Pentágono recua: os prisioneiros de Guantánamo são donos das suas obras de arte

O Pentágono pôs oficialmente termo a uma política que impede os prisioneiros de Guantánamo de manterem a sua arte quando são libertados.

A notícia surgiu quatro meses após os atuais e antigos prisioneiros terem escrito uma carta aberta ao Presidente norte-americano, Joe Biden, pedindo-lhe que invertesse a política imposta durante o mandato de Donald Trump e libertasse as suas obras.

Os detidos podem agora levar consigo uma parte das suas obras quando saírem da prisão, disse César Santiago, porta-voz do Pentágono, ao New York Times. O responsável não especificou a quantidade e disse que o Departamento de Defesa ainda considera as obras de arte são “propriedade do governo dos Estados Unidos”.

Os prisioneiros da Baía de Guantánamo – que no seu auge detinha cerca de 700 prisioneiros e agora apenas 34 – têm vindo a fazer arte há anos.

“Estas foram as nossas ferramentas para nos ligarmos às nossas memórias, às nossas vidas anteriores, à natureza, ao mundo, às nossas famílias”, refere a carta, citada pela Smithsonian. “Pintámos a nossa esperança, o nosso medo, os nossos sonhos e a nossa liberdade. A nossa arte ajudou-nos a sobreviver”.

Após as lonas que bloqueavam a vista do mar terem sido retiradas, em 2014, os prisioneiros começaram a fazer arte tendo a água como inspiração. Parte foi exposta em 2017, em Nova Iorque. Acolhida no John Jay College of Criminal Justice de Nova Iorque, as peças incluíam, por exemplo, paisagens marítimas e esculturas de navios.

Pouco tempo depois, o Departamento de Defesa anunciou que os reclusos já não podiam ficar com as suas obras. A proibição foi posta em prática após a exposição, chamada “Ode ao Mar”. Cada uma das 36 obras foi analisada e autorizada pelos militares e muitas foram disponibilizadas para compra através dos advogados.

O Pentágono, contudo, indicou que não tinha “conhecimento prévio de que as obras de arte dos detidos estavam a ser vendidas a terceiros”, encerrando então a exposição, informou a Artnet.

Em outubro, oito antigos e atuais detidos enviaram a carta aberta, apelando ao governo para libertar as suas obras. A carta detalhava como, a partir de 2010, o acesso a novas aulas de arte e materiais deu aos detidos a oportunidade de se ligarem às memórias do mundo exterior. Um dos reclusos disse ao seu advogado que preferia que a sua arte fosse libertada ao invés dele próprio.

“A arte de Guantánamo tornou-se parte das nossas vidas e de quem nós somos. Nasceu da provação que vivemos. Cada quadro contém momentos da nossa vida, segredos, lágrimas, dor e esperança. As nossas obras são partes de nós. Ainda não somos livres enquanto partes de nós ainda estão aprisionadas em Guantánamo”, pode ler-se ainda na carta.

Dos 34 prisioneiros, 20 serão transferidos ou repatriados. “Entre eles estão muitos homens que passaram os últimos anos a pintar, a desenhar e a criar esculturas (..). Alguns acumularam enormes coleções do seu trabalho”, relatou a Times.

ZAP //

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