O buraco negro no centro do aglomerado de galáxias de Perseus produz som, devido às ondas de pressão emitidas que provocam ondulações no gás quente do aglomerado. A NASA tornou audíveis as ondas sonoras.
Espalhados pela Via Láctea, há dezenas de milhões de buracos negros — alguns dos quais, os chamados buracos negros binários, têm por perto uma estrela em órbita.
Os buracos negros são, por definição, escuros — exceto quando, ocasionalmente, engolem a sua estrela companheira.
Durante esse processo, os buracos negros emitem, por algum tempo, espetaculares explosões de raios-X que ricocheteiam no gás que o rodeia — originando ecos de radiação e iluminando o espaço em volta.
Recentemente, uma equipa de astrónomos do MIT analisou minuciosamente dados obtidos por satélites da NASA à procura de sinais de explosões de raios-X de buracos negros binários.
A equipa de investigadores, liderada por Erin Kara, professora de física do MIT, encontrou nada menos do que oito novos buracos negros binários na nossa galáxia.
Os resultados da pesquisa foram apresentados num artigo publicado este mês no The Astrophysical Journal.
Até agora, apenas se conheciam dois buracos negros binários na Via Láctea, mas, diz Jingyi Wang, estudante de doutoramento do MIT e autora principal do estudo, “havia assinaturas de reverberação em oito fontes de radiação”.
Num projeto paralelo, Erin Kara juntou-se a Kyle Keane e Ian Condry, investigadores do MIT especializados em antropologia, sonoplastia e inteligência artificial. A equipa usou a informação recolhida sobre os ecos de raios-X dos buracos negros binários e converteu as emissões numa simulação do som que esses ecos produzem.
Assim, é agora possível “ouvir” o som fantasmagórico de um buraco negro.
Não é a primeira vez que cientistas encontram forma de converter as emissões de raios-X de um buraco negro em ondas sonoras audíveis.
Recentemente, a NASA divulgou uma gravação das ondas sonoras do buraco negro no centro do aglomerado de galáxias de Perseus.
A sonificação é o processo em que as ondas emitidas pelos buracos negros são transformadas em frequências sonoras. Ao contrário de todos os outros realizados até ao momento, este trabalho reconstituiu as ondas descobertas nos dados do Observatório de Raio-X do Chandra, da agência espacial norte-americana.
Para criar o som, os astrónomos extraíram os dados em direções radiais, ou seja, do centro para o exterior. Depois, sintetizaram os sinais na gama da audição humana, 57 e 58 oitavas acima do verdadeiro tom.
Segundo o Tech Explorist, outra forma de tornar este som audível seria reproduzi-lo 144 quatriliões e 288 quatriliões de vezes mais alto do que a sua frequência original.
No vídeo publicado pela NASA, as cores azul e roxo representam os dados de raios-X capturados pelo Chandra.
O segundo vídeo divulgado pela NASA é de um buraco negro localizado na galáxia Messier 87, ou M87, que ficou famoso em 2019 depois de se tornar a primeira fotografia oficial de um buraco negro, capturada pelo projeto Event Horizon Telescope (EHT).
A sonificação deste buraco negro não foi realizada com dados do EHT, mas de outros telescópios que o observaram noutras escalas: de cima para baixo, estão os dados de raios-X do Chandra, a luz visível observada pelo telescópio Hubble e as ondas de rádio registadas pelo telescópio Atacama Large Millimeter Array (ALMA).