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Afinal, não é por sermos bípedes que os nossos partos são dolorosos

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A tese de que o bipedismo é a explicação por detrás dos partos dolorosos pode não estar correcta. Um novo estudo aponta o pavimento pélvico como a causa.

Pergunte-se a qualquer mãe como foi o processo de dar à luz e o mais provável é ouvir-se termos como cansativo, doloroso ou difícil. No entanto, este não é o caso para os nossos parentes mais próximos que ainda vivem. Para os macacos africanos, o processo de nascimento é bastante mais fácil.

A justificação mais óbvia desta diferença é que os bebés humanos têm cérebros e cabeças grandes, o que dificulta a saída através de uma entrada pélvica pequena, e este não é o caso para os macacos. Mas o que causou esta diferença nas nossas evoluções?

Durante décadas, a ideia defendida pelos antropologistas era de que o formato da pélvis feminina era resultado de um compromisso entre as exigências da locomoção bípede dos humanos e de dar à luz a bebés grandes.

Apesar de uma pélvis mais estreita ser mais eficiente para andar e correr, uma pélvis mais larga tornaria mais fácil os nascimentos. Esta contradição é muitas vezes apelidada de “dilema obstétrico“.

Mas esta tese está a ser desafiada, em parte devido à maior diversidade nos ramos da paleoantropologia e da biologia da evolução humana. Antropologistas já conseguiram mostrar de forma experimental que o sexo humano não faz diferença na eficiência da corrida e que a locomoção bípede não é prejudicada por uma pélvis mais larga.

É de realçar que os canais de nascimento não são todos do mesmo tamanho, o que coloca também em causa a teoria de que o bipedismo é a razão dos nossos partos dolorosos.

Para tentar responder de uma vez a esta questão, uma equipa de antropólogos juntou-se a um engenheiro num estudo, cujos resultados foram publicados em Abril na PNAS, revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

O estudo testou a hipótese com uma série de modelos matemáticos criados com dados experimentais obtidos através de ressonâncias magnéticas. Esta técnica permitiu aos investigadores medir a pressão colocada sobre pavimentos pélvicos — o conjunto de músculos que formam a base do canal pélvico — de diferentes tamanhos e espessuras.

De acordo com o estudo, a razão para os partos dolorosos pode afinal ser o nosso próprio pavimento pélvico, que tem um papel fundamental para apoiar os órgãos internos e garantir que as grávidas não se tornam incontinentes enquanto o corpo suporta um feto grande.

O pavimento pélvico precisa de ser suficientemente forte para aguentar com o peso a que é sujeito e a pressão feita sobre o abdómen quando tossimos, por exemplo.

Ao mesmo tempo, tem de ser flexível o suficiente para permitir os nascimentos — um compromisso entre a força que impeça a ruptura e a elasticidade que permita dar à luz, concluiu o estudo.

AP, ZAP //

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