de colaboração da empresa com a Justiça, que gerou este escândalo envolvendo o Presidente.

“[Marcelo Miller] deixa o emprego, abandona o Ministério Público para trabalhar em uma empresa que faz colaboração premiada com o procurador-geral (…) Foi trabalhar e ganhou milhões em poucos meses, garantindo ao seu novo patrão um acordo benevolente, que tira seu patrão das garras da Justiça gerando uma impunidade nunca antes vista“, atacou.

Há mais de dois anos que o Brasil está mergulhado numa crise política acentuada pelas contínuas suspeitas de corrupção que pesam contra vários políticos.

Pagamentos ilegais por parte de empresas como a JBS, citada na denúncia contra o Presidente Temer, e outros escândalos relacionados com a construtora Odebrecht e a petrolífera estatal Petrobras levaram ao afastamento de dezenas de políticos do país e colocaram empresários poderosos na cadeia.

Apesar da crise, Michel Temer voltou a recusar deixar o cargo de Presidente e queixou-se de suposta perseguição política por parte da Justiça.

// Lusa

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