Nas colmeias de Melipona beecheii há várias pretendentes ao trono, mas só uma pode ser rainha. Os investigadores falam em “egoísmo”.
Cerca de um quinto de todas as larvas de abelhas Melipona beecheii começam a desenvolver-se como rainhas, mas a colónia só aceita uma. As restantes azaradas são mortas na hora por abelhas operárias.
Os biólogos suspeitavam que as colónias desta espécie produziam rainhas em excesso como uma estratégia evolutiva inteligente para dominar outras colmeias.
No entanto, um novo estudo sugere que isto possa ser apenas fruto do “egoísmo” de larvas individuais em detrimento de toda a colónia.
“Este é um mundo realmente longe de ser perfeito”, resume o autor do estudo, Ricardo Caliari Oliveira, em declarações à revista New Scientist.
“As pessoas pensam que há um design na evolução, mas neste caso as abelhas estão apenas a tirar o melhor proveito de uma situação má. A colmeia está a gastar muitos recursos para produzir novos indivíduos, e tudo o que eles podem fazer depois é desperdiçar esses recursos e matar as rainhas”, acrescentou.
Normalmente, na maioria das colmeias, as abelhas operárias escolhem uma larva para se tornar a rainha, colocando-a numa célula maior e alimentando-a com uma dieta especial. Contudo, as larvas da Melipona beecheii são mais democráticas nesse aspeto: vivem em células do mesmo tamanho e comem o mesmo.
Cientistas suspeitavam que as operárias estariam a alimentar as futuras rainhas com um produto químico chamado geraniol.
Ricardo Caliari Oliveira e os seus colegas questionaram-se se as abelhas escolhiam tantas rainhas para que pudessem espalhar o ADN da colónia para outras colmeias.
Em testes realizados em laboratório — e para surpresa dos investigadores —, descobriram que o geraniol extra não afetou o desenvolvimento das larvas, o que significa que as operárias não estavam a controlar a produção de rainhas.
O estudo não oferece uma nova explicação sobre como é que as larvas “decidem” tornar-se rainhas.
“Para mim, esse ainda é um dos maiores quebra-cabeças da biologia”, diz Christoph Grueter à New Scientist. “É um gene? Uma combinação particular de genes? Uma interação entre certos fatores nutricionais e elementos genéticos? Nós simplesmente não sabemos”.
Ainda que os cientistas falem sobre as larvas escolherem tornar-se rainhas ou serem egoístas, enfatizam que é improvável que estes sejam desejos conscientes das larvas.
“Existe egoísmo genético, mas isso não significa que os indivíduos tenham qualquer tipo de pensamento sobre isso”, acrescentou o investigador da Universidade de Bristol que não participou no estudo.