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“Salazarismo era fascismo rural, suave. O que se morreu aqui durante 40 anos morria-se em Itália numa noite”

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Miguel A. Lopes / Lusa

O jornalista José António Saraiva, ex-director dos semanários Expresso e Sol

Salazar “era monárquico”, embora nunca o tenha assumido e a sua ditadura foi “um ‘fascismo rural’, relativamente suave, de brandos costumes”. Quem o diz é José António Saraiva, arquitecto e jornalista conhecido pelas opiniões polémicas, numa altura em que lança um livro sobre a infância de Salazar.

O ex-director do Expresso e fundador do Sol lança o livro “Salazar e a sua Época”, onde aborda a infância do ditador e a sua ida para Lisboa, contando a História do país enquanto vai traçando o retrato do ditador.

E é no âmbito desta obra que dá uma entrevista ao jornal i, onde fala de Salazar como um homem “obcecado com a ordem” e “inspirado pela Igreja”.

Saraiva acredita ainda que “Salazar era monárquico, embora nunca o afirme, até por receio” e diz que tinha “uma pulsão naturalmente conservadora”.

“Também é um pacifista, um homem que tem horror às guerras e revoluções, e isso vai verificar-se em toda a sua vida, até à Guerra Colonial”, uma fase “terrível” da ditadura, como nota.

Contudo, no geral, o salazarismo foi bastante mais “tranquilo” do que em outros países europeus, constata Saraiva. “Nunca quis chamar fascismo ao salazarismo, porque acho que tem outras características – um ‘fascismo rural’, relativamente suave, de brandos costumes“, destaca.

Comparativamente com outros países, a ditadura salazarista “impõe-se de uma forma relativamente tranquila”, refere, apesar de haver “uma censura à imprensa”, um “escola que propagandeia os valores do regime” e “uma polícia política muito entranhada na população, através dos informadores”.

Mas, “por exemplo, durante os anos do salazarismo, morrem cinquenta militantes do Partido Comunista nas prisões, um por ano”; “e morrem entre 80 e cem pessoas de esquerda”, diz.

O que se morreu aqui durante quarenta ou cinquenta anos morria-se em Itália numa noite“, constata, concluindo que “há de facto uma ditadura de brandos costumes”.

“O mago das finanças”

“O salazarismo, como qualquer ditadura, é mau pelo simples facto de ser uma ditadura”, considera ainda Saraiva. Contudo, salvaguarda que o salazarismo é “altamente eficiente” na sua primeira fase.

“Toda a Lisboa moderna que temos hoje é dessa época. É o regime que moderniza as instituições e o país“, diz.

Saraiva também frisa que a instauração da República “é a continuação de um período velho”, “a continuação da monarquia com os mesmos problemas, agravados”. O que “produz efectivamente a mudança” é “a chegada ao poder de Salazar”, constata, salientando que “esse é que é o grande corte, uma ordem nova”.

No elogio a Salazar, o jornalista nota que aparece na cena política com “uma tenacidade enorme”, julgando-se “investido de uma missão providencial e fez o feito notável que é o equilíbrio das contas“.

“Por isso, é reconhecido em todo o país como o salvador, o ‘mago das finanças’, que pode pôr calma nisto. Dá que pensar como é que um civil chega ao poder num tempo dominado por militares. Isso ainda hoje faz confusão a muita gente”, destaca.

Saraiva diz que ainda foi “vítima da ditadura de Salazar” e que teve “alguns artigos censurados”. Mas, apesar disso, assume que a figura do ditador o atrai, até porque se identifica com ele em “características de personalidade”, como o facto de também ser “um pouco distante em relação às pessoas”, de não gostar “das multidões nem das confusões” e de tentar “ter um raciocínio frio em relação a determinados fenómenos”.

Mas “há muitas diferenças”, constata. “Eu sou estruturalmente democrata e Salazar era estruturalmente anti-democrata“, conclui.

ZAP //

31 Comments

  1. Então devemos pedir desculpas póstumas ao Salazar por o julgarmos mal, ou devemos criticá-lo ainda mais porque nem ditador como deve ser foi?
    Se calhar aqui o sr. jornalista hoje conseguia ser um ditador mais à altura do que foi o Salazar, com tanta admiração que tem por ele tenho a certeza que sim

  2. Que grande monte de … o que merece um “bicho” destes??
    A tentar passar a imagem em que o ditador que esteve mais tempo no poder na Europa era um “anjinho”…
    Deviam arrancar-lhe todas a unhas das mãos e dos pés “a sangue frio” como fizeram a um conhecido meu no tempo do Salazar a ver se esse artista tinha o mesmo discurso…
    Este deve ser daquelas famílias parasitas amigas do ditador e protegidas pelo regime que, enquanto o povo vivia na miséria, tinham o país ao seu dispor!…

    • Vivi e estudei no tempo de Salazar. Um tempo de tranquilidade e familiaridade. Só seria mau para os que se armavam em politiqueiros. Hoje, não sei se estamos muito melhor que nesse tempo.

      • “Um tempo de tranquilidade e familiaridade. Só seria mau para os que se armavam em politiqueiros.”
        Só o facto de haver alguém que escreve isto em 2022, já mostra o mal que a ditadura do Salazar fez ao país!…
        Devias ter continuado a estudar para não ficares parado e limitado aos interesses do antigo regime, onde meia duzia de familias disponham do país enquanto o resto do povo vivia na miséria!
        E com o resultado que ainda hoje se vê!…

    • Este palavreado patético diz bem bem da nulidade que é este Eu! Como é possível um indivíduo destes dizer tanta palarmice junta? O António José Saraiva não deveria levar a tribunal este energúmeno?

  3. Hoje em Portugal é fácil ser Ditador, como é fácil ser fascista, estão, pela comunicação social criadas todas as condições para se recuar ao antes do 25 de Abril, é claramente evidente a necessidade de uma comunicação social para qualquer regime politico vingar, antes tínhamos uma ditadura do estado (do Povo) hoje temos uma ditadura de grupos de interesses, veja-se a TVI que apesar da sua deontologia, onde tem assento tudo quanto é Organizações de Peso de grupos económicos, as Ordens e Sindicatos de médicos, enfermagem e outros com antena 25 horas por dia, 32 dias por mês, tem até um programa chamado contra o poder que parece exatamente conversa em família do tempo de Marcelo, em democracia nao pode existir grupos de interesses sociais financeiros, seitas sem valor, que tenham mais poder que um governo democraticamente eleito, existe comunicação social (RTPs e Radio) que não depende, ou não devia depender dos grupos de interesse, económicos ou financeiros, financiado pelos Portugueses, mas acaba por ser pior que os outros.

  4. Ele devia ter passado pelas prisões de PIDE para conhecer de perto a suavidade dos procedimentos ali seguidos.

  5. Saiu do armário a cheirar a naftalina que tresanda! De facto quem é que se pode lembrar de vir defender o “Esteves” desta forma falaciosa como se as pessoas não tivessem memória? O Saraiva só pode estar a querer fazer de nós parvos? Talvez lhe esteja a fazer falta uma “manicurazinha” à moda do Silva Pais para ficar mais consciente!!! É mesmo “inconciente” este senhor como diria o pobre do fascista que até teve como prenda do Hitler um famoso Rollsroice!!!!

  6. Onde se lê “Rolls-Royce” leia-se “Mercedes Benz blindado, a pesar 5000 kilos!!! Claro que o Hitler não ia oferecer nenhum carro que nao pertencesse ao “national” sozialismus!!!

    • Desejo apenas corrigir esta ideia, pois o conhecimento da história é importante. Desconhecer a história, ou seja, os factos e por tal inventar outros que são diferentes e não verdadeiros é desinformação.
      O Mercedes-Benz “Grosser” aqui referido não foi oferecido por ninguém a Portugal.
      Após o atentado a Salazar no Domingo 4 de Julho de 1937, a Polícia de Vigilância e Defesa do Estado encomendou dois veículos blindados Mercedes-Benz 770K W07 Grosser, que chegaram a Lisboa em Abril de 1938. O Prof. Salazar recusou-se a utilizar a unidade que lhe foi entregue, preferia continuar a utilizar o seu velho Buick (embora viesse a ser substituído por um Chrysler Imperial) porque discordou do elevado preço que o Estado português gastou sem a sua autorização e também porque entendia ser impróprio ser visto no mesmo tipo de veículo que os ditadores alemão e italiano, não somente porque denegria a sua imagem (os verdadeiros fascistas sofrem do problema da vaidade e do egocentrismo, doença que nunca afectou António Salazar), como também os desprezava intelectualmente.

      • Salazar tinha dois telefones, um o ficial e outro para chamadas privadas, sobretudo para santa Comba Dão, pagas do seu bolso. Onde é hoje um político fazia uma coisa dessas? Hoje, corruptos parecem que existem a qualquer esquina. No tempo de Salazar, corrupção, nem pensar.

      • “No tempo de Salazar, corrupção, nem pensar.”
        Hahahahaaa… isto a a gozar??
        O regime era todo corrupto, a começar no Salazar que “fabricava” eleições e ainda há tontos a dizer que não havia corrupção!…
        F…

      • Entrei em Portugal em 31 de dezembro de 1973 e a segunda coisa que me ensinaram era como meter uma nota de 50$ suavemente na mão de alguém sem dar nas vistas. Corrupção não havia por não haver imprensa livre

  7. Naquela época também se fumava “Português suave” , que também fazia mal a Saúde e matava !…de aí a “banalizar o Salazarismo , é só admissível para uma certa classe de Saudosistas, mais uma vez , uma cara diz tudo e a dele não deixa duvidas !

  8. Vejam os telejornais e programas de política da TVI e CNN, enquadrem politicamente, no contexto do fascismo, e digam a diferença, um canal que até tem como nome de programa, contra o poder, com todos os condimentos das conversas em Família.

  9. Para quê deixar o comentário? Se vocês não o publicam!!!!! Já não foi a 1.ª vez é de lamentar, esconderem as verdades!!!!
    É triste tal censura aos comentários de verdade dou a cara, mas parece que faz doer os meus comentários!!!!!
    Nunca pensei que o vosso Jornal assim fizesse censura é de lamentar.
    Pois assim comenta quem não dá a cara escondem-se anónimos.

    • Caro leitor,
      Há 186 comentários seus que foram publicados.
      E 192 que foram rejeitados.
      O que “faz doer” nos seus 192 comentários rejeitados não é “a verdade”. Não temos problemas com “as verdades” que diz nos 186 comentários aprovados.
      O que “faz doer” nos seus 192 comentários rejeitados é uma de 3 coisas:
      1. Comentários todos (ou quase todos) escritos em maiúsculas. Isso é GRITAR e faz doer os ouvidos.
      2. Comentários com insultos. “As verdades” não precisam de insultos. Quando deles precisam normalmente não são “as verdades”.
      E, finalmente, no caso do seu último comentário não publicado:
      3. Escrever um comentário com 1200 palavras — 7.493 caracteres.
      Consegue por favor resumir a sua muito prezada opinião, sem insultos, sem maiúsculas, e fazer um novo comentário com um tamanho aceitável?

      • Caro leitor,
        1. Não é uma regra do ZAP, é uma questão de etiqueta. NÂO SE GRITA!
        2. Os comentários referidos neste ponto (que são a esmagadora maioria deles) foram removidos ao abrigo do ponto 7 do Estatuto Editorial do ZAP, que pode ser lido aqui:
        https://zap.aeiou.pt/estatuto-editorial
        3. O comentário referido neste ponto não foi removido apenas por uma questão de mero bom senso. É uma questão técnica. Fazer um comentário de tal forma extenso que é quatro vezes maior que a própria notícia coloca em causa a sua legibilidade / tempo de renderização no browser — e por inerência o direito dos restantes leitores a lê-la. TL,DR.

    • “esconderem as verdades”
      Quem diria que apoiantes de bandidos como o Salazar não se sabem comportar nem tem educação para comentar?!…

  10. Que é ser ditador? Aquele que subjuga um povo em proveito próprio e de quem o apoia.
    Salazar sempre defendeu o povo, até dos que queriam enganá-lo, com os “ideais comunistas” Foi o politico com nascimento mais humilde da nossa História e morreu pobre.
    Foi um governante mandatado por um regime militar o levantamento de 28 de Maio liderado pelo general Gomes da Costa para impor a ordem ao desgoverno dos “republicanos”.

    Se mais não fosse seria no mínimo para lhe prestarmos homenagem.
    Da Obra basta olhar para o lado
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