Proximidade de David Cameron à China gera apreensão sobre o seu regresso ao Governo

The Prime Minister's Office / Flickr

David Cameron

A proximidade de David Cameron à China está a gerar receios sobre a sua imparcialidade enquanto novo Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Em setembro de 2014, o Presidente chinês Xi Jinping inaugurou a construção da Cidade Portuária de Colombo no Sri Lanka, uma parte chave da Nova Rota da Seda.

Este ambicioso projeto de 1,4 mil milhões de dólares, com conclusão prevista para 2041, visa reforçar a importância económica e política de Colombo e inclui um centro financeiro, vilas à beira-mar e uma marina internacional para iates. O objectivo é ajudar a capital do Sri Lanka a rivalizar com o Dubai e Singapura.

No entanto, este desenvolvimento despertou preocupações entre alguns cidadãos do Sri Lanka sobre potenciais impactos negativos, incluindo questões ambientais e o receio de que a gestão deste projecto seja demasiado caro e insustentável. O projecto levanta ainda dúvidas sobre o seu potencial uso militar por parte de Pequim.

Estes receios têm motivado um grande esforço de relações públicas para atrair investidores e apaziguar os críticos. Um dos apoios mais notórios vem de David Cameron, ex-primeiro-ministro britânico que assumiu recentemente o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros.

A promoção desta iniciativa por parte de Cameron está a deixar os britânicos com a pulga atrás da orelha e há quem exija mais transparência sobre os seus interesses financeiros no projecto e sobre as suas relações com a China.

Cameron é citado no site a dizer que a nova metrópole será um “mar de oportunidades” que ajudará a “construir pontes e trazer maior prosperidade para todos”, refere o The Guardian.

O novo chefe da diplomacia britânica também falou em dois eventos para promover o projecto em Setembro. A imprensa do Sri Lanka avança ainda que Cameron terá recebido 210 mil dólares para promover a nova metrópole, mas o escritório do antigo primeiro-ministro diz não reconhecer estes valores.

Dilum Amunugama, ministro da promoção de investimentos do Sri Lanka, revela ao Observer que foram o projecto da Cidade Portuária, apoiado pela China, e a Comissão Económica da Cidade Portuária, do Governo, que contrataram Cameron.

“Foram essas duas partes. Eles envolveram-se com ele e isso foi feito pelo próprio projeto da Cidade Portuária”, afirma, acrescentando que o Governo deseja que Cameron enfatize o papel do Sri Lanka no projecto, para que não seja visto apenas como um empreendimento chinês.

Enquanto primeiro-ministro, Cameron tentou fomentar as relações entre o Reino Unido e a China, incluindo acolher investimentos da Huawei durante o seu mandato. Já fora da política, o novo Ministro parece ter continuado a sua defesa dos interesses chineses, com uma tentativa fracassada de estabelecer um fundo de investimento Reino Unido-China.

No entanto, a postura do Reino Unido em relação à China tornou-se mais céptica nos últimos anos. Um exemplo disso foi a proibição do Governo de Boris Johnson à Huawei na rede 5G do Reino Unido e as preocupações sobre a influência da China no setor de energia nuclear.

Além disso, o envolvimento de Cameron no escândalo do Greensill Capital, que incluiu tentativas de lobby e uma viagem ao deserto da Arábia Saudita, embora não esteja sujeito a investigações criminais, acrescenta-se ao escrutínio que enfrenta sobre os seus vínculos financeiros a países estrangeiros, especialmente com a China.

Adriana Peixoto, ZAP //

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