Reanálise efetuada a pegadas com 3,6 milhões de anos revela a possibilidade da antepassada humana “Lucy” ter um companheiro hominídeo em Laetolil, no norte da Tanzânia.
Os antropólogos que descobriram as pegadas, há cerca de 50 anos, não conseguiram identificar se pertenciam a um hominídeo, a um urso, ou a um macaco. Liderados por Mary Leakey, em 1976, descobriram vestígios de antigos elefantes, rinocerontes e outros animais. Destacaram-se cinco pegadas, com um formato semi triangular e uma sola larga, que estreitavam em direção ao calcanhar.
Mary Leaky revelou no estudo publicado na revista Nature, a 1 de março de 1979, que a criatura à qual pertenciam as pegadas andava de forma “desorganizada, com um dos pés a atravessar em frente ao outro“. Supôs-se que pudesse ser uma espécie antiga de um urso.
Uma nova equipa, ao analisar novamente os vestígios, afirma que há a possibilidade de corresponderem a uma espécie desconhecida de hominídeo bípede. No caso de ser verdade, a criatura viveu no mesmo lugar que a antepassada humana “Lucy“.
O paleoantropólogo e autor sénior do novo estudo, Jeremy DeSilva, acreditava que as impressões de fósseis descobertas em 1978, na mesma camada de cinza vulcânica de Laetolil, eram “muito semelhantes ao tipo de pegadas que (um humano) faria numa praia”.
Ellison McNutt, antiga aluna de DeSilva e médica anestesista da Faculdade de Medicina Osteopática da Universidade de Ohio, leu sobre as pegadas em Laetoli e a suposta origem de urso. Com o objetivo de investigar melhor a situação, a cientista comparou os vestígios com pegadas de urso reais, obtidas no Kilham Bear Center, que reabilita crias de ursos.
A colaboração de Ellison McNutt com o centro permitiu a recolha de pegadas de ursos, com patas do mesmo tamanho que as pegadas em Laetoli, e proporcionou um estudo de comparação.
Após análise, McNutt garantiu que os vestígios não pertenciam a ursos, tendo em conta que estes têm calcanhares estreitos e dedos do pé quase do mesmo tamanho, com dedos exteriores apenas ligeiramente maiores do que os outros.
Os trilhos de Laetoli apresentavam pegadas com saltos largos e um dedo grande proeminente do pé. Os ursos também não têm flexibilidade de anca ou joelho para cruzarem os pés, um em frente do outro.
Jeremy DeSilva, face às novas descobertas da sua antiga aluna, decidiu investigar novamente o local, juntamente com alguns colegas, de modo a obter mais provas que comprovassem a teoria de Ellison McNutt.
O antropólogo encontrou novos moldes de pegadas, com fortes indicações que confirmavam a existência de outro hominídeo bípede. De acordo com as informações recolhidas, verificou-se que a criatura seria diferente de “Lucy”, mostrando que havia “diferentes espécies de bípedes a viver na altura”, explica DeSilva.
No novo estudo, publicado a 1 de dezembro deste ano na Nature, Jeremy DeSilva concorda com a possibilidade da existência de um hominídeo bípede distinto de “Lucy”, mas pretende efetuar mais testes e investigar melhor o local das pegadas — assim que as restrições da Covid-19 o permitam.