Através de uma simulação, uma equipa de cientistas descobriu pistas que indicam que o Sol pode ter dupla personalidade.
Através de simulações computacionais, uma equipa de cientistas da Universidade do Colorado, em Boulder, conseguiu capturar a turbulência interna do Sol. Ao fazer isso, os cientistas identificaram algo fora do comum: em raras ocasiões, a dinâmica interna da estrela pode sair das suas habituais rotinas e mudar para um estado alternativo.
Loren Matilsky, que integra a equipa responsável por estas observações, explica que a existência deste “alter ego solar poderia fornecer novas pistas sobre os processos que regem o relógio interno do Sol – ciclo segundo o qual a nossa estrela muda de períodos de alta para baixa atividade, a cada 11 anos”.
“Não sabemos o que define o período do ciclo do Sol ou por que motivo alguns ciclos são mais violentos do que outros. O nosso objetivo final é mapear o que observamos no modelo para a superfície do Sol, para que possamos fazer previsões futuras”, adianta, citado pelo Tech Explorist.
Na imagem, podemos observar as simulações do dínamo solar durante várias centenas de ano. Durante os ciclos solares ditos “normais” (em cima), o dínamo forma-se simetricamente nos hemisférios norte e sul e move-se em direção ao equador antes de reiniciar. Pelo contrário, no ciclo “alternativo“, como os cientistas o batizaram, o dínamo solar forma-se num hemisfério sobre o outro e depois vagueia durante vários anos.
O dínamo solar é essencialmente uma concentração de energia magnética da estrela. É formado pela rotação e torção dos gases quentes dentro do Sol e pode ter grandes impactos. Um dínamo solar especialmente ativo, por exemplo, pode gerar um grande número de manchas e explosões solares.
No entanto, estudar o dínamo solar é um verdadeiro desafio, devido à sua formação no interior da estrela, longe do alcance da maioria dos instrumentos científicos.
A equipa da universidade norte-americana analisou a atividade no terço externo desse interior, caracterizado pelos cientistas como “uma panela esférica de água a ferver”. Com o modelo, foram capazes de descobrir que o dínamo solar se formou a norte e a sul do equador do Sol. Depois de um ciclo regular, esse dínamo moveu-se em direção ao equador e parou.
Mas, aproximadamente duas vezes a cada 100 anos, o Sol (na simulação) tinha um comportamento distinto: o dínamo solar não seguiu o mesmo ciclo. Em vez disso, agrupou-se num hemisfério sobre o outro.
Neste ciclo alternativo, “o dínamo ficaria num hemisfério por alguns ciclos, e passaria depois para o outro”, explica Matilsky, num comunicado. “Eventualmente, o dínamo solar retornaria ao seu estado original.”
Apesar de este padrão poder ser uma falha do modelo computacional, pode também ser o espelho do comportamento real e desconhecido do dínamo do Sol. Em várias ocasiões, astrónomos viram manchas solares a aparecer num hemisfério solar em detrimento do outro, uma observação que coincide com as descobertas desta equipa de cientistas.